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19 de Dezembro de 2016 às 21:05

Aleppo e as derrotas do Ocidente

Aleppo não é apenas um desastre humanitário, igual a muitos outros que têm acontecido no Médio Oriente. Representa também o falhanço da estratégia ocidental para o conflito na Síria.

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A tomada de Aleppo pelas forças de Bashar al-Assad, apoiadas pelas milícias xiitas e pela Rússia, alteram substancialmente a evolução da guerra no país. A condenação unânime do que está a acontecer na cidade por parte do Ocidente não esconde, no entanto, a derrota pesada que os EUA e os seus aliados europeus sofreram na sua estratégia. Que passava por criar uma oposição forte a al-Assad e fazer das tropas curdas o seu exército no terreno, em troca de uma futura divisão da Síria para a criação de um estado curdo. O problema é que esta derrota na Síria está aliada a uma outra (a falência da estratégia ocidental no Iraque, onde o poder está nas mãos dos xiitas) e ao caos na Líbia, onde a intervenção dos EUA e dos países europeus se revelou um desastre total. Na Síria a administração Obama equivocou-se: pensou que a intervenção russa seria um desastre para Vladimir Putin.
Enganou-se. A isso juntava-se a hipótese de Hillary Clinton ser presidente dos EUA, o que aumentaria a pressão sobre a Rússia. Outro erro. Os russos não se atormentaram com as questões "humanitárias", e evitaram que as sucessivas negociações permitissem o reagrupamento dos rebeldes armados por Washington e pelos seus aliados. Por isso é que Aleppo tinha de cair, de qualquer maneira, antes de Donald Trump ocupar a Casa Branca.

 

O discurso de Samantha Power, na ONU, demonstra a frustração dos EUA perante a humilhante vitória das suas teses e apostas. A Rússia espera agora que Trump e o seu secretário de Estado, Rex Tillerson, olhem sobretudo para o combate ao Daesh e ao terrorismo, deixando para depois a situação da Síria, num período pós-Assad. A Turquia percebeu isso. E também compreendeu que a solução dos EUA para os curdos passava por criar uma pátria curda na sua fronteira, algo que não faz a felicidade de Erdogan. Ou seja, a Turquia também abandonou o comboio ocidental que demonizava a Rússia. Em finais de Dezembro, Moscovo recebe um encontro entre Rússia, Turquia e Irão. Um encontro que dispensa Washington, Londres ou Paris. E onde a Rússia procura aproximar Irão e Turquia. Só o futuro de al-Assad os separa. Novas alianças estão a forjar-se no Médio Oriente. E a própria Arábia Saudita está ciente disso. Ou seja, as cartas vão recomeçar a ser jogadas em Janeiro.

Ásia e Médio Oriente: as alianças de Donald Trump

 

Donald Trump ainda não está na Casa Branca mas já são evidentes os seus choques com a China, seja por causa do comércio, seja por causa de Taiwan. Pelo contrário, parece adivinhar-se um apaziguamento das relações com a Rússia. O certo é que das futuras alianças de Trump dependerá também o futuro de regiões como a Ásia ou o Médio Oriente. Ninguém duvida que os EUA, a China e a Rússia nunca serão amigos para sempre; mas será sempre louvável que a sua competição seja pacífica. Por outro lado muitos países temem que os EUA se recolham dentro das suas fronteiras e deixe de ser um actor global. Na Ásia se os EUA decidirem retirar parte do seu poder militar na região, muitos países terão a tentação de se rearmar. Um dos erros da política americana dos últimos anos foi tentar exportar a sua "democracia" para países que não convivem com esse sistema, por múltiplas razões. É o caso da Rússia ou da China.

São três poderes globais em busca do seu lugar neste novo mundo em que já nada está concentrado. Qualquer das três potências parece estar em crise interna, mas continuam externamente a ter um peso geoestratégico determinante, independentemente das tácticas que seguem em cada momento. A evolução dos jogos de poder na Ásia e no Médio Oriente vai depender em muito do que Trump (e a sua equipa dirigente) decidirem, mas em países como a Síria (onde se assiste a uma improvável aproximação entre a Rússia, o Irão e a Turquia) ou as Filipinas já se nota esta mutação global. No Médio Oriente o inimigo comum (o Estado Islâmico) vai levar a que a Arábia Saudita e os países sunitas busquem uma estratégia comum face ao crescente poder do universo xiita. Face a isso como se comportará a nova administração Trump face a estes múltiplos desafios. Irá privilegiar uma doutrina centrada no seu território? Esse é o grande desafio para 2017.

 

Timo-Leste: Oi vende Timor telecom

A operadora brasileira Oi anunciou ter solicitado autorização judicial para vender a sua participação na Timor Telecom ao grupo Investel Communications Limited, do empresário timorense Abílio Araújo, por 62 milhões de dólares. Os dois timorenses interessados no negócio eram Abílio Araújo que tem sócios e capital do Médio Oriente e China e Nilton Gusmão, do grupo ETO. Em causa está a maior fatia de capital da Timor Telecom (54,01 por cento), controlada pela sociedade Telecomunicações Públicas de Timor-Leste (TPT), onde, por sua vez, a Oi controla 76 por cento do capital, a que se soma uma participação directa da PT Participações SGPS de 3,05 por cento.

 

Dívida dos EUA: Japão ultrapassa China

A China deixou de ser a maior detentora de dívida do Tesouro norte-americano, sendo ultrapassada pelo Japão. A China detém agora 1,12 triliões de dólares de dívida americana, um pouco abaixo do Japão. As vendas da China foram importantes nos últimos meses e isso deveu-se em grande parte à venda de dólares pelo Banco Central da China para conseguir suportar o renminbi, que caiu cerca de 15% face ao dólar nos últimos tempos. Este poderá ser o fim de uma era em que a China foi financiando os défices orçamentais americanos.

 

Curilas: pacto Japão/Rússia

A Rússia e o Japão chegaram a acordo para criar um sistema especial para gerir a actividade económica nas disputadas ilhas Curilas, depois de uma cimeira entre Vladimir Putin e Shinzo Abe. Trata-se de uma concessão significativa de Tóquio que recusa há 70 anos a soberania russa. Trata-se de um primeiro passo para um acordo de paz sobre este tema que promete, no entanto, causar dores de cabeça ao primeiro-ministro japonês em casa, já que o Japão considera as Curilas território nacional.
 

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