Opinião
Sim, Dr. Adolfo Mesquita Nunes, o PS foi aceite à direita
O PS é o único partido aceite à esquerda e à direita. Em quatro décadas de democracia, o PS foi o único que governou com todos os partidos do quadro parlamentar.
No Negócios da passada terça-feira, o Dr. Adolfo Mesquita Nunes tenta afirmar uma leitura incorreta sobre o que se passou no Congresso Nacional do PS do último fim de semana.
Querendo cotejar a intervenção de Carlos César, diz que o "PS sai deste Congresso com a convicção de que é o partido central do regime, do sistema, o único que pode governar porque é o único que logra entender-se ora com a esquerda ora com a direita".
Mesquita Nunes não é um político qualquer, vai-nos habituando a critério e juízo fundados, a ir mais além do que a "infantilização" da política típica de uma parte do seu partido. Mas, desta vez, foi ao encontro do circunstancial para fazer esquecer a História.
Carlos César tem toda a razão. O PS é o único partido aceite à esquerda e à direita. Em quatro décadas de democracia, o PS foi o único que governou com todos os partidos do quadro parlamentar, o único que fez acordos em setores centrais com todos os universos ideológicos. Não há, portanto, qualquer incorreção na leitura de César olhando o tempo que decorreu desde abril de 1974.
Claro que Mesquita Nunes não quer nada com este PS. Ele escolhe o congresso da Batalha para entaliscar o PSD e Rui Rio, para estimular o seu espaço vital, para tentar confecionar a Lisboa autárquica passada no Portugal das próximas legislativas. Mas isso não é possível.
Tal como acontece com o CDS, partido que tem mais votos em eleições nacionais que importância local, também o PSD não deixará de ter um melhor desempenho nacional do que o apurado em outubro, do transato ano, na capital. Este desejo de Adolfo, seguido por Assunção, não terá qualquer consequência.
Mas Mesquita Nunes quer olhar para Pedro Nuno e Santos Silva encontrando neles as razões para a não verificação da premissa de César. Aconselha-se mais leitura dos arquivos do Largo do Caldas. O CDS que foi tão monteirista quanto portista, tão freitista quanto pirista, já foi quase tudo e o seu contrário, já foi neoliberal e protecionista, já foi antieuropeu e federalista, também já foi defensor do Estado e adeleiro desse mesmo Estado. Adolfo, que não deixa os seus créditos pelas veredas da angústia, sabe tão bem quanto os mais banais analistas que a vida política é a adequação a cada tempo.
O mais interessante, na sibilina análise de Mesquita Nunes, é o facto de olhar para o chamado voto útil com muita atenção. Ao escrever que "o novo voto útil como que passa a ser nos socialistas" ele provoca a reação reflexa, ele indica aos eleitores do PSD, que não apreciam Costa e não suportam a geringonça, que esse tal voto útil é mesmo no CDS.
Não saberá Adolfo que esta sua proclamação é uma ótima ajuda para o PS. Porque quantos mais votos forem para o CDS, nos círculos mais pequenos, mais possibilidade tem o PS de chegar à maioria absoluta. É por isso que não posso deixar de congratular Adolfo. Força, sustente esse paralogismo de que o voto útil da direita é no CDS, avance, tanto quanto for possível, permitindo que António Costa seja primeiro-ministro com o mais amplo apoio eleitoral.
Ao contrário do que pensa Mesquita Nunes, Costa acredita mesmo "no reformismo, na economia de mercado, na liberdade de circulação, na iniciativa privada, na liberdade económica que está na base da economia dos países com níveis de vida superiores aos nossos". Mas também acredita em muitas outras coisas que se demoraram no marxismo e na teoria social da Igreja. E, já agora, poderá Adolfo perguntar a Francisco Rodrigues dos Santos e a Nuno Mello se eles também acreditam profundamente em tudo o que ele nos diz?
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