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17 de Janeiro de 2017 às 20:05

Os bons exemplos internacionais

Seria fantástico que os bons exemplos internacionais pudessem também ocorrer em Portugal. Vem isto a propósito de uma notícia recente de que o Tesouro britânico baixou novamente a sua posição no capital do Lloyds Bank. Chegou a ter 43% do capital social e agora tem apenas 5,95%.

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Medido em euros, a injeção de capital naquele banco ascendeu a cerca de 23,7 mil milhões de euros. As várias operações de venda de ações já realizadas pelo Tesouro britânico traduziram-se num encaixe financeiro de cerca de 20,8 mil milhões de euros.

 

Se somarmos a este encaixe financeiro a valorização da posição restante, ou seja, caso fosse vendida aos preços atuais das ações, o Tesouro e indiretamente os contribuintes britânicos encaixariam mais 3,5 mil milhões de euros. Portanto, o encaixe da venda da totalidade das ações ascenderia a 24,3 mil milhões de euros. Tal situação representaria um ganho de cerca de 600 milhões de euros.

 

Nos EUA, este exemplo também aconteceu com os bancos em que o Tesouro americano teve de intervir no auge da crise.

 

Seria tão bom que estes exemplos pudessem ocorrer no sistema financeiro português. Mas infelizmente não aconteceram. As variadas intervenções em bancos (nacionalização, recapitalização, resolução…) como o BPN, o Banif ou o Novo Banco não se traduziram em ganhos para os contribuintes. E a própria gestão da CGD nos últimos anos traduziu-se como todos sabemos em fortes prejuízos.

 

Perante esta realidade, fico preocupado quando ouço pessoas a defenderem as nacionalizações, quase 42 anos após março de 1975 (quando ocorreram as grandes nacionalizações).

 

Se as intervenções que existiram tivessem gerado ganhos para os contribuintes portugueses, contra os meus princípios, até poderia aceitar temporariamente a nacionalização de mais um banco. Mas, infelizmente, o resultado da gestão do Estado na banca não pode ser considerado um "benchmark", nem nos tempos atuais nem no período anterior às privatizações.

 

Se recuarmos a 1989, quando se iniciou o processo de privatizações e se nos lembrarmos da situação dos bancos privatizados (BTA, BPA, UBP, BPSM, BFB, BBI, BES, SFP…) em termos de capitalização, verificamos que quando foram vendidos, os bancos apresentavam rácios de solvibilidade muito baixos e que obrigaram os novos acionistas a fazer aumentos do capital social e aumentar rapidamente a rendibilidade.

 

Poderão perguntar: porque não acontecem esses bons exemplos em Portugal?

 

Os critérios aplicados nos bons exemplos internacionais de recuperação de bancos intervencionados são basicamente a escolha de excelentes profissionais conhecedores da realidade bancária; a rápida implementação de processos de restruturação do negócio bancário baseados na venda de ativos, fecho de balcões e redução do número de colaboradores; a implementação de processos rigorosos e independentes de concessão de crédito; o apoio às empresas que efetivamente merecem ser apoiadas e não às empresas "zombie", em que o caminho mais acertado seria muitas vezes a insolvência; a implementação de incentivos ao "management" em função dos resultados conseguidos e acima de tudo a preocupação em terminar rapidamente a intervenção do Tesouro nos bancos e não prolongar a intervenção e a tomada de decisões indefinidamente.

 

Tem sido assim no Reino Unido e nos EUA. Em Portugal, infelizmente não!  

 

Economista

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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