Opinião
Olival: o ónus do sucesso económico
O olival emprega 32.000 pessoas a tempo inteiro e executou 675 milhões de euros no âmbito do PDR 2020, sendo que 30% destes projetos são de jovens agricultores, contribuindo-se assim para o rejuvenescimento do setor.
A confirmarem-se as estimativas do INE, o setor do azeite acaba de registar o recorde de produção dos últimos 80 anos com 900.000 toneladas de azeitona, o que equivale a 140.000 toneladas de azeite. De considerar que 95% deste azeite é virgem e virgem extra, sendo precisamente a qualidade, a vantagem comparativa de Portugal quando em concorrência com os seus mais diretos adversários.
Este percurso de sucesso está relacionado com fatores edafo-climáticos e agricultura de precisão que permitem que o Alentejo seja hoje um dos líderes incontestáveis da olivicultura mundial com uma produtividade por hectare que pode ir até às 12 toneladas quando, no ano de 2000, o país tinha produtividades médias de uma tonelada por hectare. O setor está na linha da frente para responder aos desafios de sustentabilidade, nomeadamente ao Green Deal, garantindo maior produção por hectare, através de ganhos de eficiência sem que para tal se tenha que recorrer única e exclusivamente a um aumento da superfície agrícola, daí falar-se em “revolução tecnológica”.
O setor representa 10% do agroalimentar em Portugal e contribui em média com 620 milhões de euros/ano para a economia portuguesa, já em termos de saldo da balança agroalimentar nacional são 500 milhões euros/ano em exportações. Portugal passou a ser autossuficiente apenas em 2014, quando até 2013, apesar de ser o 4.º maior consumidor no mundo se via obrigado a importar azeite.
O olival emprega 32.000 pessoas a tempo inteiro e executou 675 milhões de euros no âmbito do PDR 2020, sendo que 30% destes projetos são de jovens agricultores, contribuindo-se assim para o rejuvenescimento do setor.
Apesar deste importante contributo para a economia portuguesa, o setor é hoje vítima do seu próprio sucesso quando é chamado a refutar um conjunto de mitos sem sustentação científica que insistentemente têm vindo a ser propalados junto da sociedade.
Aliás, é altura de pensar qual o modelo de discussão que desejamos para a nossa democracia, sempre que se fala em setor agroalimentar. Qualquer modelo de desenvolvimento económico, seja ele industrial, agrícola ou tecnológico tem de ser feito de forma equilibrada e sustentável. Sobre isto estaremos certamente todos de acordo! O que é pouco saudável é a forma como hoje em dia são construídas algumas narrativas desprovidas de qualquer base académica ou científica.
Até meados do século XX as construções intelectuais tinham um tempo de amadurecimento e eram sujeitas ao contraditório até que se tornassem opinião publicada. Atualmente, vivemos outros tempos em que a informação/desinformação viajam a uma velocidade desenfreada, nomeadamente através das redes sociais, antes mesmo de se perceber se estamos ou não perante “fake news”.
O setor não abdica dos seus princípios e tomou uma decisão de fundo que foi a de optar pelo conhecimento científico e racionalidade argumentativa para evitar derivas estéreis ou discussões ideológicas que nada trazem de positivo a este debate. Um estudo isento, produzido por um consórcio internacional de consultoras (Consulai e Juan Vilar Hernandez), está agora disponível e fica claro que o olival é uma das culturas agrícolas com menos consumo de água (3000 m3/ha), que contribui para a descarbonização com 7/8 toneladas/ano/ha, que apenas tem 8% do total do mercado de fitofármacos nacional, apesar de possuir uma área de 360.000 ha e que tem potencial de promoção da biodiversidade.
Hoje, ser stakeholder, e qualquer um de nós poderá sê-lo no papel de agente económico - como é o caso dos produtores de azeite -, político, jornalista, ambientalista ou mero cidadão, é de uma enorme responsabilidade que deve ser acompanhada de grande exigência intelectual e humanística, pois é esse o legado que deixamos para as gerações futuras.