Opinião
Dez anos de companhia
Não podia deixar de dedicar esta crónica ao aniversário do Negócios. 10 anos, a idade favorita de meia ala VIP da Prisão da Carregueira… Peço desculpa, foi do champanhe.
Não podia deixar de dedicar esta crónica ao aniversário do Negócios. 10 anos, a idade favorita de meia ala VIP da Prisão da Carregueira… Peço desculpa, foi do champanhe.
É com muita alegria que dou os parabéns a todos os que, ao longo de dez anos, diariamente, fizeram este jornal. Estes momentos de festa são também de alguma tristeza porque muita gente tende a usar o pleonasmo "há 10 anos atrás".
O Negócios surge no longínquo ano de 2003. No tempo em que todos vivíamos acima das nossas possibilidades. Observe o leitor este exemplo. Ontem, o nosso jornal anunciava "As acções do BCP encerraram a subir 0,80% para 0,1495, tendo tocado nos 0,1509 euros, o que corresponde a um novo máximo de Setembro de 2011". Há 10 anos a notícia era: "As acções do BCP conseguiram hoje uma valorização máxima de 4,79% para os 1,97 euros, valores de Janeiro de 2003". Esta comparação demonstra como estávamos inflacionados. No caso do BCP, ficou provado, mais tarde, a utilização de esteróides. A verdade é que estávamos tão inflacionados que - como nos piores pesadelos germânicos - acabámos por despertar o nazi que havia em nós.
O ideal, para um jornalista de economia, era poder escrever hoje as notícias de 2003. Porque só agora sabemos o que se passava - excepto no caso do BPN. Em 2003, o leitor lia o Negócios e, a seguir, ia fazer um filho. Hoje em dia, mesmo com o progresso da medicina, tal não é possível.
Tirando as entrevistas do Soares dos Santos, tudo mudou. Já não somos esse povo cheio de si próprio que ambicionava ser um Tigre Celta. Hoje estamos cheios de nada e o nosso sonho é ser o Rato Irlandês. Levámos um banho de humildade que afogou o Navegador que havia em nós e perdemos os coches no casino. Tivemos de regressar ao fado. Não fosse a Grécia, a Irlanda, a Espanha, etc., diria que é a nossa sina.
As diferenças entre o Portugal de 2003 e o Portugal de 2013 são inúmeras e evidentes. A começar pelo espaço. Agora, estamos muito mais à vontade. O que perdemos em soberania, ganhámos em sossego. Era gente a mais.
Na primeira crónica, que escrevi no Negócios, assinalei a principal mudança que esta crise trouxe aos portugueses. Deixo o leitor com um excerto dessa crónica, por manifesta falta de ideia de como terminar esta.
"Portugal transformou-se num país de economistas de bancada. Toda a gente gosta de dar um palpite. O ministro das Finanças vem à televisão anunciar as novas medidas e, no mais esconso café de aldeia, o que se ouve é: Tu queres ver que…'tava-se mesmo a ver. O tipo é parvo! Então o gajo vai aumentar os escalões do IRS em vez de diminuir o IVA! (grita para a televisão) Abécula! O gajo pode meter o IVA a descer para incentivar o consumo médio e, em vez disso, vai mexer no IRS que estava a safar-se tão bem. Mete o IVA a descer, estúpido! Ainda bem que para o ano este gajo já cá não está!".
TOP 5
Parabéns da semana
1 Portugal no grupo H do Mundial de Futebol de 2014 - Um grupo complicado: duas potências económicas mundiais - a Alemanha e os EUA - um país do terceiro mundo e o Gana.
2 Afinal, a Martifer só garante 160 postos de trabalho nos Estaleiros de Viana - mas são trabalhadores siameses, garante Aguiar-Branco.
3 O assistente social, José António Pinto, que foi homenageado na AR (no Dia Internacional dos Direitos do Homem), propôs deixar a medalha de ouro no Parlamento em troca por outras políticas - Assunção Esteves mandou expulsá-lo. Assunção deve ter ido a correr beber um copo de aguarrás antes de citar Beauvoir.
4 Parlamento aprova viagem de Cavaco para presenciar funeral de Mandela - o importante é não darem autorização para ele voltar.
5 Falha informática fecha 370 lojas Pingo Doce - Trabalhadores do Pingo Doce festejam 1.º de Maio em Dezembro.