Opinião
De Southampton à City
Sentimos que vivemos um tempo que Portugal não pode perder. Um tempo respeitador do escrutínio popular mas focado no reforço da nossa relação com o mundo.
Há muitos anos participei num debate com um responsável de um regulador financeiro português sobre a importância do turismo do Reino Unido. Ouvi, a páginas tantas, que essa importância era relativa, porquanto do Reino Unido vinham apenas os homens dos estaleiros de Southampton para o Algarve…
Nessa altura, incrédulo, argumentei em sentido contrário, com o engenho possível, mas, confesso, com sucesso relativo.
Anos mais tarde, todos ouvimos e lemos as declarações do antigo presidente do Eurogrupo sobre Portugal. Com objetivos diferentes, mas a mesma linha de raciocínio. Pensei: deve ser um vírus da regulação…
Os anos passaram e é interessante perceber que conseguimos neste tempo consolidar a relação ancestral de Portugal com o Reino Unido, não só no turismo, mas num conjunto vasto de atividades económicas, de Southampton à City em Londres…
Concretizando: segundo o FDI Markets, o observatório mundial de IDE do Financial Times, 2018 foi um ano recorde na captação de projetos de investimento estrangeiro para Portugal! Foram anunciados 99 novos projetos, com um investimento associado de 2,5 mil milhões de euros, que, estima-se, criarão mais de 10.700 postos de trabalho, representando um crescimento de 50% quando comparado com o ano de 2017. IT, hotelaria e "business services" são setores que lideram o número de projetos de IDE, destacando-se a expansão da Google que permitirá a criação de um total de 1.300 postos de trabalho.
Os decisores britânicos são os que mais têm contribuído para esta dinâmica de crescimento, com o Reino Unido a ocupar, em 2018, o lugar cimeiro, à frente da China, Holanda e Espanha. O ano passado o fluxo total de investimento daquele país em Portugal foi de cerca de 900 milhões, representando um crescimento de 18% face ao ano anterior
Sob a coordenação da Portugal IN, e em estreita articulação com diversos organismos da Administração Pública como a AICEP, Turismo de Portugal, IAPMEI, SEF, IRN, CMVM, Banco de Portugal, Direção-Geral dos Serviços Consulares, AT, todos, tem sido possível fazer caminho na relação com o investimento em Portugal. O balcão empresa na hora para estrangeiros é a mais recente iniciativa desta missão, em conjunto com os organismos da Justiça e das Finanças, possibilitando um registo simples e célere de empresas estrangeiras no nosso território.
O forte relacionamento histórico e comercial entre os dois países convocam Portugal não só a mitigar os efeitos do Brexit como aproveitar as oportunidades que dele resultam. Campanhas promocionais dirigidas ao turista inglês, medidas de contingência, programas específicos de captação de investimento e incentivos ao ecossistema tecnológico e digital, são exemplos de iniciativas que permitem posicionar Portugal no exterior como país de primeira linha para o investimento.
E é bom perceber que a tendência global de crescimento de IDE em Portugal tem-se mantido em 2019! Foram já anunciados, no 1.º trimestre, 30 novos projetos de IDE, com um investimento associado de 800 milhões de euros. A liderar a lista de países de origem destes projetos está, mais uma vez, o Reino Unido, com 8 projetos já anunciados para este ano, num investimento de 168 milhões de euros.
Estes números confirmam os mais recentes dados do relatório da Ernest & Young sobre a atratividade de Portugal para captar investimento. As empresas continuam a expressar grande otimismo quanto à atratividade do país, posicionando-o à frente da Alemanha, Reino Unido ou França, sendo que a maioria está confiante que continuará a melhorar nos próximos 3 anos.
Muito já foi feito para tornar Portugal mais atrativo para o investimento estrangeiro! Mas temos ainda um longo caminho a percorrer, para que esta tendência de crescimento não se inverta e para que Portugal consolide a sua posição de destino privilegiado para investir.
Os desafios futuros passam pela reestruturação e capacitação das nossas estruturas consulares e de imigração, diminuição dos custos de contexto e implementação de ferramentas digitais de suporte e apoio ao investidor e aos organismos com competências na matéria.
Sentimos que vivemos um tempo que Portugal não pode perder. Um tempo respeitador do escrutínio popular mas focado no reforço da nossa relação com o mundo.
Presidente da Estrutura de Missão Portugal In