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11 de Maio de 2014 às 20:58

Mais concentração na banca: sim ou não?

Com a aproximação da data do anúncio dos resultados dos testes de stress efectuados pelo BCE, volta-se a falar na banca: rendibilidade, supervisão, necessidade de capitalização, processo de desalavancagem... são temas que voltam a interessar analistas financeiros e economistas em geral.

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Quando se fala em concentração, é bom lembrar que segundo dados de 2012 (os últimos disponíveis no sítio da APB), os cinco maiores bancos a operar no país (CGD, Millennium BCP, BES, BPI e Santander Totta) representavam nesse ano 78,6% do activo do sector (contas consolidadas), 81,4% do crédito a clientes, 80,4% dos recursos de clientes, 81,2% do produto bancário, 76% da margem financeira, 66,3% dos funcionários e 61,2% das agências. Os números de 2013 não são certamente muito diferentes.

 

Ou seja, os 5 principais bancos representam 80% do mercado, pelo que o sector já está bastante concentrado em Portugal, quando comparado com outros países europeus. Será mesmo necessário concentrar mais bancos, especialmente entre os maiores? Entre os bancos médios talvez possam vir a ocorrer operações de concentração mas, entre os grandes bancos, é difícil que aconteçam nos próximos anos.

 

Existem questões que têm de ser clarificadas e processos concluídos. A nível europeu, a união bancária tem de ser uma realidade. A nível nacional, existem bancos que ainda estão sob a protecção do Estado (BCP, BPI e BANIF), o processo de desalavancagem continua, a recessão económica vivida nos últimos anos em Portugal deixou marcas profundas nos bancos ao nível da sua performance e o crédito malparado e em risco continua a aumentar.

 

A banca nacional vive neste momento um problema de rendibilidade e alguns riscos de negócio ainda subsistem. Os bancos continuam a ter de reforçar as imparidades e provisões face às perdas de valor em activos e face ao crédito malparado.

 

Por isso, penso que a concentração não é hoje um tema prioritário para os principais bancos. As suas prioridades são a recuperação da confiança dos agentes económicos na banca, bastante afectada com a crise financeira e a melhoria dos indicadores de performance, nomeadamente, a margem financeira, o produto bancário e o rácio cost-to-income.

 

A economia necessita de bancos que concedam crédito, mas os bancos também necessitam que a economia seja dinâmica, que haja investimento e que as empresas melhorem a sua capitalização. Este é um processo que ainda está no início.

 

A rendibilidade da banca depende dos resultados em operações financeiras, do rendimento de títulos, das comissões dos serviços prestados, mas sobretudo da margem financeira e para esta crescer é necessário conceder crédito.

 

O passado recente também nos mostra que as tentativas de concentração em alguns dos grandes bancos falharam como muitos se devem recordar (aproximação BES/BPI e OPA do Millennium BCP sobre o BPI).

 

O mercado bancário português é pequeno e existem dúvidas se é suficiente para o número actual de instituições bancárias. Naturalmente, alguns pequenos e médios bancos poderão comprar, ser comprados ou fundirem-se. Contudo, o actual enquadramento económico e financeiro do País não favorece este tipo de operações.

 

As condições de financiamento ainda não estão normalizadas, a economia está a dar os primeiros passos no crescimento económico, o País vai acabar em breve o resgate económico e financeiro e ainda não se sabe como o País vai sair do mesmo (saída limpa ou programa cautelar), mas independentemente da forma como o fará, a consolidação das contas públicas terá de continuar nos próximos anos. Portanto, a recuperação da banca vai ser lenta e depender do andamento da economia.

 

Economista, autor do livro Gestão de Activos Financeiros - Back to Basis

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