Opinião
Criptomoedas: riscos subjacentes
As moedas virtuais são apenas isso: virtuais. E, portanto, os investidores e os consumidores têm de estar muito atentos e medir adequadamente os riscos significativos que estas moedas incorporam.
A moda das criptomoedas, ou moedas virtuais, tem-se revelado bastante angustiante nos últimos tempos, tendo em conta a elevada volatilidade destes ativos nas últimas semanas.
A criptomoeda mais conhecida, a bitcoin, subiu em seis meses de 4.000 USD para quase 20.000 USD, mas em poucas semanas viu a cotação cair para menos de 6.000 USD. Uma loucura, mesmo para quem trabalhou em mercados financeiros mais de 25 anos.
No meu percurso profissional na área de mercados e de ativos financeiros, lidei e tive de perceber o risco de diferentes ativos financeiros: obrigações de emitentes "investment grade" e "high yield", ações de empresas de mercados desenvolvidos e de mercados emergentes, ações de empresas com maior ou menor risco de mercado (medido pelo coeficiente Beta), opções e futuros sobre taxas de juro, índices bolsistas, ações, "commodities"…, investimentos alternativos como "private equity", imobiliário e arte, entre outros.
Para perceber o risco inerente a esses ativos financeiros, tive sempre informações, meios técnicos e humanos em quantidade e em qualidade suficiente para elaborar uma análise o mais racional possível: os dados macroeconómicos ou a performance de uma empresa através das suas contas, por exemplo.
Mesmo com meios suficientes para produzir boas análises, muitas vezes os gestores de ativos financeiros e os analistas financeiros em geral ficam "behind the curve".
O investimento em ações também é arriscado. Contudo, o investidor tem informações para poder aferir se determinada empresa pode ou não ser interessante para investir, se progrediu ou se tem perspetivas interessantes face a outras.
E nas criptomoedas, qual é o racional que existe para uma análise fundamental? Qual é o seu valor intrínseco? Custa-me ver algum neste momento!
As moedas virtuais são apenas isso: virtuais. E, portanto, os investidores e os consumidores têm de estar muito atentos e medir adequadamente os riscos significativos que estas moedas incorporam.
Numa época em que há um reforço, para alguns considerado exagerado, de regulação dos mercados financeiros por parte dos supervisores europeus, mas que não consegue impedir dias como a Segunda-feira Negra de 5 de fevereiro de 2018, em que a volatilidade aumentou significativamente (o índice VIX passou de 10 para 50 pontos em dois dias), em que ponto estamos na supervisão dos movimentos com criptomoedas, principalmente ao nível da prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo?
O nível de controlo destes movimentos é adequado? A meu ver, deve ser reforçado.
Hoje existe uma questão fundamental, que é saber-se quem é o beneficiário efetivo nas transações, seja de ativos financeiros como de ativos reais. E essa obrigatoriedade deverá também existir nas transações com as moedas virtuais.
As questões da prevenção e controlo do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo são fundamentais nos dias de hoje.
E as moedas virtuais são um instrumento, tal como outros, que tem de ser devidamente controlado, quanto a movimentos e/ou transações.
Economista
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico