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O grito de Torre Bela 

Há frases que marcam épocas e a declaração aplaudida de Mariana Mortágua perante uma plateia do PS :" Temos de perder a vergonha de ir buscar a quem está a acumular dinheiro" ficará na história do Governo da geringonça. 

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Aparentemente Mariana falava sobre o famoso 1% mais rico do país, mas deixou alarmada uma percentagem significativa da população. A famosa classe média, que ainda poupa, investe e recebe património em herança.

 

O PS e António Costa colocaram, posteriormente,  alguma água na fervura ao esclarecer que o imposto sobre o património será acima do patamar de um milhão de euros, mas a ideia inicial do Governo apontava mesmo para o limiar confiscatório do meio milhão.

 

Não é de estranhar o grito de Mariana Mortágua. O que surpreende é a reação entre dirigentes socialistas a um grito que evoca a memória do PREC, antes de 25 de Novembro de 1975. O PS herdeiro de Soares, o governante que meteu o socialismo na gaveta, o partido da lei Barreto,  que domou a fúria revolucionária da reforma agrária, está agora do outro lado da barricada que liderou na Fonte Luminosa.

 

Enquanto o PS mudou, o Bloco de Esquerda mantém-se fiel às suas raízes,  UDP,  PSR e dissidências do PCP.

 

É uma esquerda que não perdoa o 25 de Novembro e que ainda mantém viva a nostalgia do PREC, o  período retratado no documentário sobre a ocupação de Torre Bela, realizado pelo alemão  Thomas Harlan.  É um filme que conta muito sobre Portugal. E nessa obra que tem momentos notáveis como a discussão sobre a propriedade da ferramenta, com um camponês reticente em partilhar a posse do seu instrumento de trabalho, surge um revolucionário então quase desconhecido, que tinha estado no assalto ao Santa Maria, em 1961, e que inicia na Torre Bela uma nova fase da sua vida. Esse homem é Camilo Mortágua, o pai das famosas gémeas Mortágua, que nasceram já depois desta aventura revolucionária em terras de Manique do Intendente, no concelho de Azambuja.

 

A novidade é que agora, pela primeira vez, essa esquerda tem acesso ao poder. E o grito de Mariana é apenas uma atualização das palavras de ordem que o pai ditava em Torre Bela.

 

Com a anemia económica, este país não tem mais ricos, tem é muitos mais pobres. Aliás, uma parte dos ricos de Portugal tem perdido a poupança em esquemas financeiros desde as aplicações no papel comercial do universo Espírito Santo, obrigações da PT e em aplicações desastrosas na bolsa nacional, desde a PT à banca.

 

Agravar o imposto do património num país em que o IMI das casas novas incide, em inúmeros casos, em valores acima do preço de mercado é mais um esbulho aos contribuintes e um dano a um dos setores que pode dar um contributo positivo à economia portuguesa. O interesse dos estrangeiros em casas portuguesas tem sido uma das novidades do mercado imobiliário. Essa tendência tem sido particularmente relevante na atração de investidores franceses. Basta ver as celebridades que nos últimos tempos escolheram viver em Lisboa, desde Cantona a Monica Belluci . A notícia de novo saque fiscal pode afastar mais investidores, que além de pagarem impostos quando compram património, deixam mais dinheiro em bens e serviços que gastam neste país.

 

Mortágua defende um estado de permanente saque fiscal, que desincentiva a criação de riqueza. Com mais impostos a atacar os supostamente ricos, o Estado vai criar as condições para haver ainda mais pobres.

 

Director-adjunto do Correio da Manhã

 

Este artigo está em conformidade com o novo acordo ortográfico 

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