Opinião
O pacóvio Dijsselbloem
Jeroen Dijsselbloem, que tem um currículo académico quase tão manhoso como o de José Sócrates, chegou a ministro das Finanças da Holanda e acabou por presidir ao Eurogrupo.
E depois de uma monumental ressaca da derrota nas eleições do seu país fez uma declaração infeliz, que revela os preconceitos do Norte europeu, que as clivagens provocadas pelo choque do euro acentuaram.
Basta ler os livros de Rentes de Carvalho sobre a Holanda para perceber que a terra de Erasmo de Roterdão não é só aquele país tão civilizado que ganhou terra ao mar, o que acolheu os judeus portugueses perseguidos pela Inquisição, o povo de tão grandes pintores e do futebol total da laranja mecânica.
Também há muitos pacóvios, racistas, gente que nada sabe do mundo para além dos diques da sua terra, que viaja e gosta de gozar férias no Sul para confirmar os seus preconceitos. E particularmente no Verão, quando chegam à Grécia, Itália, Espanha ou Portugal, ficam com inveja do sol, dos dias longos, do vinho melhor e mais barato e até das liberalidades que milhares de holandesas têm com os nativos.
E este ministro socialista acabou por cair no cliché sobre os países do Sul, os que menos aguentaram o impacto de uma moeda forte. O florim holandês sempre seguiu o poderoso marco alemão, pelo que a adesão ao euro não provocou choques significativos. Pelo contrário, no Sul, o euro disparou as dívidas e reduziu a dinâmica da economia.
Mas o Norte, que ganhou com a moeda única e que demoniza a dívida, olha para o endividamento grego ou português e considera que o mau desempenho económico é resultado de um pecado moral dos povos do Sul, que ainda por cima até parece que se divertem.
Tragicamente, a moeda única que foi pensada para acelerar a integração europeia está a ser um factor de desagregação de um belo sonho.
Director-adjunto do Correio da Manhã