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16 de Junho de 2019 às 17:52

Deem-nos alguma coisa em que acreditar

Que a simplicidade plebeia e a lucidez de António Barreto e a voz do "Zé-Ninguém" João Miguel Tavares dez anos depois possam ecoar na cabeça de quem nos governa.

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"Aquilo que melhor distingue as pessoas não é serem de esquerda ou de direita, mas a firmeza do seu caráter e a força dos seus princípios. Aquilo que se pede aos políticos, sejam eles de esquerda ou de direita, é que nos deem alguma coisa em que acreditar." Esta foi uma das frases mais marcantes de João Miguel Tavares no discurso que proferiu no âmbito das comemorações do 10 de junho.

 

Muitas foram as críticas sobre o tom e o modo desta intervenção livre e desassombrada. Especialmente dos setores da esquerda, o que se compreende. Composta por gente mais ativa e perspicaz, cedo entenderam que este discurso, que pareceu claramente combinado com Marcelo Rebelo de Sousa, tinha um propósito fundamental. Acordar uma direita adormecida, desunida, sem liderança, sem rumo e sem esperança.

 

Confesso que me tornei espectador das cerimónias do Dia de Portugal a partir de 2009 e o responsável foi António Barreto através do discurso que então proferiu. Na altura começou por dizer: "É dia de congratulação. Pode ser dia de lustro e lugares comuns. Mas também pode ser dia de simplicidade plebeia e de lucidez." E concluiu então: "Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil! Não vale a pena, para usar uma frase feita, dar 'sinais de esperança' ou 'mensagens de confiança'. Quem assim age, tem apenas a fórmula e a retórica. Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á. Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos. […]. Pela recompensa ao mérito e a punição do favoritismo, os portugueses seguirão o exemplo com mais elevado sentido de justiça."

 

Também em 2011, em circunstância idêntica, António Barreto voltou ao tema. Disse então: "Pobre país moreno e emigrante, poderás sair desta crise se souberes exigir dos teus dirigentes que falem verdade ao povo, não escondam os factos e a realidade, cumpram a sua palavra e não se percam em demagogia! […] serás capaz de te organizar para o futuro se trabalhares e fizeres sacrifícios, mas só se exigires que os teus dirigentes políticos, sociais e económicos façam o mesmo, trabalhem para o bem comum, falem uns com os outros, se entendam sobre o essencial e não tenham sempre à cabeça das prioridades os seus grupos e os seus adeptos. […] País do sol e do Sul, tens de aprender a trabalhar melhor e a pensar mais nos teus filhos."

 

Que a simplicidade plebeia e a lucidez de António Barreto e a voz do "Zé-Ninguém" João Miguel Tavares dez anos depois possam ecoar na cabeça de quem nos governa e, fundamentalmente, constituam um verdadeiro estímulo para todos os que, tendo-se mantido até agora alheados deste sistema fechado e sem futuro, percebam que cada português conta e que servir o país não é algo que possa ser deixado apenas, citando JMT, "a eles".

 

Jurista

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