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Expansão da educação comprime a dispersão de salários

A probabilidade de automação é maior nos empregos mais rotineiros e com menos interação pessoal, e pode vir a atingir 36% dos empregos e 34% da massa salarial em Portugal.

Filipe S. Fernandes 21 de Fevereiro de 2022 às 15:30
Joana Silva, professora associada da Universidade Católica Duarte Roriz
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Joana Silva, professora associada na Universidade Católica, chamou a atenção para o facto de, nos últimos dez anos, ter existido uma compressão dos salários, que se tornaram mais parecidos. "Sabemos que a expansão da educação foi acentuada, o que tende a comprimir a dispersão dos salários. Quando fomos ver os dados, verificámos que o que levava a essa compressão estava mais do lado das empresas", referiu na intervenção no painel "A opinião dos economistas".

Hoje, para pessoas com as mesmas qualificações, com o mesmo perfil e as mesmas características observadas, a diferença salarial diminuiu entre trabalhar na McDonald’s ou na McKinsey. A razão, segundo Joana Silva, não está no facto "de a distribuição das características das empresas ter mudado em Portugal, mas porque trabalhar numa empresa grande ou numa empresa de tecnologia deixou de se transformar em salário muito mais alto, o retorno dessa opção é agora menor do que era no passado".

Se não tivermos empresas mais fortes, não teremos com certeza empregos melhores, com mais qualificações e de maiores salários. Joana Silva, Professora associada na Universidade Católica

Como assinala a professora da Universidade Católica, "temos de nos preocupar com a educação, com a sua qualidade, que se deve traduzir em maior produtividade". "Mas quando pensamos na educação, temos de nos preocupar igualmente com o lado da procura, com as empresas, com a inovação, até porque a produtividade é gerada no tecido produtivo. É importante termos boas empresas, muito produtivas, empresas maiores, que tendem a pagar melhores salários, a ter mais facilidade em ir para os mercados internacionais. Temos poucas empresas grandes e precisamos de ter mais."

Respostas à automação

Na sua intervenção, Joana Silva falou ainda da automação e das estimativas sobre o seu impacto no emprego. A economista observou que a probabilidade de automação é maior nos empregos mais rotineiros, com menos interação pessoal e que normalmente estão no meio da distribuição de qualificações, enquanto os que estão em baixo e com mais interação pessoal são mais poupados à automação. "Calculámos a probabilidade de cada emprego ser automatizado, e chegámos à conclusão de que 36% dos empregos estão em risco nos próximos anos", disse Joana Silva. Para ela, a resposta a esta mudança está na formação profissional. "É preciso acreditar que as pessoas, mesmo que já não tão jovens, são capazes de se reconverterem, por exemplo, através da formação profissional de qualidade na empresa, para dar um exemplo. Os retornos quando a formação é bem feita são muito altos." A seguir a qualquer crise há criação de emprego, mas os empregos criados já não são os mesmos empregos. É necessário, frisa, que as pessoas encontrem um emprego na nova economia, o que implica a sua requalificação.

Neste contexto, Joana Silva refere um estudo que mostra que as pessoas a partir de uma certa idade - 50 a 55 anos - tendem a ter uma diminuição da produtividade. Em Portugal, este ponto de viragem existe para a produtividade, mas não existe para o salário, "e isto é um problema", refere. No entanto, nos setores mais tecnológicos "esse ponto de viragem é mais tardio, ou seja, a tecnologia pode também tornar as pessoas mais produtivas mais tempo, permitindo alterar a sua função". "As pessoas têm de ser flexíveis e requalificar-se, mas podem continuar produtivas mais tempo".

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