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Economia portuguesa precisa de marcas globais

Carlos Ribas, responsável pela Bosch Portugal, sublinha que o nosso país está a criar talento na proporção certa, nas áreas certas, mas falta criar riqueza nas marcas. Marcas fortes fazem a grande diferença, defende.

21 de Fevereiro de 2022 às 17:00
Carlos Ribas, da Bosch em Portugal, quer mais academia nas empresas. Duarte Roriz
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Como responsável de uma empresa que tem fábricas em Braga, Aveiro e Ovar, e serviços em Lisboa, Carlos Ribas afirma que "estamos a aumentar a produtividade enfrentando a escassez de mão de obra e a competitividade que há na captura de recursos qualificados, o que está a fazer com que haja uma inflação substancial do salário em algumas atividades". "O que é ótimo, o salário é uma componente importante de uma vida digna", sublinha o gestor.

Empresas como a Bosch têm de competir com a concorrência, sobretudo nas novas tecnologias, como o machine learning e a big data. "A concorrência nestas áreas de conhecimento é muito grande porque os recursos existentes são escassos para as necessidades de negócio. Por isso, somos obrigados a fazer revisões salariais extraordinárias para conseguir ter e manter o talento, que mesmo assim às vezes nos escapa", assume Carlos Ribas, acrescentando que, no essencial, Portugal está no bom caminho na qualificação dos recursos. "Tem sido feita uma aposta muito forte no ensino, na formação das pessoas, na qualidade do ensino, que é acima da média. Começámos tarde, mas a recuperação está a ser efetivamente significativa."

O papel das empresas

Falando no âmbito do painel "Uma visão para o futuro", o responsável da Bosch Portugal sublinhou que "quem tem de levar a economia para a frente são as empresas, quem tem de criar emprego e riqueza são as empresas". "Mas o Governo tem de garantir as condições para o conseguirmos fazer, isso é essencial", alerta.

Neste contexto, Carlos Ribas lembrou que temos uma grande percentagem de empresários que não têm qualificações em gestão. "São fantásticos empreendedores, fazem coisas absolutamente fabulosas, mas depois falta-lhes a continuidade, a inovação permanente, a otimização contínua da cadeia de valor, porque não têm a formação para fazer esse trabalho, nem, muitas vezes, a contratam."

O representante da Bosch salientou que essa falta de capacidade de gestão faz com que invistam menos em inovação, quando esta deve ser contínua. Por exemplo, na Bosch, "entre 8 e 10% da faturação é investida em inovação, na criação de coisas novas". Não tenho a certeza de que grande parte das empresas portuguesas faça isso."

Carlos Ribas aconselha que as empresas promovam a entrada da academia nas suas fábricas. "Temos parcerias com a Universidade do Minho em Braga, com a Universidade do Porto em Ovar, com a Universidade de Aveiro em Aveiro, e temos parcerias com universidades de Lisboa." No seu entender, "é fundamental que a academia vá para dentro das fábricas, que se desenvolvam projetos conjuntos, que levem o conhecimento da academia para as empresas, que mostrem às pessoas da academia o que é uma empresa, onde é que se gera capital, onde se cria dinheiro, e onde se transforma a produtividade."

O Estado e as marcas globais

"O Estado tem de passar uma mensagem de credibilidade, o que nos últimos anos nem sempre aconteceu", advertiu Carlos Ribas. No seu entender, tem de haver uma maior celeridade nos processos. "As empresas não podem estar à espera e depois ter respostas ambíguas, ter um sim, mas…, que há sempre um risco, que a lei permite fazer isto ou aquilo em determinadas situações, mas que há um risco de isto e isto acontecer", sublinhou.

Temos conhecimento em certas áreas, em certas fatias da cadeia de valor, em informática, nos moldes, na eletrónica, no desenvolvimento e gestão de projeto, mas onde se ganha o dinheiro a sério é no fim da cadeia de valor Carlos Ribas, Representante da Bosch em Portugal

Uma das fraquezas da economia portuguesa é, segundo Carlos Ribas, a falta de marcas globais. "Temos conhecimento em certas áreas, em certas fatias da cadeia de valor, em informática, nos moldes, na eletrónica, no desenvolvimento e gestão de projeto, mas onde se ganha o dinheiro a sério é no fim da cadeia de valor. Não temos nenhuma empresa em Portugal em que possamos cobrar IRC sobre 200 mil milhões de euros."

Neste contexto, comparou o PRR - que tem 16,6 mil milhões de euros para investimento - com o plano de investimento de uma empresa de semicondutores, a SMTC, que vai investir 100 mil milhões de dólares em cinco anos. "São escalas completamente diferentes quando temos uma empresa que faz um investimento que é sete, oito vezes mais do que o valor total que vem para ajudar o investimento em Portugal."

Carlos Ribas concluiu que "o talento está a nascer na proporção certa, nas áreas certas, mas a criação de riqueza que nos falta está nas marcas, são elas que fazem a grande diferença".

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