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Economia nacional tem desafios estruturais

José Maria Pimentel, economista do Banco de Portugal, considera que o determinante mais profundo do desenvolvimento a longo prazo, e sobre o qual nos devemos focar, é a educação.

21 de Fevereiro de 2022 às 16:00
José Maria Pimentel, Economista do Banco de Portugal Duarte Roriz
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A importância da inflação é uma pressão do lado da oferta em que a "toolbox" do Banco Central Europeu (BCE) tem pouca margem para atuar. Por isso, "é difícil ao BCE reagir a esta crise da inflação e tentar influenciar as expectativas, porque uma vez que as expectativas vão num determinado sentido, é difícil reverter essa evolução". "Por isso é que a inflação é um jogo tão difícil de jogar", considerou José Maria Pimentel, economista do Banco de Portugal e autor do podcast "45 Graus".

Os próprios governos também estão limitados na capacidade de combater a inflação, por esse motivo. Para José Maria Pimentel, "a inflação é um desafio importante dos tempos atuais, mas não é o único, porque existem na economia portuguesa vários desafios estruturais". Muito foi feito, mas há muito que é preciso fazer para enfrentar estes desafios, sublinhou. "Para uma economia como a portuguesa, que está numa união monetária, o PRR é a prioridade." E como "o PRR é um programa que justamente estimula a procura, há um conflito entre objetivos de ciclo, como a inflação, e objetivos estruturais".

O enigma das moratórias

Em relação aos efeitos da pandemia no futuro, o economista disse que há razões "para ter uma atitude moderadamente otimista". Referiu que a resposta portuguesa à crise pandémica apostou mais em moratórias do que em linhas de crédito, ao contrário de outros países. "Isso também significa que foram mais extensivas, mais generosas, e mais fáceis de aceder, e, portanto, a qualidade creditícia média das empresas que a elas acederam tenderá a ser materialmente superior à de outros países, embora sendo certo que não o saberemos até ao destapar da caixa", sublinhou.

É difícil ao BCE reagir a esta crise da inflação e tentar influenciar as expectativas, porque, uma vez que as expectativas vão num determinado sentido, é difícil reverter a evolução. José Maria Pimentel, Economista do Banco de Portugal

Na sua reflexão, José Maria Pimentel sublinhou que a educação é "o determinante mais profundo do desenvolvimento a longo prazo e sobre o qual nos devemos focar". "Fizemos progressos notáveis nas últimas duas décadas, não só na extensão da educação, mas também na própria qualidade como podemos avaliar pelos ‘rankings’ PISA da OCDE", destacou. O economista assinalou ainda que existe uma certa "desarticulação entre a formação e o mercado" e alertou para a necessidade de investir mais em áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). "Não estamos mal posicionados mas, provavelmente, nessas áreas não temos o nível adequado ao que queremos que seja o perfil da nossa economia."

Se a população jovem está mais escolarizada, ainda existe metade da população adulta que não tem o ensino secundário, o que é o dobro da média europeia. "Só há duas maneiras resolver esse problema. Uma é esperar décadas até que haja uma renovação total da população, outra insistir na educação dos mais velhos, na qualificação das pessoas que já estão no mercado trabalho."

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