Outros sites Medialivre
Notícia

Solvência II prejudica investimentos de longo prazo das seguradoras

As seguradoras são o maior investidor institucional da Europa, com o equivalente a cerca de 60% do PIB da União Europeia, e são essenciais para a recuperação económica e ao crescimento sustentável da Europa.

02 de Novembro de 2020 às 15:00
Michaela Koller, diretora-geral da Insurance Europe.
  • Partilhar artigo
  • ...
O impacto covid-19 demonstrou que os seguros se adaptam às circunstâncias nacionais e às dinâmicas específicas de cada mercado. Mas, "é muito cedo para tirar conclusões sobre o impacto que a covid-19 teve no setor de seguros, principalmente em termos de sinistros e prémios futuros, pois isso dependerá em grande parte da evolução da pandemia e qual o seu impacto na economia", afirma Michaela Koller, diretora-geral da Insurance Europe.

Esta instituição é "a voz das seguradoras europeias", diz Michaela Koller, e reúne as associações nacionais de seguradoras, e representa 95% do total de prémios de seguros na Europa junto dos legisladores e reguladores na Europa e a nível internacional em termos de regulação e cooperação.

Considera que a resposta das seguradoras à pandemia está relacionada, em muitos casos, com a sua capacidade de operar de forma digital, que foi impulsionada pelo investimento contínuo das seguradoras em tecnologia e na digitalização, para facilitar a distribuição, a gestão de sinistros, o apoio ao cliente. Esta experiência realçou a importância de garantir "a existência de um ambiente legislativo e regulamentar, tanto a nível europeu como nacional, que seja compatível com o digital e adequado para o futuro, especialmente tendo em conta que o crescimento da digitalização na sociedade", referiu Michaela Koller.

Mudanças em Solvência II

Para a diretora-geral da Insurance Europe, "de uma perspetiva prudencial, a indústria de seguros da UE resistiu bem à crise, com as seguradoras geralmente mantendo a sua solvência. De acordo com a EIOPA, a taxa de cobertura da margem de solvência da indústria seguradora europeia foi de 225% no primeiro trimestre, apesar da pandemia.

A epidemia também foi o primeiro teste real ao regime de Solvência II da União Europeia, que na sua estrutura, de uma forma geral, funcionou bem, "mas, a recente volatilidade do mercado induzida pela covid-19, confirmou as nossas preocupações de que o Solvência II pode exagerar o impacto dos movimentos de curto prazo dos mercados financeiros nos balanços e solvência das seguradoras. Este é um aspeto, entre outros, que deve ser examinado durante a revisão em andamento do Solvência II".

Michaela Koller sublinha que o Solvência II "é excessivamente conservador, contém falhas nos requisitos que se relacionam principalmente com os negócios de longo prazo e impõe encargos operacionais desnecessários às seguradoras europeias". Acrescenta que "tem em implicações na oferta de produtos de poupança e reforma de longo prazo, incluindo os garantidos que os clientes valorizam, e que podem desempenhar um papel importante na abordagem em desafios sociais, como o envelhecimento da sociedade".

O Solvência II gera ainda restrições aos investimentos de longo das seguradoras, que "são essenciais para a recuperação económica e ao crescimento sustentável da Europa". Esta questão é particularmente importante para a economia europeia, quando as seguradoras são o maior investidor institucional da Europa, com mais de dez biliões de euros de ativos sob gestão, o que equivale a cerca de 60% do PIB da UE. "Portanto, acolhemos com grande satisfação o objetivo da Comissão em seu plano de ação da União dos Mercados de Capitais (CMU) de avaliar, como parte da revisão do Solvência II, o quadro regulatório do investimento de longo prazo pelas companhias de seguros", diz Michaela Koller.

Uma das críticas é ao regulamento de pacotes de produtos de investimento de retalho e de produtos de investimento com base em seguros, que "tem várias deficiências". O DIF (Documento de Informação Fundamental) "aplica o mesmo padrão de divulgação prescritivo a uma ampla variedade de produtos muito diferentes. No entanto, na prática, aplica-se principalmente a produtos de seguros. Como é muito prescritivo, o DIF não capta as principais características dos produtos de seguro e, como resultado, deturpa certas informações que são importantes para investidores do retalho".

Os seguros em Portugal  A conferência "Os Seguros em Tempo de Emergência" realiza-se a 3 de novembro de 2020 e é uma iniciativa do Jornal de Negócios com o patrocínio da Liberty Seguros e o apoio do Grupo Ageas Portugal, i2S e Prévoir. Tem início pelas 16 horas e conta com a comunicação "Os Seguros em Tempos de Emergência" de Michaela Koller, diretora-geral do Insurance Europe, e um debate sobre "Estado do Setor e Desafios" com Celeste Hagatong, presidente da COSEC, José Galamba de Oliveira, presidente da APS, e Alexandre Ramos, membro da equipa executiva e technology leader da Liberty Seguros. Segue-se o painel de debate "O Digital é a Chave Hoje?", com Ângelo Vilela, country head of digital do Grupo Ageas Portugal, Luiz Ferraz, mandatário-geral da Prévoir-Vie, e a i2S. Os debates são moderados por André Veríssimo, diretor do Negócios. O encerramento é feito por Maria Margarida Corrêa de Aguiar, presidente da ASF.
ASSISTA EM DIRETO EM negocios.pt 
Mais notícias