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Rita Travassos: “90% dos acidentes rodoviários são causados por decisões dos automobilistas”

Com os veículos autónomos, a condução será quase sem falhas, o que reduzirá a sinistralidade e o preço dos seguros. Nessa altura, “as seguradoras podem oferecer uma gama ainda maior de proteção, por exemplo, contra os ataques cibernéticos”, refere Rita Travassos.

24 de Novembro de 2021 às 14:00
Rita Travassos diz que os veículos autónomos terão um impacto significativo na redução da sinistralidade. Celestino Santos
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"Estamos de facto perante um retomar do risco associado à circulação automóvel com níveis de frequência equivalentes aos do período pré pandemia" e "a maior agressividade do mercado é também factual e, consequência de um setor que se encontra em contração", sustenta Rita Travassos, responsável de Operações Automóvel do Grupo Ageas Portugal. Ecoa uma das preocupações do regulador, a ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões), que considera que, com a retoma, há um risco de ressurgimento da pressão competitiva que pode criar problemas de sustentabilidade técnica do negócio.

Segundo a análise de Alexandre Ramos, Chief Information Officer (CIO) da Liberty na Europa Ocidental, "em média, a gravidade dos sinistros automóvel e a mobilidade atual atingem já níveis superiores aos registados no contexto pré-pandemia. No entanto, será necessário aguardar pelos números dos próximos meses para conseguir fazer um balanço do ano e mais concretamente dos últimos dois semestres para aferir como os portugueses se comportaram nas estradas. Para já, constatamos um maior fluxo e uma maior severidade dos acidentes".

Alexandre Ramos não tem dúvidas "que a maturidade e conhecimento técnico do setor serão armas suficientes para que a sustentabilidade do seguro automóvel não seja colocada em risco".

O mercado e a sinistralidade

Nos primeiros nove meses de 2021 a produção do seguro automóvel foi de 1 178 milhões de euros, mais 0,75%, do que no mesmo período de 2020, em que o valor foi de 1 169 milhões de euros. O que confirma uma uma certa estagnação do mercado de seguro automóvel desde 2019, quando teve um volume de negócios de 1 525 milhões de euros, e 2020, em que se registou um volume de negócios de 1 568 milhões de euros, representado cerca de 33,4% do mercado de seguros não vida. Mas entre 2016 e 2020 o mercado do seguro automóvel cresceu 19,8%.

Entre os segmentos de negócio mais relevantes dos seguros em Portugal, o seguro automóvel foi o que sofreu o maior impacto das medidas de confinamento, aplicadas em resposta à propagação da pandemia de covid-19, com a redução abrupta da circulação rodoviária, o que se repercutiu na diminuição dos custos com sinistros em cerca de 13,6% face 2019, baixando de 75,6%, a média desde 2016, para 63,5%, segundo dados da ASF.

O regulador explica que a taxa de sinistralidade não teve ainda valores mais baixos porque os valores de 2019 foram "significativamente influenciados pela ação de reforço extraordinário de provisionamento efetuada por um operador".

Em 2020, a melhoria significativa do desempenho técnico global do seguro automóvel, que se ficou a dever a fatores transversais a todo o mercado, observou-se em quase todos os operadores, tendo apenas uma entidade registado um ligeiro prejuízo, segundos os dados da ASF. O seguro automóvel abrangia em 2020 8 062 594 veículos seguros, 82,9% ligeiros e 64,1% com mais de dez anos.

A tecnologia e o seguro

Os automóveis têm cada vez mais tecnologia que ajuda a condução e que tem a sua realização máxima na futura condução autónoma. Segundo Rita Travassos, "a tecnologia pode ir muito além do que se espera já que os carros inteligentes, não só trazem extrema praticidade aos seus proprietários como também podem causar uma grande transformação na indústria de seguros, já que 90% dos acidentes rodoviários são causados por decisões dos automobilistas".

Acrescenta que "tendo os veículos autónomos uma condução quase sem falhas, os impactos na redução de sinistralidade seriam muito significativos e, consequentemente, no preço do seguro. Por outro lado, a partir do momento que os carros autónomos entrarem em comercialização, as seguradoras podem começar a pensar numa gama ainda maior de proteção, como, por exemplo, contra os ataques cibernéticos".

Alexandre Ramos reconhece alguns destes sistemas de segurança ou auxílio à condução são úteis na prevenção de acidentes, mas os dados não são suficientes para se tirar conclusões relevantes. "A curto prazo, a incorporação de tecnologia nos veículos em circulação traduz-se num incremento de custos médios e prolongamento do período de reparação. Os efeitos da incorporação desta tecnologia sentir-se-ão apenas a médio/longo prazo, uma vez que a idade média do parque automóvel em Portugal é elevada".

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