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O ponto fraco de Portugal é a falta de poupança

Uma das lições a retirar desta crise é que muitas famílias, com um mês de quebra de rendimento, ficam com problemas, por isso é necessário criar maiores e melhores incentivos à poupança.

29 de Abril de 2020 às 14:36
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"No âmbito da Médis fizemos muitas ações que não estavam contratualizadas como os testes à covid-19, simplificando muito os processos, alargando as coberturas, reduzindo as franquias, eliminando carências sobretudo para profissões mais expostas ao vírus", referiu Nelson Machado, CEO Vida e Pensões e membro da comissão executiva do Grupo Ageas Portugal.

"Mas tenho a ideia de que o fizemos todos, como indústria reagimos muito bem. A EIOPA foi, desde o primeiro momento, muito presente, ativa, sensível e com uma enorme capacidade de se adaptar a esta nova realidade."

Mesmo quando surgiu a sugestão de facilitar os resgates de PPR por motivos ligados ao lay-off e às consequências económicas da crise, a preocupação das seguradoras foi, segundo Nelson Machado, simplificar o mais possível e implementar a decisão.

"Não houve ninguém que tivesse procurado encontrar algum entrave legal, e era facílimo arranjar pretextos para não pagar imediatamente. Mas os pretextos que encontramos foram para pagar imediatamente", sublinha Nelson Machado.

"Ainda há poucos resgates, pelo menos na nossa empresa, a materialidade ainda não é muita, mas depende muita evolução da situação", considera Nelson Machado. Haverá um balanço que as pessoas vão fazer entre a necessidade de antecipar o resgate ou se conseguem aguentar sem pôr em causa o que foi a razão por que foi criado o PPR, "e que é a poupança futura no momento em que mais se vai precisar, que é quando se reformar, porque esta não vai a única crise porque se vai passar".

O drama da poupança

Na sua análise sobre a forma como se enfrentou a crise pandémica, Nelson Machado disse que o país mostrou uma grande capacidade de adaptação, de respeito, de comportamento cívico mas, mais uma vez, "o país é apanhado com uma enorme ponto fraco que é o seu fraco nível de poupança enquanto Governo, empresas e famílias".

As principais preocupações das pessoas e das instituições são com a saúde e como regressar a uma vida mais normal. Mas depois de resolvidas estas prioridades, é necessário fazer uma reflexão sobre a poupança que anda à volta dos 4% do rendimento disponível.

Para Nelson Machado, "se alguma lição para o longo prazo surge desta crise é, de facto, a necessidade de termos níveis de poupança maiores e de criar condições fiscais, entre outras, para as pessoas e as famílias poderem poupar mais. O que se vê é que muitas famílias, com um mês de quebra de rendimentos, ficam logo atrapalhadas".

Concluiu referindo, "esta crise é muito diferente em termos de liquidez, as empresas, as famílias e o Estado estão melhores do que em 2007. Mas a taxa de poupança não melhorou nada, exceto nos dois piores anos da crise quando a troika esteve em Portugal, em que o desemprego chegou aos 18%, em que as pessoas se assustaram e começaram a poupar mais"

Na crise anterior, 2007-2013 os bancos tinham 170% dos depósitos emprestados à economia, "tinham um problema de liquidez brutal, quando os spreads aumentaram, quando a economia mundial achou que Portugal não podia pagar, as linhas de crédito fecharam e houve uma crise de liquidez da banca", resume Nelson Machado.

Hoje é diferente, "temos os bancos muito mais saudáveis tanto em capital como em liquidez, com um rácio de 85% de empréstimos sobre depósitos, portanto os bancos não têm problema de liquidez, que rapidamente ficaram dependentes do BCE para continuar a funcionar", afirma Nelson Machado.

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