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Há um problema de falência do sistema porque faltam respostas

“As pessoas não estão apenas preocupadas com pensões, as pessoas querem serviços, com respostas concretas. Temos um problema muito sério de falência do sistema porque faltam respostas”, considera Paulo Guimarães.

Filipe S. Fernandes 08 de Novembro de 2022 às 15:00
Vítor Chi
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"Há uma ausência total de visão integrada e holística das políticas públicas sobre a longevidade. O que existe são medidas avulsas, desconectadas, inconsistentes, temos um enquadramento jurídico de pouca qualidade", considerou Paula Guimarães, coordenadora do Projeto Autarquias que Cuidam do IPAV. No seu balanço considerou que "a última legislação que veio a público nos últimos três anos é catastrófica, do ponto de vista da descoordenação, das lacunas. Foram aprovados, por exemplo, dois regimes que não se entendem entre si, o regime do maior acompanhado e o estatuto do cuidador informal".

Acentuou a urgência da mudança que deve ir além da mudança nas prestações sociais do regime contributivo e não contributivo do sistema previdencial, e enfrentar "os problemas muito sérios com o sistema de cidadania e com o sistema de ação social", salientou Paula Guimarães. Acrescentou que "as pessoas não estão apenas preocupadas com pensões, as pessoas querem serviços, com respostas concretas. Temos um problema muito sério de falência do sistema porque faltam respostas".

Paula Guimarães pede coragem política. "Precisamos de mudar as políticas de cooperação, as respostas sociais não podem continuar a ser geridas por dirigentes voluntários com boas intenções, a maior parte, sem qualquer capacidade para gerir o quer que seja. Não podemos continuar a ter respostas sociais completamente idadistas, fechadas em si próprias, pouco flexíveis, definidas há 20 anos e que não sofreram nenhuma alteração", disse Paula Guimarães.

As próximas gerações

Na sua análise, as mudanças deveriam ter em conta "o que é que se pode fazer agora para as pessoas mais velhas, que estão a atravessar o caminho das pedras do que é envelhecer em Portugal". A outra vertente nas mudanças é a longevidade no futuro. "O perfil das pessoas envelhecidas no futuro será diferente, não necessariamente melhor, porque as pessoas têm expectativas de viver a longevidade de uma forma diferente mas não vamos ter condições financeiras e não vão conseguir viver nas estruturas sociais e nos equipamentos que existem neste momento", alerta Paula Guimarães.

"A maior parte das pessoas não pensa no futuro, somos um povo de cigarras, não temos a noção de que temos de planear o futuro em várias vertentes desde a financeira à jurídica, a habitação, da relação social", disse Paula Guimarães. Deu o exemplo do testamento vital, que foi aprovado em 2012, e só foi utilizado por quarenta e quatro mil cidadãos.

Paula Guimarães defende que se tem de educar as pessoas para a longevidade, de fazer o seu o empoderamento, ensinando-as a fazer planos de poupança-reforma, seguros para a longevidade, a fazer opções financeiras para a sua própria proteção, ensinar a desenvolver as suas relações sociais, a planear o futuro através de mandatos quanto ao acompanhamento.
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