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O CEO da Tranquilidade | Generali considera que o setor da saúde enfrenta "um dos períodos mais duros da sua história" no país. A seguradora, que tem uma quota de 15% na área, pretende evoluir na cobertura da saúde mental porque, como lembrou Pedro Carvalho, Portugal é o 5º país da União Europeia com maior prevalência destas doenças do foro psiquiátrico e 18% dos portugueses são já afetados por estas patologias.
Como analisa o estado da saúde em Portugal?
À semelhança de outros países europeus, o setor da saúde em Portugal está a enfrentar um dos períodos mais duros da sua história. Se já havia sinais de que os desafios no setor se avolumavam antes da covid-19, a pandemia foi o teste de fogo. Os recursos físicos e, destacaria, os recursos humanos foram levados a limites extremos.
Apesar de termos superado as diferentes vagas da pandemia com sucesso, em muito graças ao esforço das pessoas e à nossa proverbial capacidade de adaptação e resiliência, os custos estão à vista, sendo em última instância os mais evidentes a saída de profissionais da saúde para o setor privado e para o estrangeiro, com o agravamento da falta de capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde.
Do lado dos privados, temos assistido a uma resposta através da inovação e das novas tecnologias, e pela capacidade de atração de recursos e talento.
Garantir o acesso universal aos cuidados de saúde é um imperativo, e a resposta deverá passar por um sistema de saúde com foco na qualidade dos serviços.
Os seguros fazem parte do ecossistema da saúde, trabalhamos em rede e em complementaridade com o SNS, conseguindo assim garantir cuidados à população de forma acessível. Por outro lado, e indo mais a montante, fomentamos hábitos de vida saudáveis (alimentação, exercício, bem-estar emocional).
Alargaram a vossa oferta de seguros de saúde?
Para além dos seguros convencionais que já oferecíamos na Tranquilidade | Generali, estabelecemos uma parceria com a Fundação Champalimaud, focada no diagnóstico e prevenção do onco-risco. A maior longevidade das populações e o consequente aumento das doenças crónicas está a tornar-se um dos grandes problemas para os serviços de saúde. Daí a nossa preocupação em atacar esta frente.
Que papel devem desempenhar os seguros de saúde na proteção da saúde dos portugueses?
Uma das nossas prioridades é a prevenção, e na saúde esta preocupação é ainda mais relevante para todas as partes: os segurados e as respetivas famílias, os prestadores de cuidados de saúde, o SNS e, naturalmente, a seguradora. Foi por este motivo que estabelecemos a parceria com a Fundação Champalimaud.
Numa altura em que a crescente longevidade traz consigo mais patologias e em que o cancro se tornou uma doença crónica, com o seguro de onco-risco damos acesso ao Programa de Avaliação e Gestão de Risco Oncológico personalizado, da Fundação Champalimaud. Com este seguro, asseguramos um acompanhamento multidisciplinar na análise e gestão do risco de cada pessoa ao longo da vida.
Esta é uma solução inovadora assente na avaliação do risco oncológico, que parte do conhecimento da história clínica de cada pessoa e dos seus hábitos de vida para chegar a um diagnóstico precoce e definir ações e tratamento diferenciado, com acesso a terapêuticas inovadoras, num ambiente clínico de vanguarda.
Que doenças e/ou tratamentos ainda não cobrem, mas que poderão passar a cobrir?
Consideramos que temos os produtos essenciais para responder às grandes necessidades do mercado. De qualquer modo, a saúde mental ganhou uma nova dimensão nos nossos dias. Portugal é o 5º país da União Europeia com maior prevalência de doenças mentais e perto de 18% da população portuguesa tem uma doença mental, cenário agravado pela pandemia e pelas situações extremas que vivemos nesse longo período. Aqui podemos claramente evoluir, adaptando as coberturas existentes aos novos contornos das patologias mentais e às necessidades dos segurados.
Qual o peso dos seguros de saúde no universo de produtos da Tranquilidade?
Os seguros de saúde representam mais de 10% da nossa carteira de produtos. Este é o terceiro ramo com mais peso para nós, sendo claro que ainda existe muito espaço de progressão, apesar de o crescimento ter acelerado bastante nos últimos três anos.
A contratação de seguros de saúde aumentou a partir de 2021 por causa da pandemia da covid-19?
A pandemia acelerou de alguma forma a contratação de seguros de saúde, dando continuidade a uma tendência de longo prazo do mercado para aumentar os níveis de proteção da população.
Que novos produtos de seguros de saúde passou a Tranquilidade | Generali a oferecer na sequência da pandemia?
Criámos um seguro no contexto da covid-19 específico para empresas durante a pandemia. Para além desta exceção, não desenvolvemos nenhum produto diretamente relacionado com a pandemia, embora estejamos conscientes de que a preocupação com a saúde aumentou bastante entre os cidadãos. Contudo, diria que a alteração mais significativa ocorrida na sequência da pandemia foi a adoção massiva das consultas à distância quer por segurados, quer por prestadores.
Quantos portugueses têm seguro de saúde?
De acordo com os dados mais recentes da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), até ao final de junho deste ano, em Portugal, chegámos a um número um pouco acima de 3,2 milhões de pessoas seguradas. E de acordo com os indicadores de gestão para os seguros de saúde, nos últimos 12 meses, este número registou um aumento de aproximadamente 188 mil pessoas.
Dos 3,2 milhões de segurados, mais de 1,4 milhões são seguros individuais de particulares, os restantes quase 1,8 milhões são seguros feitos por empresas para os seus colaboradores.
Por outro lado, face ao atual período de inflação, na Tranquilidade | Generali acreditamos que os benefícios complementares ao salário são mais importantes do que nunca, e, deste modo, podemos esperar uma crescente aposta do tecido empresarial em incluir seguros de saúde nos pacotes remuneratórios dos colaboradores.
Qual o valor médio de um seguro de saúde?
De acordo com os dados públicos da APS, o valor médio anual por apólice é de 1.036 euros, sendo o valor médio anual por pessoa segura de 330 euros. Estamos a falar de valores médios anuais que podemos considerar comportáveis, especialmente se pensarmos no que um seguro representa para a segurança das pessoas, das famílias e das empresas.
Que quota de mercado possui a Tranquilidade nos seguros de saúde?
Na nossa carteira, os seguros de saúde representaram cerca de 130 milhões de euros em 2021, com uma tendência de crescimento constante e sustentado, resultando numa quota de mercado de aproximadamente 15%.
A necessidade de acesso a serviços de saúde de qualidade é premente, num momento em que o SNS dá provas de falta de capacidade para responder às necessidades.
Por outro lado, se considerarmos os efeitos cada vez mais evidentes da crise económica e a forma como as famílias e as empresas já estão a ser afetadas, e que previsivelmente se agravarão, temos de esperar os normais impactos, com a necessidade de fazer escolhas e de aliviar a estrutura de custos, o que muitas vezes recai nos seguros não obrigatórios, caso dos seguros de saúde.
Adicionalmente, a crise energética, a falta de recursos humanos e a inflação vão inevitavelmente refletir-se nos prémios dos seguros. Portanto, os próximos tempos vão ser bastante desafiantes para o setor, bem como para outros setores e para o país em geral.
Quais as faixas etárias que mais contratam seguros de saúde?
A faixa etária dos 35-55 anos é a que mais subscreve seguros de saúde. Mas, neste momento, os mais jovens estão também a contratar seguros de saúde, com maior incidência no momento da entrada no mercado de trabalho, o que muitas vezes coincide com a saída das apólices dos pais.
É importante captar clientes jovens, daí a relevância da nossa presença nos canais digitais e de estarmos atentos às inovações na indústria, caso das insurtech.
De qualquer modo, neste momento, temos oferta para todas as faixas etárias, nomeadamente os segmentos da população com mais idade, com parcerias de qualidade e redes de prestadores que abrangem todo o país.
Qual o peso dos seguros de saúde no universo de produtos da Tranquilidade?
Os seguros de saúde representam mais de 10% da nossa carteira de produtos. Este é o terceiro ramo com mais peso para nós, sendo claro que ainda existe muito espaço de progressão, apesar de o crescimento ter acelerado bastante nos últimos três anos.
O que é mais valorizado pelos portugueses nos seguros de saúde e como respondem às suas necessidades?
Os portugueses valorizam o que é realmente importante: seguros de saúde com redes de referência, em que estão presentes os maiores prestadores de cuidados de saúde, que garantem serviços de grande qualidade. É igualmente importante a grande capilaridade geográfica. Por outro lado, contamos com parceiros reconhecidos por serviços inovadores e por estarem na vanguarda da investigação e da prestação de cuidados de saúde, que nos permitem ser mais eficazes na prevenção de doenças, o que representa ganhos para todos, a começar nos segurados.
Que justificação encontram para os seguros de saúde nem sempre cobrirem a totalidade dos tratamentos de uma doença?
Os seguros pautam-se pelo princípio do mutualismo, isto é, um seguro é uma união de esforços entre seguradora e segurados, com o objetivo de criar um fundo comum para a mitigação de riscos. Num contrato de seguro existem cláusulas que definem claramente os riscos cobertos e os respetivos limites, de modo a definir a extensão das responsabilidades. Nenhuma seguradora pode cobrir riscos sem critério e de forma ilimitada. Todas as coberturas e limites de um seguro são submetidas à análise rigorosa e aprovação do regulador. Em resumo, no que se refere especificamente à saúde, as seguradoras são um complemento importante do SNS, mas somos apenas um dos pilares desta equação.
De que forma conta a Tranquilidade | Generali com as novas tecnologias aplicadas à saúde para compreender melhor as necessidades dos consumidores e medir novos riscos?
As novas tecnologias são ferramentas poderosas, que permitem personalizar tratamentos, aumentar a eficácia destes, reduzir os tempos de internamento e otimizar os recursos físicos e humanos.
O grande desafio reside nos custos associados às novas tecnologias, principalmente quando falamos de tecnologias de ponta e/ou de tratamentos diferenciados. E também na definição do momento a partir do qual as novas tecnologias devem ser introduzidas e na avaliação de risco vs. custo vs. benefício para o doente.
Adicionalmente, temos feito uma grande aposta na utilização de big data para nos providenciar insights ao longo da jornada do segurado, por exemplo, na avaliação médica (momento da subscrição), gestão de sinistros e deteção de fraude.
Com o envelhecimento da população e o efeito da pandemia há margem para uma progressão ainda maior no crescimento dos seguros de saúde em Portugal?
É expectável que sim, uma vez que a população está a ganhar uma maior consciência de que o SNS enfrenta dificuldades e não consegue sempre dar uma resposta total às suas necessidades. É aqui que os seguros entram como um importante complemento.
Como se compara Portugal com outros países da União Europeia na contratação de seguros de saúde pela população?
A comparação entre países europeus não é linear. Existem grandes diferenças, há inclusivamente países europeus em que o seguro de saúde é obrigatório (por exemplo, na Alemanha). Mas considerando 2019-2020, temos um valor médio de 0,7% na Europa, sendo, no entanto, este valor influenciado por muitos países onde a penetração é reduzida, pelo facto de existir pouca maturidade. De qualquer modo, para tentar uma comparação mais equiparada, Espanha tem um valor de aproximadamente 0,8% de contratação de seguros de saúde e Portugal 0,45%.