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A miragem dos seguros vitalícios

As alternativas têm passado por seguros de saúde com cobertura graduada e de longo prazo. O alargamento da base de clientes pode trazer melhores preços e condições.

28 de Abril de 2020 às 14:15
Paulo Silva e Marisa Correia (Prévoir-Vie) e João Lapa Pereira (consultor da i2S).
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"A criação de seguros de saúde vitalícios foi desde sempre uma miragem vista como a condição para a dinamização do seguro de saúde junto da população sénior. Claro que ter um seguro de saúde em que nem as condições nem o preço possam mudar ao longo da vida é com certeza algo que todos desejamos", diz Nelson Machado, CEO Vida e Pensões e membro da comissão executiva do Grupo Ageas Portugal. "Mas basta ver o momento especial que atravessamos para perceber que ninguém pode prometer tudo para sempre, pelo menos sem comprometer a sua existência e o que está a ‘garantir’."

"Não existe um mercado de seguros vitalícios em Portugal", afirma João Lapa Pereira, consultor da i2S. Para as seguradoras, a questão fundamental é que estas consigam efetuar a mutualização do risco, mas para isso é necessário que o Governo conceda bonificações para a criação de produtos específicos tendo em consideração a condição socioeconómica de cada pessoa ou do agregado familiar. "Uma pequena parte da população terá à partida uma longevidade com qualidade assegurada, o mesmo não se poderá dizer de todas aquelas pessoas com uma acumulação de poupanças que não lhes permite enfrentar a sua longevidade em idênticas condições", afirma João Lapa Pereira, consultor da i2S.

O meio-termo

Para Nelson Machado há um meio-termo, e que "passa pelo alargamento da oferta de seguros para o segmento sénior que ao aumentar a base de clientes permite a melhoria das condições e uma maior estabilização de preços e condições e sem limite de idade de permanência. Neste contexto, estamos também a reforçar a nossa oferta desenhada especificamente para o segmento sénior com acesso a uma extensa rede de prestadores, acesso médico remoto e relevantes serviços de apoio em casa".

A maioria das ofertas das seguradoras atualmente disponíveis para a população sénior ou "ora são complexas e caras, ou ora insuficientes e incompletas para as necessidades", diz Paulo Silva, diretor de desenvolvimento comercial da Prévoir-Vie. Os desafios para os seguradores "passam a simplificar e criar soluções adaptadas a cada caso. Por exemplo, uma pessoa com 65 anos está mais sensível às consequências de uma doença neurológica do que cardiovascular. Mas uma pessoa de 50 anos, provavelmente estará mais sensível às doenças cardiovasculares".

Como refere João Lapa Pereira, "os seguros de saúde com cobertura graduada e os seguros de saúde de longo prazo procuram alargar de forma sustentada o âmbito da cobertura dos atuais seguros de saúde, constituindo um nível de passagem entre estes e os seguros de saúde vitalícios".

Os seguros com cobertura graduada correspondem "a um conjunto de disposições de natureza imperativa relativa, que só podem ser alteradas em sentido favorável ao segurado, e são aplicáveis independentemente da duração dos contratos de seguro. É o caso, por exemplo, das situações em que a seguradora pode prever a exclusão de doenças preexistentes da cobertura. Constituem uma forma de mitigar o problema, mas por serem limitados no tempo não são seguros vitalícios".

O crescimento dos seguros de doenças graves 

Os seguros de doenças graves existem em Portugal desde os anos 90, como diz João Lapa Pereira, consultor da i2S, mas "apenas nos anos mais recentes se tem verificado alguma recetividade que tem evoluído a ritmo crescente na comercialização deste tipo de produtos. É de prever que esta tendência continue no futuro". De qualquer modo assinala que "atualmente a sua expressão no conjunto do seguro de doença não é significativa", apesar de face a certas doenças específicas, como por exemplo, doenças do foro oncológico, diabetes, doenças cardiovasculares, transplante de órgãos, acidente vascular cerebral, entre outras.

Estas doenças graves têm, segundo Nelson Machado, CEO da Ageas, incentivado a procura de "soluções robustas", como, por exemplo, a "existência de coberturas específicas de doenças graves, incluídas nos nossos seguros de saúde, com possibilidade de acesso a reconhecidas redes internacionais sendo mais-valias adicionais". Refere ainda que "o reforço das coberturas de oncologia com capitais de proteção muito reforçados, de forma a fazer face ao aumento substancial das despesas de tratamento, associada à disponibilização de serviços de apoio na "gestão" da doença, tem sido um dos passos relevantes e que no caso da Médis levou à disponibilização de um capital ilimitado de hospitalização em Portugal".

Para Marisa Correia, diretora atuarial da Prévoir-Vie, devido ao aumento da esperança média de vida, a incidência de doenças graves é cada vez maior, mas a percentagem de recuperação também é maior, portanto, "um seguro de doenças graves apresenta-se como um perfeito aliado (diagnóstico precoce, apoio no tratamento e ajuda na recuperação)" e começa a ser habitual. Além disso, "ajuda a melhorar a capacidade financeira do paciente e respetiva família". 

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