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Dívida pública deve ser diversificada

Os custos da pandemia vão pôr maior pressão sobre a dívida pública. Do ponto de vista prudencial, é recomendável a adoção de estratégias de diversificação apropriadas por parte da seguradoras portuguesas.

21 de Abril de 2020 às 15:30
David Martins
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Em relação a Portugal e aos principais desafios para o setor segurador português, Gabriel Bernardino, presidente da EIOPA, diz que "o setor segurador enfrenta atualmente condições adversas, tanto em termos das condições de mercado desafiadoras que enfrenta, como em termos de assegurar a continuidade das operações, protegendo ao mesmo tempo os seus próprios funcionários e os tomadores de seguros".

A questão do peso da dívida pública nos investimentos, como alertou a ASF, a que se junta o atual ambiente de taxas de juro ultrabaixas são fontes de riscos sistémicos para os seguradores nos próximos anos como assinalou a EIOPA?
O ambiente de taxas de juro ultrabaixas, mesmo negativas, é e continuará a ser nos próximos anos um dos fatores de maior risco para a atividade seguradora. O setor tem vindo a adaptar a sua oferta de produtos e a procurar investimentos alternativos cuja rendibilidade adicional possa contribuir para colmatar as taxas garantidas nos produtos que foram comercializados no passado. A incerteza quanto aos efeitos da pandemia no tecido económico não permite ainda retirar conclusões sobre riscos adicionais nestas estratégias.

A dívida pública sempre teve e continuará a ter um papel relevante nas carteiras de investimentos das seguradoras. O financiamento dos Estados para fazer face aos enormes custos da pandemia porá por certo maior pressão neste papel. Do ponto de vista prudencial, deve ser dada a devida atenção ao risco de concentração, sendo recomendável a adoção de estratégias de diversificação apropriadas.

Um dos principais desafios da indústria seguradora em Portugal é a digitalização e a cibersegurança, até pelo legacy tecnológico. Que balanço faz?
A digitalização da economia representa um acréscimo de oportunidades para o setor segurador. No entanto, os dados que as seguradoras possuem podem ser muito atrativos para criminosos e aumentam a ameaça de ataques cibernéticos. É importante que as seguradoras invistam em sistemas de informação seguros e que as protejam mesmo dos mais sofisticados ataques cibernéticos. Isto implica que os supervisores devem prestar mais atenção à integridade e à resiliência dos sistemas de informação.

A digitalização permite às seguradoras estarem muito mais próximas dos seus clientes, mais informadas sobre as suas necessidades, o que cria novas oportunidades de negócio. Este é um processo evolutivo a que o setor em Portugal terá de dedicar especial atenção, sob pena de perder o posicionamento estratégico que pode ter no futuro da economia digital.

As questões relacionadas com a defesa e proteção dos consumidores, a prática da RGPD, da transparência, são ainda uma preocupação em Portugal?
A revolução digital trouxe muitos benefícios para os consumidores, incluindo uma oferta mais ampla, custos mais baixos e formas mais fáceis de efetuar transações. Isto levou também os consumidores a estarem mais abertos à partilha dos seus dados financeiros e pessoais. No entanto, existe o risco de os dados dos consumidores não serem protegidos com a necessária responsabilidade ou serem usados de forma pouco ética. Isso pode significar que as pessoas podem ser excluídas de certos produtos de seguro ou serem vítimas de roubo de dados.

Por este motivo, no ano passado, constituímos um grupo consultivo de especialistas em ética digital em seguros para nos ajudar a desenvolver princípios de responsabilidade digital no setor segurador.

O PEPP está em consulta pública

A EIOPA pôs em consulta pública a regulamentação do PEPP e encontra-se neste momento a refletir os comentários recebidos de todos os intervenientes no mercado. "Neste sentido, apraz-nos registar o apoio ao PEPP por parte das organizações europeias de consumidores", refere Gabriel Bernardino. Acrescenta que "na EIOPA, acreditamos que o PEPP é um passo importante para dar aos cidadãos europeus uma maneira alternativa sustentável de poupar para a reforma e, portanto, estamos a incentivar os governos a apoiar o seu desenvolvimento na Europa".

O presidente da EIOPA considera que é um produto inteligente e simples em que, por exemplo, os participantes dos fundos de pensões poderão levar consigo o seu PEPP quando mudam de emprego ou de país. O PEPP básico oferecerá uma opção de investimento-padrão com custos reduzidos. Os participantes receberão informações claras e comparáveis sobre o desempenho dos seus investimentos e poderão trocar de prestador, se assim o desejarem, também com custos limitados. 


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