- Partilhar artigo
- ...
O Hospital do Litoral Alentejano (HLA) é o candidato ao Prémio Saúde Sustentável, promovido pelo Jornal de Negócios, na categoria de Projectos Especiais Integrados. O projecto integra a coordenação de cuidados de saúde primários com cuidados hospitalares ligação à Segurança Social.
O projecto "Programa de gestão de caso para doentes crónicos com multimorbilidade" passa pela coordenação de diversos serviços que têm estado separados. Adelaide Belo, a médica coordenadora deste trabalho, diz existir uma necessidade clara de coordenação das actividades, nomeadamente devido às questões demográficas actuais e a sua evolução.
"Há uma evolução da medicina que leva a uma sobrevida das pessoas. Verifica-se um envelhecimento da população. Isto tem um custo, que é o aumento das doenças crónicas e o aumento da necessidade do cidadão em recorrer aos serviços de saúde", salienta a médica.
O aumento da esperança de vida e os problemas que daí decorrem não se verificam apenas em Portugal. "É uma mistura explosiva. O que se tem visto, em todo o mundo, é um aumento do número de pessoas com mais do que uma doença crónica, que são habitualmente grandes consumidores de recursos", refere a médica.
No âmbito do Serviço Nacional de Saúde [SNS], "os cuidados estavam organizados em silos; cuidados de saúde primários, cuidados hospitalares e Segurança Social. Estes silos não falam uns com os outros. Este projecto o que faz é, essencialmente, o reorganizar os serviços, de modo a que haja uma coordenação entre os vários níveis de cuidados", explica a responsável.
Equipa multidisciplinar
Os enfermeiros têm, neste projecto, um papel fundamental, pois são eles que operacionalizam as ligações entre os doentes e os diferentes serviços. Estes técnicos são um pivô duma equipa multidisciplinar. "Os doentes têm, como ponto de contacto único, o enfermeiro, que ajuda o doente e a família a navegarem no sistema", diz Adelaide Belo.
Aos doentes é-lhes apresentada hipótese de entrarem no programa. É elaborado um plano personalizado, negociado com o doente e os cuidadores: ensino do que são as suas doenças, os medicamentos e quais os sinais de alerta de entrada em descompensação.
"O doente não pode ter um médico ou um enfermeiro ao seu lado todos os dias nem estar todos os dias no hospital", acrescenta a médica. "No fundo, é um internamento virtual".
Para facilitar a comunicação, entre os elementos das equipas, foram criadas pastas e emails partilhadas. Além de computador com VPN, permitindo o acesso ao processo do doente na sua casa. Existe também a hipótese de videoconferência.
Aumentar a área do programa
O HLA serve os cinco concelhos do litoral alentejano, abrangendo cerca de 100.000 pessoas. Apenas Odemira e Santiago do Cacém, estão no programa, desde o início 2018. Adelaide Belo espera o alargamento total em Janeiro de 2019. Para já, do programa fazem parte 25 pessoas, entre médicos (Medicina Geral e Familiar e Medicina Interna), enfermeiros e assistentes sociais.
Adelaide Belo salienta que os resultados só se vêem para lá dos seis meses. Da comparação dos dados, apurou-se que de 43 doentes, nesta situação, se registou um recuo de 66,6% das idas à urgência hospitalar; menos 77,1% de idas ao serviço de urgências básico de Odemira; 52,4% dos internamentos, com redução da demora médica em dois dias.
Tudo somado, a poupança é de 2.558 euros por doente equivalente/ano. "Fazemos melhor e com menos", garante Adelaide Belo.
Maria Rogélia Estevame, de 83 anos, é uma das pessoas abrangidas pelo programa, diz haver tantas vantagens que não sabe por onde começar. "Andava sempre muito cansada, com falta de ar. Tenho-me sentido muito melhor. O Miguel [enfermeiro] trouxe uma bombinha para ajudar a respiração, o que me tem feito muito bem", conta a paciente. Miguel Soares considera que ver o doente como um todo fá-lo sentir "muito mais realizado".
Projectos especiais
O doente é um todo
O Hospital do Litoral Alentejano criou o "Programa de gestão de caso para doentes crónicos com multimorbilidade". Trata-se de projectos especiais integrados, reunindo a Medicina Geral e Familiar, Medicina Interna e Segurança Social.
O projecto traduz-se no conhecimento do doente como um todo. O enfermeiro é o elo de ligação entre o doente, cuidadores e os diferentes serviços. Toda a equipa tem meios de comunicação dedicados, permitindo um contacto rápido.
O programa visa responder melhor ao crescente aumento das situações derivadas do aumento da esperança de vida e das suas implicações ao nível dos cuidados de saúde.
Embora recente, é possível obter algumas conclusões. Estas sentem-se quanto a resultados ao nível da melhoria dos serviços prestados, menor impacto hospitalar e diminuição dos custos.
A figura
Adelaide Belo
Médica coordenadora
Adelaide Belo licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1976. É assistente graduada sénior de Medicina Interna, desde 1998 e tem exercido diversos cargos de chefia: coordenadora do Núcleo de Integração de Cuidados da ULS do Litoral Alentejano, desde 2016 até ao presente; coordenadora na Área do Sistema Integrado de Gestão do Acesso na Administração Central do Sistema de Saúde, desde 2013 até à actualidade. Entre 2006 e 2012 foi presidente do conselho de administração do Hospital do Litoral Alentejano. Foi, entre 2006 e 2007, membro da Comissão Nacional para a Reforma do Serviço de Urgência. De 2003 e 2005 foi directora clínica do Centro Hospitalar do Baixo Alentejo. Ocupou o cargo de directora do Serviço de Medicina I, do Hospital José Joaquim Fernandes. Nessa mesma instituição foi, entre 1993 e 1999, directora de serviço de urgência.
O projecto "Programa de gestão de caso para doentes crónicos com multimorbilidade" passa pela coordenação de diversos serviços que têm estado separados. Adelaide Belo, a médica coordenadora deste trabalho, diz existir uma necessidade clara de coordenação das actividades, nomeadamente devido às questões demográficas actuais e a sua evolução.
"Há uma evolução da medicina que leva a uma sobrevida das pessoas. Verifica-se um envelhecimento da população. Isto tem um custo, que é o aumento das doenças crónicas e o aumento da necessidade do cidadão em recorrer aos serviços de saúde", salienta a médica.
O aumento da esperança de vida e os problemas que daí decorrem não se verificam apenas em Portugal. "É uma mistura explosiva. O que se tem visto, em todo o mundo, é um aumento do número de pessoas com mais do que uma doença crónica, que são habitualmente grandes consumidores de recursos", refere a médica.
Andava sempre muito cansada, com falta de ar. Tenho-me sentido muito melhor. O Miguel [enfermeiro] trouxe uma bombinha para ajudar a respiração, o que me tem feito muito bem. Maria Rogélia Estevame
Doente
Doente
No âmbito do Serviço Nacional de Saúde [SNS], "os cuidados estavam organizados em silos; cuidados de saúde primários, cuidados hospitalares e Segurança Social. Estes silos não falam uns com os outros. Este projecto o que faz é, essencialmente, o reorganizar os serviços, de modo a que haja uma coordenação entre os vários níveis de cuidados", explica a responsável.
Equipa multidisciplinar
Os enfermeiros têm, neste projecto, um papel fundamental, pois são eles que operacionalizam as ligações entre os doentes e os diferentes serviços. Estes técnicos são um pivô duma equipa multidisciplinar. "Os doentes têm, como ponto de contacto único, o enfermeiro, que ajuda o doente e a família a navegarem no sistema", diz Adelaide Belo.
Aos doentes é-lhes apresentada hipótese de entrarem no programa. É elaborado um plano personalizado, negociado com o doente e os cuidadores: ensino do que são as suas doenças, os medicamentos e quais os sinais de alerta de entrada em descompensação.
25
Equipa
Este programa é composto por 25 profissionais, entre médicos, enfermeiros e assistentes sociais.
"O doente não pode ter um médico ou um enfermeiro ao seu lado todos os dias nem estar todos os dias no hospital", acrescenta a médica. "No fundo, é um internamento virtual".
Para facilitar a comunicação, entre os elementos das equipas, foram criadas pastas e emails partilhadas. Além de computador com VPN, permitindo o acesso ao processo do doente na sua casa. Existe também a hipótese de videoconferência.
Aumentar a área do programa
O HLA serve os cinco concelhos do litoral alentejano, abrangendo cerca de 100.000 pessoas. Apenas Odemira e Santiago do Cacém, estão no programa, desde o início 2018. Adelaide Belo espera o alargamento total em Janeiro de 2019. Para já, do programa fazem parte 25 pessoas, entre médicos (Medicina Geral e Familiar e Medicina Interna), enfermeiros e assistentes sociais.
2558
Euros
Valor da poupança por doente equivalente/ano gerada por este projecto.
Adelaide Belo salienta que os resultados só se vêem para lá dos seis meses. Da comparação dos dados, apurou-se que de 43 doentes, nesta situação, se registou um recuo de 66,6% das idas à urgência hospitalar; menos 77,1% de idas ao serviço de urgências básico de Odemira; 52,4% dos internamentos, com redução da demora médica em dois dias.
Tudo somado, a poupança é de 2.558 euros por doente equivalente/ano. "Fazemos melhor e com menos", garante Adelaide Belo.
Maria Rogélia Estevame, de 83 anos, é uma das pessoas abrangidas pelo programa, diz haver tantas vantagens que não sabe por onde começar. "Andava sempre muito cansada, com falta de ar. Tenho-me sentido muito melhor. O Miguel [enfermeiro] trouxe uma bombinha para ajudar a respiração, o que me tem feito muito bem", conta a paciente. Miguel Soares considera que ver o doente como um todo fá-lo sentir "muito mais realizado".
Projectos especiais
O doente é um todo
O Hospital do Litoral Alentejano criou o "Programa de gestão de caso para doentes crónicos com multimorbilidade". Trata-se de projectos especiais integrados, reunindo a Medicina Geral e Familiar, Medicina Interna e Segurança Social.
O projecto traduz-se no conhecimento do doente como um todo. O enfermeiro é o elo de ligação entre o doente, cuidadores e os diferentes serviços. Toda a equipa tem meios de comunicação dedicados, permitindo um contacto rápido.
O programa visa responder melhor ao crescente aumento das situações derivadas do aumento da esperança de vida e das suas implicações ao nível dos cuidados de saúde.
Embora recente, é possível obter algumas conclusões. Estas sentem-se quanto a resultados ao nível da melhoria dos serviços prestados, menor impacto hospitalar e diminuição dos custos.
A figura
Adelaide Belo
Médica coordenadora
Adelaide Belo licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1976. É assistente graduada sénior de Medicina Interna, desde 1998 e tem exercido diversos cargos de chefia: coordenadora do Núcleo de Integração de Cuidados da ULS do Litoral Alentejano, desde 2016 até ao presente; coordenadora na Área do Sistema Integrado de Gestão do Acesso na Administração Central do Sistema de Saúde, desde 2013 até à actualidade. Entre 2006 e 2012 foi presidente do conselho de administração do Hospital do Litoral Alentejano. Foi, entre 2006 e 2007, membro da Comissão Nacional para a Reforma do Serviço de Urgência. De 2003 e 2005 foi directora clínica do Centro Hospitalar do Baixo Alentejo. Ocupou o cargo de directora do Serviço de Medicina I, do Hospital José Joaquim Fernandes. Nessa mesma instituição foi, entre 1993 e 1999, directora de serviço de urgência.