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Ver um doente como um todo é uma inovação no Litoral Alentejano

"Programa de gestão de caso para doentes crónicos com multimorbilidade" é o nome de um projecto multidisciplinar do Hospital do Litoral Alentejano candidato ao Prémio Saúde Sustentável, na categoria de Projectos Especiais.

25 de Setembro de 2018 às 12:00
Miguel é um dos enfermeiros que integram este programa de um hospital que serve cinco concelhos do litoral alentejano. Inês Gomes Lourenço
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O Hospital do Litoral Alentejano (HLA) é o candidato ao Prémio Saúde Sustentável, promovido pelo Jornal de Negócios, na categoria de Projectos Especiais Integrados. O projecto integra a coordenação de cuidados de saúde primários com cuidados hospitalares ligação à Segurança Social.

O projecto "Programa de gestão de caso para doentes crónicos com multimorbilidade" passa pela coordenação de diversos serviços que têm estado separados. Adelaide Belo, a médica coordenadora deste trabalho, diz existir uma necessidade clara de coordenação das actividades, nomeadamente devido às questões demográficas actuais e a sua evolução.
Adelaide Belo é a médica coordenador deste projecto multidisciplinar que deverá ser alargado em 2019.
Adelaide Belo é a médica coordenador deste projecto multidisciplinar que deverá ser alargado em 2019. Inês Gomes Lourenço
"Há uma evolução da medicina que leva a uma sobrevida das pessoas. Verifica-se um envelhecimento da população. Isto tem um custo, que é o aumento das doenças crónicas e o aumento da necessidade do cidadão em recorrer aos serviços de saúde", salienta a médica.

O aumento da esperança de vida e os problemas que daí decorrem não se verificam apenas em Portugal. "É uma mistura explosiva. O que se tem visto, em todo o mundo, é um aumento do número de pessoas com mais do que uma doença crónica, que são habitualmente grandes consumidores de recursos", refere a médica.

Andava sempre muito cansada, com falta de ar. Tenho-me sentido muito melhor. O Miguel [enfermeiro] trouxe uma bombinha para ajudar a respiração, o que me tem feito muito bem. Maria Rogélia Estevame
Doente

No âmbito do Serviço Nacional de Saúde [SNS], "os cuidados estavam organizados em silos; cuidados de saúde primários, cuidados hospitalares e Segurança Social. Estes silos não falam uns com os outros. Este projecto o que faz é, essencialmente, o reorganizar os serviços, de modo a que haja uma coordenação entre os vários níveis de cuidados", explica a responsável.

Equipa multidisciplinar

Os enfermeiros têm, neste projecto, um papel fundamental, pois são eles que operacionalizam as ligações entre os doentes e os diferentes serviços. Estes técnicos são um pivô duma equipa multidisciplinar. "Os doentes têm, como ponto de contacto único, o enfermeiro, que ajuda o doente e a família a navegarem no sistema", diz Adelaide Belo.

Aos doentes é-lhes apresentada hipótese de entrarem no programa. É elaborado um plano personalizado, negociado com o doente e os cuidadores: ensino do que são as suas doenças, os medicamentos e quais os sinais de alerta de entrada em descompensação.


25
Equipa
Este programa é composto por 25 profissionais, entre médicos, enfermeiros e assistentes sociais.

"O doente não pode ter um médico ou um enfermeiro ao seu lado todos os dias nem estar todos os dias no hospital", acrescenta a médica. "No fundo, é um internamento virtual".

Para facilitar a comunicação, entre os elementos das equipas, foram criadas pastas e emails partilhadas. Além de computador com VPN, permitindo o acesso ao processo do doente na sua casa. Existe também a hipótese de videoconferência.

Aumentar a área do programa

O HLA serve os cinco concelhos do litoral alentejano, abrangendo cerca de 100.000 pessoas. Apenas Odemira e Santiago do Cacém, estão no programa, desde o início 2018. Adelaide Belo espera o alargamento total em Janeiro de 2019. Para já, do programa fazem parte 25 pessoas, entre médicos (Medicina Geral e Familiar e Medicina Interna), enfermeiros e assistentes sociais.

2558
Euros
Valor da poupança por doente equivalente/ano gerada por este projecto.


Adelaide Belo salienta que os resultados só se vêem para lá dos seis meses. Da comparação dos dados, apurou-se que de 43 doentes, nesta situação, se registou um recuo de 66,6% das idas à urgência hospitalar; menos 77,1% de idas ao serviço de urgências básico de Odemira; 52,4% dos internamentos, com redução da demora médica em dois dias.

Tudo somado, a poupança é de 2.558 euros por doente equivalente/ano. "Fazemos melhor e com menos", garante Adelaide Belo.

Maria Rogélia Estevame, de 83 anos, é uma das pessoas abrangidas pelo programa, diz haver tantas vantagens que não sabe por onde começar. "Andava sempre muito cansada, com falta de ar. Tenho-me sentido muito melhor. O Miguel [enfermeiro] trouxe uma bombinha para ajudar a respiração, o que me tem feito muito bem", conta a paciente. Miguel Soares considera que ver o doente como um todo fá-lo sentir "muito mais realizado".


Projectos especiais

O doente é um todo

O Hospital do Litoral Alentejano criou o "Programa de gestão de caso para doentes crónicos com multimorbilidade". Trata-se de projectos especiais integrados, reunindo a Medicina Geral e Familiar, Medicina Interna e Segurança Social.

O projecto traduz-se no conhecimento do doente como um todo. O enfermeiro é o elo de ligação entre o doente, cuidadores e os diferentes serviços. Toda a equipa tem meios de comunicação dedicados, permitindo um contacto rápido.

O programa visa responder melhor ao crescente aumento das situações derivadas do aumento da esperança de vida e das suas implicações ao nível dos cuidados de saúde.

Embora recente, é possível obter algumas conclusões. Estas sentem-se quanto a resultados ao nível da melhoria dos serviços prestados, menor impacto hospitalar e diminuição dos custos.

A figura

Adelaide Belo
Médica coordenadora

Adelaide Belo licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1976. É assistente graduada sénior de Medicina Interna, desde 1998 e tem exercido diversos cargos de chefia: coordenadora do Núcleo de Integração de Cuidados da ULS do Litoral Alentejano, desde 2016 até ao presente; coordenadora na Área do Sistema Integrado de Gestão do Acesso na Administração Central do Sistema de Saúde, desde 2013 até à actualidade. Entre 2006 e 2012 foi presidente do conselho de administração do Hospital do Litoral Alentejano. Foi, entre 2006 e 2007, membro da Comissão Nacional para a Reforma do Serviço de Urgência. De 2003 e 2005 foi directora clínica do Centro Hospitalar do Baixo Alentejo. Ocupou o cargo de directora do Serviço de Medicina I, do Hospital José Joaquim Fernandes. Nessa mesma instituição foi, entre 1993 e 1999, directora de serviço de urgência.


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