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Santarém reduz idas ao hospital com acto único

Ir à consulta, fazer os exames e ter o diagnóstico no mesmo dia é o objectivo do sistema de “acto único” implementado no Hospital de Santarém. O método agrada aos utentes e traduz-se em ganhos de eficiência para a organização.

22 de Setembro de 2017 às 09:00
Sara Matos
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Cerca de 100 quilómetros separam Ponte de Sor, no distrito de Portalegre, do Hospital Distrital de Santarém. Foi precisamente esse o caminho percorrido nas primeiras horas da manhã pelo pequeno Salvador, de 5 anos, para ir à consulta de otorrino naquela unidade de saúde. À mãe, a médica de família garantiu que ali a lista de espera era mais curta. E Cristiana Ramos não teve dúvidas. "A médica disse-nos que aqui seria mais rápido tratar do problema dele. E decidimos vir", conta.

As amigdalites frequentes levaram o Salvador ao gabinete médico de Mário Galveias, director do serviço de otorrino, que encaminhou o menino para a realização de exames e análises logo após a consulta. O objectivo é que a criança saia do hospital com os exames vistos e o diagnóstico feito. Trata-se do conceito de "consulta de acto único", um método pioneiro em Portugal que consiste em que, no mesmo dia, o utente seja observado pelo médico, sejam realizados os exames complementares de diagnóstico, após os quais regressará a casa já com uma proposta de tratamento.

A nova metodologia foi introduzida pelo Hospital de Santarém, entre o final de 2013 e o início de 2014, no Ambulatório Programado de Alta Resolução (APAR), instalado num novo edifício que cobre uma área de cerca de dois mil metros quadrados. "O projecto foi idealizado por nós, quando surgiu a oportunidade de construir um novo edifício para instalar a consulta externa de cirurgia", explica José Rianço Josué, presidente do Hospital de Santarém. "Foi possível, nessa altura, idealizar um modelo que fosse o mais resolutivo possível para as pessoas".

Os resultados, assegura, "são muito positivos". Para a organização, o novo método de trabalho traduz-se em economia processual e até financeira. Para o utente, na diminuição dos gastos e do desconforto implicados nas deslocações ao hospital. "Um inquérito de satisfação que fizemos recentemente mostra que 93% dos utentes estão satisfeitos ou muito satisfeitos. É, sem dúvida, um modelo muito eficiente", conclui José Josué.

No Ambulatório Programado de Alta Resolução, as diferentes especialidades estão identificadas por cores. Otorrino a laranja, oftalmologia a vermelho, e daí por diante. É na zona laranja que se encontra o Salvador, a brincar com uma pequena ambulância enquanto espera pela realização do exame. "Vamos fazer um audiograma, para ver se as amígdalas interferiram na audição. Vamos ver se o ouvido está ok", esclarece a audiologista Odete Baptista enquanto encaminha a criança para o gabinete. "Se estiver tudo bem fica já inscrito para ser operado e retirar as amígdalas. Com uma só consulta fica tudo resolvido", acrescenta Mário Galveias.

O que faria normalmente em três idas ao hospital – para consulta, exames e análise dos resultados – Cristiana Ramos fez numa só. "Para mim é uma maravilha, porque vim de muito longe e teria de voltar mais vezes. Assim já vou descansada", diz. A eficiência do processo tem permitido, entre outros benefícios, aumentar a taxa de primeiras consultas, uma das grandes vantagens apontadas pelos profissionais de saúde. No serviço de otorrino, as primeiras consultas passaram de 2.597, em 2014, para 3.133, no ano passado. "Assim, conseguimos ter uma lista de espera perfeitamente controlada", resume o director do serviço.

Além dos exames, a nova unidade permite que os utentes realizem, no próprio dia, pequenas intervenções com anestesia local, como excisões de quistos, graças à unidade de pequena cirurgia instalada no APAR. Ali, são realizadas cerca de 110 intervenções por mês, libertando a unidade de cirurgia de ambulatório. "Rentabilizando os temos operatórios, há um aumento da produção e uma redução dos tempos de espera", aponta o enfermeiro-chefe Filipe Correia. "Eliminamos redundâncias, ineficiências e evitamos deslocações adicionais e supérfluas para os utentes, que implicam custos directos e indirectos e um absentismo laboral". Os resultados têm sido de tal modo positivos que as administrações de outros hospitais já foram a Santarém para conhecer o novo processo e demonstrar o seu interesse. "É gratificante ver isto. E para nós é importante partilhar", diz.
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