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Notícia

Revista do ano: Isabel dos Santos contra-ataca, em Março

Foi o mês da segunda vaga de audições parlamentares dos protagonistas-chave na queda do BES: Salgado, Maria Luís e Carlos Costa. Dias antes, já Isabel dos Santos tinha "mexido" com o sector: propôs fusão entre BCP e BPI.

Negócios 11 de Dezembro de 2015 às 09:00
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Acontecimentos nacionais: 

3 de Março - Fusão BCP/BPI em cima da mesa

A empresária angolana Isabel dos Santos contra-atacou. A segunda maior accionista do BPI mostrou a todos que defendia que o banco liderado por Fernando Ulrich devia avançar com uma fusão com o BCP, um projecto que foi uma resposta da filha do presidente de Angola à oferta pública de aquisição (OPA) que os catalães do CaixaBank lançaram sobre o BPI a 17 de Fevereiro, ela própria recusada pela administração do banco. Um movimento de resposta aos accionistas catalães que produziu ondas de choque em todo o sector, inclusivamente dentro do próprio BPI. A explicação da proposta angolana foi dada pelo seu representante no banco, gerou forte turbulência no mercado e provocou reacções de vários envolvidos, directa ou indirectamente. Depois das primeiras reacções a quente, ficou claro que o BPI ficou à mercê de um braço-de-ferro entre os seus principais accionistas, cuja batalha teve vários episódios durante todo o ano e continua sem um desfecho claro à vista. 


5 de Março - Granadeiro vai o Parlamento
O antigo presidente da PT foi ao Parlamento explicar a sua actuação em todo o processo que conduziu à ruinosa exposição da operadora ao universo do Grupo Espírito Santo. E não foi parco em palavras. Disse-se "injustiçado", falou da sua responsabilidade no caso, mas também do papel que outros responsáveis da companhia tiveram, nomeadamente Zeinal Bava. Depois de Henrique Granadeiro, foi a vez de dois operacionais visitarem os deputados para explicarem o caso, também em resposta às declarações de Granadeiro. Primeiro, Luís Pacheco de Melo, antigo director financeiro da PT, depois Amílcar Morais Pires, antigo braço-direito de Ricardo Salgado no BES e que assumiu durante anos um cargo na cúpula da própria PT. 

Isto que aconteceu foi o pior que podia acontecer à minha carreira. Liquidou a minha carreira.
Henrique Granadeiro, ex-presidente da PT


6 de Março - Deloitte faz a primeira autópsia à queda do BES
Um antigo administrador do BES decidiu que pelo menos uma das determinações impostas pelo Banco de Portugal não deveria ser comunicada aos restantes membros do conselho. Os indícios neste sentido constam de um dos cinco blocos que compuseram a auditoria forense da Deloitte à queda do BES, encomendada pelo Banco de Portugal. Nesta linha de investigação, foram detectadas 21 potenciais infracções de "desobediência ilegítima" de ordens do BdP, quatro situações de provável "prática de actos dolosos de gestão ruinosa", dois financiamentos a accionistas qualificados e outras partes relacionadas sem as indispensáveis aprovações, e três situações em que não terão sido cumpridos os requisitos de controlo interno exigidos pela lei bancária. Este foi o primeiro "fotograma" de um filme que iria ficar completo ao longo das semanas seguintes. E que acabaria por seguir para o Ministério Público.

16 de Março - Singapura investe no Porto de Sines

A PSA Sines, que gere o Terminal XXI, fez um anúncio raro durante o ano que agora termina: decidiu investir, ainda em 2015, 40 milhões de euros na expansão da infra-estrutura, aumentando a capacidade de 1,7 para 2,5 milhões de TEU (unidade equivalente a um contentor) por ano, na sequência de um acordo alcançado entre a participada da PSA de Singapura e o Estado. A expansão do terminal é feita no âmbito do actual contrato de concessão, sem qualquer prorrogação do prazo, que termina em 2029, nem contrapartida pública. 


17 de Março - Auditoria forense ao BES tem novo capítulo
Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires, os administradores do Banco Espírito Santo que tiveram o pelouro do BES Angola, são suspeitos de gestão danosa devido ao crédito que o BES concedeu ao BESA. Esta foi a conclusão do segundo bloco da auditoria forense à queda do banco. O crime em causa é punível com pena de cinco anos de prisão. E estes indícios vêm juntar-se às suspeitas de burla, falsificação e infidelidade detectadas no primeiro bloco da autópsia ao colapso do BES pedida pelo Banco de Portugal à Deloitte. Neste segundo bloco da auditoria forense é ainda revelado que saiu dinheiro do BESA para Ricardo Salgado, Álvaro Sobrinho e Amílcar Morais Pires. No total, ao longo dos meses, haveriam de ser conhecidos cinco blocos da auditoria forense à queda do BES, todos reencaminhados para o Ministério Público. 

19 de Março - Ricardo Salgado regressa à Comissão de Inquérito
Poucos dias depois de serem conhecidas as suspeitas de crimes graves durante a sua gestão à frente do BES, Ricardo Salgado regressava à companhia dos deputados. E desta vez trouxe uma novidade na sua defesa: um pedido de desculpas. O resto da longa audição foi um extenso argumentário de defesa, com alguns ataques pelo meio, nomeadamente contra o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, ou contra o seu primo, José Maria Ricciardi, que viria imediatamente a pedir o seu próprio contra-ataque. Pelo meio, a audição foi rica também em versões que contrariaram várias das personalidades que deram a sua explicação do caso ao Parlamento. 

20 de Março - Ferreira de Oliveira sai da Galp
O percurso de Manuel Ferreira de Oliveira como presidente executivo da Galp Energia chegou ao fim. A informação foi comunicada pelo próprio aos seus colegas do conselho de administração. O vice-presidente Luís Palha da Silva saiu com ele. Américo Amorim, maior accionista da petrolífera, admitiu que não foi apanhado distraído pela saída do seu CEO. E mais tarde, o homem mais rico de Portugal acabaria mesmo por confirmar o seu sucessor: Carlos Gomes da Silva, que já era administrador executivo da empresa desde 2008.

20 de Março - Novo Banco recebe ofertas

Pelo menos cinco dos candidatos pré-qualificados no processo de venda do Novo Banco apresentaram propostas de compra não vinculativas, com o objectivo de virem a adquirir o banco que ficou com os activos saudáveis do Banco Espírito Santo. Entre algumas das ofertas apresentadas no limite do prazo, sexta-feira, dia 20 de Março, é identificada a necessidade de injectar mais capital no Novo Banco, para que a instituição possa ficar com maior folga de solidez. Santander, Fosun, Apollo, BPI e Anbang Insurance Group foram cinco das entidades que fizeram propostas iniciais para o Novo Banco, mas houve ainda outros interessados em entrar no jogo. Uma das incógnitas dizia respeito ao Bank of China, um dos três grupos chineses que manifestou interesse pela instituição.Seria a primeira tentativa de vender um banco que continuará na órbitra do Estado, através do Fundo de Resolução, na transição entre 2015 e 2016. 


24 e 25 de Março - Carlos Costa, ministra e Carlos Tavares regressam ao Parlamento
A segunda ronda de audições sobre a queda do Banco Espírito Santo contou com a participação de três das figuras mais importantes do caso, fora da órbita do Grupo Espírito Santo: o governador, a ministra e o presidente do regulador da bolsa. Este último defendeu os clientes do papel comercial e voltou a confrontar o Banco de Portugal. A ministra voltou a justificar o seu papel durante todo o processo de resolução. E Carlos Costa passou mais um dia a dar explicações sobre a queda do BES, inclusive numa original abordagem à sua relação com Angola a partir do momento da queda do BES. E foi com estes responsáveis que chegou ao fim a procissão de nomes e explicações que passou ao longo de vários meses no Parlamento e que acabariam por ficar resumidas num relatório final no mês seguinte. 

30 de Março - CMVM faz buscas no Novo Banco
A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) esteve em, pelo menos, três agências do Novo Banco em que procurou documentos relativos à alegada venda de papel comercial de sociedades do Grupo Espírito Santo nos balcões da instituição financeira quando era ainda o Banco Espírito Santo. Esta iniciativa surgiu no âmbito das queixas dos clientes do BES junto do regulador do mercado de capitais. E marcou mais um episódio na relação entre a CMVM e o Banco de Portugal durante o processo para tentar solucionar o problema provocado pela queda do BES junto dos lesados do papel comercial do GES. 

Acontecimentos internacionais

9 de Março - Grécia enfrenta primeiro teste de Bruxelas

Em dia de Eurogrupo, a chanceler alemã avisou a Grécia que, em troca de solidariedade, é preciso aplicar reformas. Já o número dois das Finanças da Alemanha disse não esperar "grandes acordos" no Eurogrupo desse dia, onde o primeiro pacote de sete reformas propostas por Atenas foi analisado pelos ministros das Finanças do euro. Atenas precisava de começar a aplicar reformas para os parceiros europeus assegurarem financiamento para a Grécia. Isto mesmo foi sublinhado por Berlim, através de vários dos seus responsáveis políticos de topo.

A resposta do governo grego foi tudo menos pacificadora, logo à partida. E havia de piorar, num escalar de tensão entre as duas partes que iria dominar toda a Primavera até à sua mais dramática conclusão já em pleno Verão. 

9 de Março - Apple lança o seu relógio
Em mais um evento global e mediático a que a gigante de Cupertino já habituou os seus fiéis e os especialistas do sector, o CEO da Apple, Tim Cook, apresentou a mais recente inovação da tecnológica: o Apple Watch. Um relógio inovador que tira partido de todas as funcionalidades já presentes nos seus outros produtos clássicos, como os telemóveis iPhones, os tablets iPads ou os computadores portáteis MacBooks, estes últimos também objecto de um anúncio de natureza comercial no mesmo dia. Os peritos não perderam tempo a escalpelizar o mais recente gadget da Apple. 

16 de Março - Plano Juncker promete onda de investimento em Portugal
O vice-presidente da Comissão Europeia, Jyrki Katainen, esteve em Lisboa para apresentar o plano de relançamento do investimento na Europa, mais conhecido como Plano Juncker. Lisboa foi a sétima etapa do "road show" destinado a mostrar, sobretudo ao sector privado, as potencialidades do fundo de partilha de risco que está por detrás do plano de relançamento do investimento na Europa. Jyrki Katainen, vice-presidente da Comissão Europeia, disse mesmo ao Negócios que "Portugal é um exemplo bem sucedido dos programas de ajustamento"

26 de Março - Fraude piramidal nos EUA chega a Portugal

A acusação nos EUA contra duas empresas portuguesas que, utilizando o nome Wings Network, constituíam um esquema em pirâmide, levou à apreensão de depósitos em Portugal, revelou a Procuradoria-Geral da República (PGR). "Foram apreendidas, por via da prevenção do branqueamento, várias quantias significativas depositadas em contas em Portugal", confirmou a PGR sem, contudo, revelar o valor exacto alvo de apreensão. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e a PGR participaram na investigação que conduziu à acusação da Tropikgadget Unipessoal e Tropikgadget FZE nos EUA.


31 de Março - Bruxelas elimina quotas leiteiras

Terminou a 31 de Março o sistema de quotas leiteiras na União Europeia, que durante 30 anos limitou a produção na região. Em Portugal, onde o sector registou uma profunda reforma nos últimos 20 anos, a produção manifestou os seus receios em relação a um eventual "dumping" de leite do Norte da Europa. "De certa forma, acontece ao sector o que acontece a uma pessoa ao atingir 18 anos – ganha liberdade de produção, mas também terá de assumir as consequências e aguentar a evolução do mercado". Foi assim que Carlos Neves, presidente da Aprolep - Associação dos Produtores de Leite de Portugal, ilustrou o fim das quotas leiteiras na União Europeia, que entraram em vigor a 1 de Abril.

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