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Marcelo: "Não se pode depender de empresários"

Sempre tive essa ideia de que se pode ser amigo de empresários mas que nunca se podia depender de empresários", afirma Marcelo Rebelo de Sousa. Por isso, diz, nunca aceitou lugares lugares de administração e de gestão.

Celso Filipe cfilipe@negocios.pt 23 de Dezembro de 2015 às 00:01
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Marcelo Rebelo de Sousa é amigo de Ricardo Salgado, mas afasta a ideia de alguma vez ter sido contemporizador em relação ao banqueiro caído em desgraça. "No processo da crise do BES lembro-me que, sistematicamente, a minha posição foi a de ser simpático demais para com o governador do Banco de Portugal", por defender as posições que Carlos Costa tomava "numa circunstância muito difícil e nova no sistema financeiro português".

A favor do seu distanciamento face a Ricardo Salgado, o candidato presidencial recorda outros dois episódios. Em 1998, quando era líder do PSD, num discurso feito no congresso de Tavira, denunciou o alegado favorecimento do Governo de António Guterres a grupos económicos como o BES, a Sonae e a Grão-Pará. "Há lá um comentário, salvo erro de José Manuel Fernandes, que diz: este homem é pior que o PC, está um revolucionário nas expressões que utiliza em relação às ligações entre grupos económicos e o poder político."

As críticas ao BES repetiram-se em 2010, quando a PT vendeu 50% da brasileira Vivo à Telefónica e entrou na Oi. "Pode ter sido um disparate provocado pela situação que existia, mas foi um disparate. A Oi não era uma solução alternativa e praticamente ninguém disse isso. Fui muito pouco contemporizador quando ninguém abria a boca", recorda o candidato presidencial.

Acho que um dos problemas dos políticos é eles falarem e ninguém perceber o que eles dizem.
Marcelo Rebelo de Sousa

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa estes casos ilustram aquilo que foi sempre o seu pensamento. "Sempre tive essa ideia de que se podia ser amigo de empresários, mas que nunca se podia depender de empresários. Por uma razão muito simples: podem ser os maiores amigos do mundo, mas se tiverem uma posição de supremacia utilizam-na. Isso aplica-se em relação ao poder económico e ao político. Foi uma das razões porque eu nunca aceitei cargos sociais. Fui convidado para a administração e lugares de gestão de bancos e seguradoras e nunca aceitei precisamente porque ia afectar a minha independência".

"É mil vezes preferível a subvenção pública"

O financiamento das campanhas eleitorais é um tema recorrente em Portugal. A este propósito, Marcelo Rebelo de Sousa, diz que mantém a mesma posição de sempre. "Fui sempre contra o financiamento privado das campanhas. Quando fui líder do PSD defendi-o, mas não tive grande sucesso, porque toda a gente era contra. Devia haver só subvenção pública, porque é a única maneira de garantir o máximo de igualdade entre candidaturas".

Passada mais de uma década, o candidato reitera este ponto de vista. "É sempre urgente neste sentido: a minha experiência mostra que é mil vezes preferível haver subvenção pública, com critérios de transparência total, a haver qualquer tipo de abertura a financiamento privado". Até porque, acrescenta, "é a única maneira de garantir o máximo de igualdade entre candidaturas". "Se há financiamento privado das duas uma: a pessoa tem muitos apoios financeiros e então pode ir até ao limite da lei e os que têm menos apoios ficam muito longe do limite da lei, que aliás tem vindo a baixar e a ser cada vez mais restritivo".

Acho que é tempo de renovar os comentadores políticos em Portugal. Mariana Mortágua, do pouco que vi, é uma óptima comentadora política.
Marcelo Rebelo de Sousa

É neste contexto que Marcelo Rebelo de Sousa considera que esta questão do financiamento "é um problema da nossa economia e da nossa sociedade". "Da nossa economia, porque é um travão ao desenvolvimento. Da nossa sociedade em termos políticos de cultura cívica, porque a credibilidade das instituições passa por haver a noção de que há uma investigação cabal, rigorosa, com total transparência, no que respeita à vida financeira dos políticos, ao funcionamento das instituições políticas, à utilização dos fundos públicos".

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