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Reguladores: a última fronteira do progresso

Com o crescimento da inteligência artificial e da manipulação genética, as entidades reguladoras têm um papel acrescido porque são a garantia de que “a inovação é sempre desenvolvida no respeito pela ética”, explica Alexandra Vilela, administradora da Agência Nacional de Inovação (ANI), uma das entidades com esse papel em Portugal.

31 de Março de 2023 às 14:00
O crescimento da inteligência artificial torna ainda mais premente a necessidade de entidades reguladoras no mercado Getty Images
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Queremos a cura para o cancro e outras doenças mas temos medo do desenvolvimento da ciência. Se nada fizermos para impor limites ao avanço da inteligência artificial teremos um mundo dominado por máquinas a lembrar os filmes de ficção científica? Dilemas que o mundo enfrenta atualmente numa base diária. E é neste jogo do progresso a alta velocidade que entram os "árbitros" entre as empresas que desenvolvem produtos inovadores e os consumidores: os reguladores. Em Portugal, a Agência Nacional de Inovação (ANI) é uma dessas entidades.

Em entrevista ao Jornal de Negócios. Alexandra Vilela, administradora da ANI, explica a importância destes intermediários. "Alguns exemplos interpelam a sociedade a refletir nesse equilíbrio - entre o potencial da ciência dos dados e da inteligência artificial para encontrar soluções para melhorar o funcionamento das sociedades e a proteção dos nossos dados pessoais e da reserva da vida privada. Onde deve estar o limite e o equilíbrio? Entre a necessidade de aprofundar a investigação médica e a biotecnologia para encontrar resposta para as doenças dos nossos tempos e os limites éticos da manipulação genética?", questiona.

Os vários reguladores zelam para que a concorrência entre empresas seja leal, pelo bom funcionamento dos mercados, a proteção do ambiente e a defesa dos consumidores. "Neste contexto, exercem um papel fundamental na garantia de que a inovação é sempre desenvolvida no respeito pela ética, pela igualdade de oportunidades e pelos direitos dos consumidores", sublinha a administradora da Agência Nacional de Inovação.

Quanto à inovação desenvolvida pelas empresas, Alexandra Vilela refere que os reguladores são fundamentais para assegurar o cumprimento dos enquadramentos legais e a supervisão da concorrência e do funcionamento dos mercados, garantindo também que o progresso tecnológico é socialmente responsável e promotor de um desenvolvimento justo.

Os reguladores desempenham um papel crucial nesse equilíbrio, garantindo que a inovação aconteça dentro de limites aceitáveis e sem comprometer a segurança, a privacidade e a justiça.

Têm a responsabilidade de manter um quadro regulatório equilibrado que incentive a pesquisa e o desenvolvimento, sem comprometer a segurança e o bem-estar dos cidadãos. Isso inclui a definição de padrões mínimos de qualidade e desempenho, a promoção de políticas de propriedade intelectual justas e eficazes e a criação de incentivos para a inovação, como financiamento e apoio à pesquisa. Além disso, os especialistas sugerem o estabelecimento de parques tecnológicos, incubadoras e aceleradoras, para ter um ecossistema favorável ao surgimento e crescimento de empresas inovadoras.

Regulamentos flexíveis

Os reguladores enfrentam o desafio de acompanhar o ritmo acelerado das mudanças tecnológicas e garantir que o quadro regulatório permaneça relevante e eficaz. Para isso, devem estar atentos às novas tendências e desenvolvimentos, como inteligência artificial, biotecnologia e energia renovável, e adaptar as suas abordagens e políticas aos paradigmas que, entretanto, vão surgindo no horizonte. O que implica criar regulamentações mais flexíveis e baseadas em princípios que podem ser ajustados à medida que novas informações e conhecimentos são adquiridos.

O maior desafio enfrentado pelos reguladores passa porcombinar a sua atividade semlimitar a efetiva capacidadede inovar Alexandra Vilela
Administradora da Agência Nacional de Inovação
Outro desafio dos reguladores é equilibrar os interesses concorrentes de diversos stakeholders, incluindo inovadores, consumidores, investidores e a sociedade em geral. Significa encontrar soluções que maximizem os benefícios da inovação para todos, garantindo ao mesmo tempo que os riscos são geridos de maneira adequada. Isso envolve a consulta e colaboração com uma ampla gama de partes interessadas, incluindo especialistas do setor, académicos e representantes da sociedade civil.

Combater monopólios

Um dos objetivos fundamentais dos reguladores é garantir que a inovação ocorre num ambiente competitivo e que a formação de monopólios e práticas anticoncorrenciais são evitadas. Por isso devem monitorizar e tomar medidas contra empresas que procurem restringir a inovação através de práticas desleais, como a aquisição de startups promissoras apenas para eliminar a concorrência. Para Alexandra Vilela, "o maior desafio enfrentado pelos reguladores passa por combinar a sua atividade sem limitar a efetiva capacidade de inovar. O equilíbrio entre a segurança e a inovação é difícil, uma vez que a evolução tecnológica, cada vez mais acelerada, muitas vezes ultrapassa as fronteiras dos atuais quadros normativos, colocando questões de natureza legal, ética e mesmo societal".

Ao mesmo tempo, conclui a administradora da ANI, o estado da arte evolui rapidamente, tornando complexo o acompanhamento técnico por parte dos reguladores, o que muitas vezes conduz a tomadas de decisão que podem inibir o desenvolvimento da inovação.


| Reguladores da inovação em Portugal

Agência Nacional de Inovação (ANI)
A ANI é uma agência pública que promove a inovação em Portugal, incentivando a investigação e o desenvolvimento tecnológico, bem como a colaboração entre empresas e instituições académicas e de investigação. A ANI financia projetos inovadores e apoia o empreendedorismo e a transferência de tecnologia.

Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM)
A ANACOM é a entidade reguladora das comunicações em Portugal, sendo responsável pela regulação e supervisão do setor das comunicações eletrónicas e dos serviços postais. A Autoridade Nacional de Comunicações promove a inovação e a concorrência no setor, assegurando que os consumidores beneficiem das melhores condições de preço, qualidade e diversidade de serviços.

Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE)
A ERSE é a entidade responsável pela regulação do setor energético em Portugal. A Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos promove a inovação e a eficiência energética, bem como a adoção de energias renováveis e tecnologias limpas.

Autoridade da Concorrência (AdC)
A AdC é a autoridade que regula e promove a concorrência no mercado português, garantindo que as práticas comerciais sejam justas e equitativas e incentivando a inovação e o crescimento económico.

Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM)
A CMVM é a entidade reguladora dos mercados financeiros em Portugal, sendo responsável pela supervisão e regulação das atividades relacionadas com valores mobiliários e instrumentos financeiros. A CMVM promove a inovação no setor financeiro, garantindo a estabilidade e a integridade do mercado.

Outros órgãos governamentais
Como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e o Ministério da Economia, que também desempenham um papel na promoção e regulação da inovação em Portugal.


  As funções dos reguladores

Promoção da inovação
Os reguladores incentivam a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções inovadoras, através de subsídios, incentivos fiscais e parcerias público-privadas.

Criação de ambientes propícios
Estabelecendo parques tecnológicos, incubadoras e aceleradoras, as entidades reguladoras fomentam um ecossistema que favorece o surgimento e crescimento de empresas inovadoras.

Regulação e supervisão
Os reguladores garantem que os avanços tecnológicos ocorrem de forma segura e responsável, protegendo os direitos e interesses dos consumidores e prevenindo riscos sistémicos que possam afetar a estabilidade e integridade do mercado.

Adaptação e flexibilidade
Os reguladores precisam de ser capazes de se adaptar rapidamente às mudanças no ambiente tecnológico, atualizando regras e normas conforme necessário, o que exige agilidade e capacidade de prever as implicações das inovações emergentes.

Colaboração e coordenação
A cooperação entre entidades reguladoras nacionais e internacionais é fundamental para enfrentar os desafios associados à inovação e garantir uma abordagem harmonizada em termos de regulamentação. Essa colaboração é preciosa.
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