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Paulo Rosado aponta o caminho para um Portugal e uma Europa mais inovadores

Portugal precisa de uma transformação estrutural para competir no mercado global. O fundador e CEO da OutSystems fala dos desafios à inovação na Europa, desde o tema da rigidez laboral à valorização da educação. Com propostas diretas, deixa claro que a mudança é imperativa para ganhar vantagem competitiva.

07 de Fevereiro de 2025 às 08:00
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    A Europa enfrenta desafios profundos para se afirmar como líder em inovação tecnológica e empresarial, numa corrida dominada pelos Estados Unidos. Paulo Rosado, fundador e CEO da OutSystems, é o convidado do primeiro episódio da segunda temporada do InovCast, um podcast de conversas de inovação que está integrado no Prémio Nacional de Inovação.

    O CEO da OutSystems, vencedor do prémio Personalidade na edição do ano passado do Prémio Nacional de Inovação, partilha nesta conversa a história da criação da empresa, o seu fator diferenciador e o impacto da inteligência artificial no desenvolvimento do negócio. Aborda a competitividade da Europa e de Portugal, identificando os principais obstáculos e sugerindo mudanças para transformar o ecossistema de inovação e impulsionar um ambiente empresarial mais dinâmico no país e no continente.

    Fundada em 2001, a OutSystems surgiu no mercado numa altura de grande turbulência no setor tecnológico. O rebentar da bolha da internet, entre 2001 e 2002, criou um ambiente de incerteza para muitas empresas do setor. No entanto, foi neste contexto desafiante que Paulo Rosado e a sua equipa identificaram um problema estrutural no desenvolvimento de software e lançaram uma solução inovadora que viria a revolucionar o mercado.

    A OutSystems posicionou-se como pioneira no desenvolvimento de plataformas de low-code, permitindo que as empresas criassem e adaptassem rapidamente aplicações sem as limitações dos métodos tradicionais de desenvolvimento. A grande diferença estava na forma como abordavam o problema. Em vez de assumirem que os requisitos dos projetos eram imutáveis, partiram do princípio de que as necessidades dos negócios estavam em constante evolução. Assim, desenvolveram uma plataforma que reduz drasticamente o custo e o tempo necessário para modificar software, tornando a adaptação às mudanças uma vantagem competitiva.

    Ao longo dos anos, a empresa consolidou-se como um unicórnio tecnológico, alcançando uma avaliação de mercado superior a um mil milhões de dólares em 2018. Hoje, a OutSystems continua a liderar o setor, apostando na integração da inteligência artificial no desenvolvimento de software para aumentar a eficiência e a velocidade dos processos de negócio.

    Quatro momentos críticos

    Ao longo da sua trajetória, a OutSystems enfrentou diversos momentos críticos, comuns ao crescimento de startups de base tecnológica. O CEO identifica esses momentos em quatro grandes desafios. O primeiro foi a crise dos fundadores. A empresa atingiu entre 30 e 70 empregados, e tornou-se necessário criar uma camada de gestão intermédia para lidar com a expansão da equipa. "Muitos fundadores têm dificuldade em delegar responsabilidades, mas essa transição foi fundamental para o crescimento sustentado da OutSystems", reconhece Paulo Rosado.

    O segundo momento crítico foi o crescimento para além do "Dunbar's Number". Com mais de 150 colaboradores, a cultura organizacional da tecnológica precisou de se adaptar para manter a identidade da empresa, ao mesmo tempo que se estruturava para escalar. Seguiu-se a fase dos 250 milhões de dólares de receita. Nesta altura, a OutSystems precisou de se tornar mais eficiente operacionalmente, adotando processos padronizados para garantir um crescimento sustentável.

    E por último, a concorrência com gigantes da indústria. Ao entrar num mercado avaliado em mais de 50 mil milhões de dólares, a OutSystems teve de concorrer diretamente com empresas como a Microsoft e a Salesforce e, para se manter relevante, apostou na qualidade, rapidez e numa execução impecável.

    Os desafios da Europa

    "A Europa tem um problema endémico em relação aos Estados Unidos de falta de competitividade", diz Paulo Rosado, que critica o panorama empresarial, bem como o modelo social de alguns países europeus e o excesso de impostos, que acabam por ser barreiras à inovação. Segundo ele, Portugal é "péssimo nisso", não só pelos impostos, como também porque "qualquer pessoa que tenha sucesso é muitas vezes vista negativamente, o que remove o incentivo para criar novos negócios".

    Nos Estados Unidos, a realidade é distinta. Paulo Rosado descreve o mercado norte-americano como "altamente darwinista", onde as empresas vivem uma constante seleção natural. "Quando aparece uma coisa nova, aparece um enxame de startups a tentarem apanhar aquele mercado, há umas que são bem-sucedidas, mas a maioria vai ao charco e, portanto, fecham, mas fecham de uma maneira superelegante, rápida e as pessoas que lá estavam, o talento, passada uma semana estão a trabalhar noutros sítios, levando aquela experiência", exemplifica o gestor.

    Esta mentalidade ágil permite que as empresas americanas liderem em setores emergentes como inteligência artificial, cloud computing e mobilidade digital. "A rapidez com que as empresas americanas apanham uma área nova é absolutamente incrível. Portanto, se nós pensarmos que as economias, os setores, estão a ficar cada vez mais comprimidos em termos de disrupções, estas têm tendência a ser apanhadas por sociedades nas quais tudo se move muito mais rápido", salienta Paulo Rosado, sublinhando a dificuldade da Europa em acompanhar esse ritmo.

    A dualidade europeia no mercado global

    Países como a Alemanha e o Japão são mundialmente reconhecidos pela qualidade dos seus produtos. Contudo, Paulo Rosado alerta que "a qualidade é uma coisa que leva tempo, leva processo, é preciso pensar nas coisas, é preciso para fazer bem, é preciso ter algum tempo para fazer aquilo mesmo muito bem". Num mercado em que a rapidez se tornou um fator decisivo, estas economias enfrentam dificuldades em capturar novos mercados com a agilidade necessária. O modelo europeu, caracterizado por regulações laborais rígidas e impostos elevados, limita a resposta às disrupções tecnológicas.

    Para Paulo Rosado, "toda esta sociedade em que o primeiro atributo-topo não é o tempo, não é a rapidez de ir para o mercado e criar um produto que seja inovador, em que há outras coisas, é sempre mais lenta". Neste contexto, em que tudo se está a mover a uma velocidade muito mais rápida, o gestor diz que é natural todas as áreas novas acabarem por ser "apanhadas" pelos Estados Unidos. "Foi assim que aconteceu, por exemplo, do ponto de vista da tecnologia, com o mercado dos telefones, dos smartphones, aconteceu com o mercado de cloud, em que os hyperscalers, como é o caso da Amazon, Azure, Google, um bocadinho do Oracle, são dos americanos, e na Europa nunca conseguimos fazer isso. E o mesmo está a acontecer com a IA", acrescenta Paulo Rosado.

    Prioridades para uma Europa inovadora e competitiva

    Para estimular a inovação em Portugal e na Europa, Rosado é claro nas suas propostas: "Baixava os impostos." Segundo ele, um Estado eficiente deve ser "superpequenino, mas altamente inteligente", garantindo um ambiente regulatório simples, proteção ambiental eficaz e boas auditorias. Outro ponto crucial é a flexibilização laboral. "Empreendedores não podem estar a pensar durante um ano ou dois se cada pessoa contratada será uma liability que não conseguirão pagar caso haja dificuldades", alerta Rosado, referindo-se à insegurança que trava a criação de emprego e a expansão das empresas.

    A educação surge como outro eixo fundamental para garantir um ecossistema inovador e competitivo. Embora reconheça progressos, como a introdução do inglês no ensino primário, o gestor defende que sejam feitas mudanças mais profundas, nomeadamente ao nível da forma como são tratados os professores. "Há uma falta de exigência do ponto de vista de qualidade, mas ao mesmo tempo também é preciso alterar a visão, o modo como é visto um professor. Um professor é uma pessoa muito mais importante do que um jogador de futebol. Não há hipótese", refere o fundador da OutSystems. Paulo Rosado aponta também a necessidade de renovar o corpo docente, uma vez que há poucos novos profissionais a ingressar na profissão, mas diz-se confiante na determinação do atual ministro da Educação, que considera "um bom executor com um grande espírito de missão."

    Transformação é imperativa para o futuro europeu

    A conversa com Paulo Rosado deixa uma mensagem clara: a Europa precisa de uma transformação estrutural para competir com os Estados Unidos. Com a redução de impostos, maior flexibilidade laboral e um investimento sólido na educação, Portugal e outros países europeus podem criar um ambiente mais dinâmico e inovador.

    Além disso, é fundamental estarmos preparados para o impacto dos agentes artificiais e outras inovações tecnológicas que já transformam os sistemas de informação. O futuro traz disrupção, mas também oportunidades. Como Paulo Rosado salienta, "estamos no meio da máquina de lavar e está tudo a mudar".

    O futuro

    A OutSystems continua a inovar, incorporando novas tecnologias como a inteligência artificial na sua plataforma. Esta integração permite reduzir ainda mais os tempos de desenvolvimento, trazendo um salto significativo na modernização do software legado das empresas.

    Para Paulo Rosado, o segredo do sucesso está na capacidade de compreender as necessidades do mercado e responder com soluções que simplificam processos complexos. A OutSystems não apenas sobreviveu a momentos críticos, como emergiu mais forte, provando que a inovação e a resiliência são elementos essenciais para construir uma empresa de referência a nível global.

    Pode ouvir esta conversa na íntegra com Paulo Rosado, na qual são desvendados os desafios para posicionar Portugal e a Europa como líderes na inovação global.

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