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Hoje vivemos numa era de software ubiquitário, que nos permite absorver tudo, em todo o lado, ao mesmo tempo, como no filme premiado este ano pelos Óscares.
Os programas informáticos de última geração tornaram as nossas vidas mais fáceis e transformaram indústrias inteiras, do setor financeiro ao da saúde.
A história do software continua, no entanto, em constante evolução, com novas tecnologias como a inteligência artificial e a computação em nuvem.
O desenvolvimento de software de próxima geração surge como uma abordagem para criar programas usando as tecnologias e técnicas mais recentes, projetadas para serem mais eficientes, escaláveis e sustentáveis. Isso significa usar linguagens de programação, estruturas e plataformas de computação em nuvem de ponta, além de alavancar inteligência artificial e algoritmos de aprendizagem de máquina.
O software de próxima geração é centrado no utilizador, adaptado rapidamente às mudanças e necessidades e aos cenários tecnológicos em permanente mutação.
Uma história fascinante
A história do software é uma jornada fascinante que remonta aos anos 40 do século passado, quando os primeiros programas de computador foram criados. Com tarefas simples mas já notáveis, o objetivo desses programas era automatizar cálculos numéricos e outras tarefas de processamento de dados, sustentados pelos primeiros computadores, de porte imenso, caros e altamente complexos.
Um dos primeiros programas de computador foi utilizado no ENIAC – um computador digital eletrónico de grande escala –, desenvolvido em 1944, concebido para calcular trajetórias balísticas durante a Segunda Guerra Mundial e considerado hoje um marco importante no desenvolvimento da tecnologia de computação.
Com o tempo, as capacidades de processamento de dados dos computadores aumentaram, permitindo a criação de programas mais avançados e sofisticados. Na década de 60 do século passado, a linguagem de programação BASIC foi desenvolvida, tornando a programação mais acessível para os não programadores. Além disso, surgiram os primeiros sistemas operacionais, como o Unix e o DOS, que permitiram que os utilizadores interagissem com os computadores de maneira mais intuitiva.
Mais fácil e intuitivo
Na década de 70 do século XX, a proliferação de computadores pessoais levou à criação de programas de software para as massas. O advento dos sistemas operacionais gráficos, como o Windows, tornou a interação do utilizador com o computador ainda mais fácil e intuitiva. Surgiram os primeiros editores de texto, folhas de cálculo, programas de navegação na internet e uma infinidade de outros programas de software.
Daniel Luz, head of delivery na Atos, assume ser inquestionável que os desafios da nossa era se focam na gestão do volume de dados que diariamente são gerados, impactando as tendências do desenvolvimento do software. "A informação cresce a um ritmo exponencial e pressiona a evolução das plataformas e da infraestrutura para permitir a exploração e análise dessa informação".
Daniel Luz
Head of delivery na Atos
Até porque, hoje, não dispensamos toda a vertente de IoT (Internet das Coisas) e sensorização para controlo dos ambientes de produção, das nossas cidades ou das nossas casas. Assim como aceitamos que o nosso perfil de navegação tenha uma ligação direta com a informação que nos é "oferecida" pelo algoritmo nos wearables e smartphones. "Vamos continuar a programar em torno do volume de dados crescentes e dos modelos inteligentes e preditivos de inteligência artificial. Estamos todos a assistir ao nascimento da primeira geração de sistemas colocados ao serviço da sociedade. Muito em breve, estes modelos serão considerados como utilities e estarão embebidos em tudo o que desenvolvemos e criamos."
Software alinhado com o negócio
Daniel Luz lembra que o desenvolvimento é hoje mais rápido do que nunca, com os paradigmas, frameworks e modelos de gestão a serem heterogéneos e focados na produtividade dos ciclos de desenvolvimento em modelos ágeis. "Existem diferenças em conhecer uma plataforma de desenvolvimento e as suas potencialidades, e em conhecer a arquitetura sob a qual a mesma é construída. Isto é, se por um lado consigo criar e desenvolver com produtividade, por outro, a qualidade e a escalabilidade da minha arquitetura estão limitadas pela forma como a plataforma gere os recursos".
Aliás, para o executivo da Atos, o desenvolvedor será conduzido na implementação de software mais pela plataforma do que pela sua definição ou desenho de arquitetura. "A formação superior caminha para um alinhamento das tecnologias de informação com áreas de negócio, automatização e analítica – e não obrigatoriamente em cursos exclusivamente de TI."
Aposta na cibersegurança
Ao nível dos sistemas de informação, Daniel Luz sugere que a vertente de cibersegurança será um dos vetores nos quais os desenvolvedores terão de aumentar a sua consciência e conhecimento, pois é inevitável que, num mundo 100% digital, se minimize o risco e as vulnerabilidades do sistema. "Aplicamos aqui o mesmo paradigma do desenvolvimento ágil: não limitar a qualidade do que fazemos apenas pela capacidade da plataforma."
Tendência de menos código
Uma das tendências apontadas no desenvolvimento de software da próxima geração é a denominada programação no-code e low-code, abordagens que visam tornar a criação de aplicações mais acessível para pessoas com pouco ou nenhum conhecimento em programação.
marketing and operations director da Masterlink
A programação no-code utiliza ferramentas de automação de fluxo de trabalho para permitir a criação de aplicações com um simples "arrastar e soltar" – o famoso "drag and drop" – enquanto a programação low-code usa uma combinação de codificação visual e tradicional para permitir que desenvolvedores sem muita experiência criem aplicações de maneira mais eficiente. Daniel Luz diz que esta é uma das áreas nas quais, por exemplo, a Atos mais aposta "e em que temos maiores expectativas de crescimento", sustentando que "estas plataformas têm um potencial muito grande em entregar de forma ágil e alinhada com os objetivos de negócio, algo a que nenhuma organização se pode negar na economia atual".
Gestão mais simples das plataformas
Outro benefício apontado pelo executivo é o facto de estes conceitos assentarem em modelos cloud nativos, tornando simples a gestão e manutenção das plataformas, garantindo os standards de segurança e a sua atualização ao longo do tempo. "O crescimento destas plataformas e a adoção por parte dos clientes têm como desafio a estabilização e previsibilidade dos modelos de subscrição e a transposição desses custos para os orçamentos e modelo de custo operacional das empresas".
Recursos são escassos
Num contexto de fortíssima pressão para que as organizações se tornem cada vez mais eficientes e competitivas, mais próximas do seu cliente ou utente final e, portanto, sem condicionantes físicas – localização, disponibilidade horária, entre outras –, o digital assume-se, ou reforça-se, como o propulsor natural. "Esta tendência, que não é nova, é crescente e esgota os recursos ‘naturais’ disponíveis com alguma avidez, comprometendo os objetivos estratégicos de uma alargada maioria de organizações, resultando no conhecido sintoma de escassez de recursos humanos com competências técnicas", comentou Nuno Rosa, marketing and operations director da Masterlink. Focado no desenvolvimento de software, a tendência do digital não pode, para o especialista, ficar refém desta escassez de competências especializadas. "A democratização da capacidade de criar aplicações será o fator-chave determinante: que uma equipa de profissionais especializados no seu negócio consiga ter autonomia completa ou, no mínimo, uma participação ativa na automatização e digitalização dos seus processos de negócio", com a abordagem no-code e low-code.
Nesta contínua evolução do software, Nuno Rosa admite que o mercado continuará naturalmente recetivo a, por exemplo, soluções verticais, nomeadamente em cenários em que a solução inclui conhecimento de negócio, padrão ao setor, ou área a que se destina, ou obedece a critérios de compliance legal, como são os casos de CRM, ERP ou software de faturação.
Inteligência Artificial terá papel fundamental
Entre outras tendências, a inteligência artificial (IA) terá obviamente um papel na criação de aplicações. "A recente onda de novidades relacionadas com a inteligência artificial traz enormes expectativas em várias áreas, em que o desenvolvimento de software não fica excluído. É difícil antecipar um caminho absolutamente claro e único nesta matéria, mas podemos adiantar que há um espaço que nos parece bastante claro e de elevado interesse." Nuno Rosa deu o exemplo da tradução de requisitos enunciados em linguagem natural em aplicações completamente funcionais, ou de aplicações adaptativas e que se ajustam automaticamente às necessidades com base na análise contínua da sua utilização e da real experiência de utilização. "A inteligência artificial trará a agilidade que as abordagens mais humanizadas não podem garantir".