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O maravilhoso futuro da inteligência artificial… responsável

A inteligência artificial promete transformar diversos setores económicos, impulsionando o crescimento e gerando oportunidades, mas também enfrenta desafios significativos, como o impacto no emprego e a necessidade de práticas responsáveis na sua implementação.

Susana Marvão 09 de Fevereiro de 2024 às 15:55
Paulo Dimas, vice-presidente para a Inovação da Unbabel
Paulo Dimas, vice-presidente para a Inovação da Unbabel Tony Dias/Movephoto
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A Inteligência Artificial (IA) é a nova eletricidade. Transformará todos os setores e criará um enorme valor económico, referiu Andrew Ng, referência em machine learning e IA, no início de 2017. Hoje, já se quantifica. A McKinsey, em junho do ano passado, projetava que, numa década, a geração de valor da IA generativa – sistemas de inteligência artificial que podem criar conteúdo novo e original, desde texto, imagens, música até código de software, aprendendo a partir de grandes conjuntos de dados – será 10 vezes o produto interno bruto nacional, com áreas de grande crescimento, a serem a banca, a indústria farmacêutica e produtos médicos e a educação.



"Estamos cientes de que estamos perante uma grande transformação a nível de criação de valor ou crescimento económico", disse, na conferência de lançamento do Prémio Nacional de Inovação (PNI), Paulo Dimas, vice-presidente para a Inovação da Unbabel e líder do consórcio Center for Responsible AI.

Um recente estudo da Public First, encomendado pela Google, estima que ferramentas de IA generativa podem pôr Portugal na linha da frente tecnológica, com a economia portuguesa a poder crescer 15 mil milhões de euros à boleia da inteligência artificial. Paulo Dimas explora que, se por um lado estamos a desacelerar a nível de crescimento de produto, seja na Alemanha ou Portugal, "há aqui uma oportunidade transformadora única na história da tecnologia".

 

Há profissões que nunca serão substituídas

Esta oportunidade terá impacto no emprego e no mercado de trabalho, sublinha Paulo Dimas. Já em janeiro deste ano, um estudo do Fundo Monetário Internacional citado pelo especialista dava conta de que, de forma global, 40% dos empregos vão ser impactados e expostos à inteligência artificial, uma percentagem que sobe para os 60% nas denominadas economias avançadas.

Toda esta nova realidade derivou numa nova "métrica" denominada AI Exposure, ou seja, um conceito que se refere à capacidade potencial da inteligência artificial (IA) de afetar tarefas ou competências específicas, uma medida que avalia a probabilidade de automação de determinadas atividades.

Paulo Dimas dá o exemplo de telemarketing, que está associado a uma elevada AI Exposure, enquanto outras profissões, como médicos, juízes ou controladores de tráfego aéreo, não vão ser substituídos, mas antes complementados e potenciados pela inteligência artificial. E em três vertentes: comunicação, criticidade e responsabilidade. "A comunicação cara a cara vai sempre existir entre pessoas e não entre pessoas e máquinas. Nenhum doente vai aceitar um diagnóstico de uma doença grave através de uma máquina. Por outro lado, as decisões críticas, como as efetuadas por um controlador de tráfego aéreo, têm de ser tomadas por humanos. Finalmente, a responsabilidade de uma decisão em tribunal terá de ser humana." Isto apesar de, segundo a OpenAI, o GPT-4 ter melhores resultados do que 90% dos advogados no exame de acesso à Ordem nos Estados Unidos.

O especialista focou ainda a tendência, que terá impacto em muitas empresas, da Inteligência Artificial derivar para modelos de linguagem especializada em determinados domínios, dando como exemplo a indústria farmacêutica ou tradução.

 

O que faz sentido é pensar em inteligência artificial como uma forma de atacar os grandes problemas da nossa civilização, como as alterações climáticas, ou recuperar mais rapidamente dos efeitos de uma pandemia. Paulo Dimas
Vice-presidente para a Inovação da Unbabel

IA não ameaça humanidade

Perante esta realidade, será que a inteligência artificial irá destruir a humanidade?, questiona em forma de sátira Paulo Dimas. "Não, isto é um enorme disparate, não faz qualquer sentido", disse de forma perentória. "O que faz sentido é pensar em inteligência artificial como uma forma de atacar os grandes problemas da nossa civilização, como as alterações climáticas, ou  recuperar mais rapidamente dos efeitos de uma pandemia. Esta é a mensagem positiva que gosto sempre de deixar." 

Mas existem sérios riscos, nomeadamente na área das eleições, com o recente exemplo vindo dos Estados Unidos, em que numa "robocall" foi usada a voz do Presidente em exercício, Joe Biden, a incitar as pessoas a não irem exercer o seu direito de voto. "Isto vai acontecer numa escala brutal e é um risco enorme até porque, como mencionou Yuval Noah Harari, consegue criar um nível de intimidade com as pessoas arrepiante."

O Fórum Económico Mundial considerou-o mesmo o maior risco atual da nossa espécie.

Tudo isto apela à denominada IA Responsável, uma prática de desenvolver e utilizar sistemas de IA de uma forma ética, transparente e socialmente benéfica, o que implica considerar o impacto das tecnologias de IA na sociedade, garantir a equidade e a justiça na sua implementação e mitigar quaisquer riscos potenciais, como viés algorítmico ou privacidade dos dados.

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