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A Associação Empresarial para a Inovação (COTEC Portugal) é a principal associação empresarial portuguesa para a promoção da inovação e cooperação tecnológica. As atividades da associação incluem a antecipação e reflexão sobre temas chave da inovação com impacto na competitividade das empresas, a ativação de plataformas e redes colaborativas e a contribuição para a melhoria de políticas públicas em matérias de inovação.
A COTEC é uma das entidades que se associou ao Prémio Nacional de Inovação (PNI), uma iniciativa do Jornal de Negócios, do BPI e da Claranet, que conta com a parceria da Cotec Portugal e a Nova SBE como knowledge partner.
O diretor-geral da COTEC Portugal, Jorge Portugal, aborda nesta entrevista a importância da inovação na competitividade da economia e do país.
Que balanço faz da atuação da COTEC nos últimos anos?
A COTEC tem vindo a consolidar o seu posicionamento de marca-estrela do sistema de inovação em Portugal, procurando, nos últimos anos, em condições de adversidade múltipla, manter o foco na produção de uma indispensável cultura de inovação no tecido empresarial. Têm sido anos de progressivo reconhecimento do papel central das empresas não só na Economia, mas também na Sociedade – e muita desta evolução é protagonizada por associados e por outras organizações que participam nas iniciativas da COTEC.
A COTEC tem cumprido de forma eficaz a sua missão de contribuir para a melhoria das condições das empresas para crescerem e criarem valor a partir do conhecimento e da inovação. Temos considerado uma abordagem à inovação como o principal fator de competitividade empresarial, seja ao nível da capacitação das empresas, seja na ligação destas com o sistema científico, seja ainda no apoio aos decisores políticos na conceção e implementação de instrumentos de política pública eficientes e centrados na criação de valor para o tecido empresarial.
Hoje, que importância tem a inovação no contexto empresarial?
O estado natural de uma empresa é o crescimento e a inovação é o fertilizante certo para a realização desse desígnio. É da inovação, como parte integrante da gestão estratégica de uma empresa, que saem as decisões geradoras de maior valor. A inovação está a passar de uma excentricidade a um hábito saudável das lideranças mais bem-sucedidas. A inovação permite compatibilizar o crescimento com a rentabilidade. Sem inovação, a posição da empresa está condenada ao declínio.
Até que ponto a inovação está diretamente ligada aos índices de competitividade?
Um bom nível de competitividade é a prova dos nove de uma gestão ambiciosa. Escolher a ambição como atitude primordial para o negócio é a melhor opção para investidores e gestores. E, bem sabemos, como a ambição é inimiga do comodismo, da burocracia, da repetição defensiva de esquemas de trabalho, do "sempre foi assim que se fez". A inovação é a resposta positiva aos medos de abraçar a competitividade, como paisagem natural dos mercados.
A inovação é um pilar central da competitividade da economia e das empresas, quer através dos fatores de contexto – talento, infraestruturas, sistemas de incentivos – quer das competências e processos internos de gestão, maturidade tecnológica, relações com o sistema científico.
Atualmente, como se encontra Portugal no capítulo da inovação quando comparado com os restantes países europeus?
Portugal é um país surpreendente, se considerarmos a sua dimensão relativa e a sua localização no espaço europeu. As maiores surpresas positivas estão diretamente ligadas a este capítulo da inovação. A apetência pela inovação, que notamos em boa parte do tecido empresarial português, começa a estar ligada à compreensão do papel essencial do conhecimento, da investigação técnica e científica. Os empresários portugueses, em matéria de valorização da inovação, comparam bastante bem com os seus pares europeus. Já em termos "nominais", Portugal está situado no ranking europeu na segunda parte da tabela, acompanhado pelos outros países COTEC, Itália e Espanha. Mas, se analisarmos o nosso desempenho segundo a dimensão da eficiência do sistema de inovação, verificamos que Portugal tem utilizado bastante bem os recursos que investe. Sendo necessário continuar a investir no crescimento do investimento em conhecimento, este investimento tem de ser orientado para a maior participação em cadeias de produção de bens e serviços de maior valor acrescentado.
O que falha, em Portugal, no contexto da inovação?
A inovação trabalha-se, aprende-se, experimenta-se e tudo isso leva tempo e, sobretudo, exige a convergência de vontade de atores económicos, académicos, sociais e políticos. Por razões culturais de diversa natureza, entranhados na sociedade portuguesa, tem falhado a articulação entre o sistema de ensino e o mundo do trabalho. Há, ainda, disfuncionalidades, nomeadamente, na relação entre o nível superior de doutoramentos e o nível de liderança estratégica das empresas – são dois mundos que vivem numa estranha ilusão de autossuficiência…
O sistema científico e as empresas têm de estabelecer relações mais estruturais e sistemáticas. Para isso, o alargamento da formação doutoral ao ambiente empresarial e as "sabáticas" de investigadores nas empresas, poderão constituir fatores críticos para melhorar a capacidade das empresas de inovarem com maior impacto económico.
Um estudo de 2021, do European Innovation Scoreboard, mostra que Portugal ficou no 19º lugar num total de 27 países que são analisados neste relatório estatístico da União Europeia, sendo identificado como um "inovador moderado". Como podemos melhor este indicador?
A subida portuguesa neste ranking tem diretamente a ver com o alargamento significativo de empresas que incorporam a inovação como conceito e prática central dos seus processos de produção e de venda. O nosso atual 19º lugar exprime uma média acompanhada de um elevado desvio padrão… O nosso país engloba alguns grandes inovadores e muitos pequenos inovadores: harmonizar estas categorias é a única forma saudável e consistente de melhorar esta insatisfatória classificação de "inovador moderado". Os indicadores agregados de inovação refletem uma enorme heterogeneidade de situações entre sectores e dentro dos próprios sectores, como a COTEC identificou no relatório de 2021 que publicámos conjuntamente com a Universidade de Aveiro sobre o impacto da utilização do conhecimento nos sectores exportadores. No curto prazo, será necessário continuar a intervir para encurtar as diferenças entre empresas em termos da sua capacidade de aplicação do conhecimento em processos de inovação. Este novo Programa Quadro será decisivo no apoio às empresas na revitalização dos seus modelos produtivos, da sua oferta e do próprio modelo de negócio.
Qual o papel de instituições como a COTEC nesta matéria?
A COTEC assume plenamente o dever de cidadania económica e social nesta matéria. A moderação em inovação não é algo que nos satisfaça. A COTEC é uma organização de base empresarial que valoriza a ambição como atitude de partida para as suas ações. Uma das suas funções mais importantes reside no reconhecimento e respetiva divulgação das melhores práticas de inovação. E há uma pedagogia COTEC, que se exprime na harmonização entre a solidez financeira e a solidez da gestão e a visão e consequente afetação de recursos dirigidos ao que ainda não é sólido, mas demonstra ter potencial de vir a ser, com mais criação de valor. O Estatuto Inovadora COTEC é a evidência do nosso inconformismo perante o moderado 19º lugar, de que temos vindo a falar. O nosso posicionamento é único, já que integramos no núcleo dos nossos associados e parceiros empresas, instituições de ensino superior e organismos da administração pública, o que nos confere a capacidade de intervenção na definição das prioridades dos instrumentos de política pública, na sua execução e transformação em valor pelas empresas.
Quais os grandes objetivos da COTEC para os próximos dois anos?
A COTEC quer ter um papel significativo numa indispensável convergência de ação pelo crescimento e transformação socioeconómica do país e quer colocar as empresas no centro de um sistema de inovação mais impactante, equilibrado e eficiente. Vemos a empresa como unidade de sentido para uma imprescindível subida de nível de Portugal no mundo.
Temos verificado que estar em ambiente COTEC favorece o mecanismo de elevador empresarial e, ainda, que as melhores empresas da comunidade COTEC demonstram ter um compromisso de longo prazo com o crescimento e a criação de valor.
O plano estratégico "A Inovação para Portugal 2022-2025", recentemente apresentado, aponta para a intensificação neste período do papel transformador da COTEC, nomeadamente no campo das PME, que encontram na inovação a base conceptual e prática para atingir maior nível de competitividade. A COTEC estabelece neste seu plano a missão de melhorar o funcionamento do sistema de inovação, seja no mercado do conhecimento, a intensidade de adoção das tecnologias digitais, o investimento em ativos intangíveis e o financiamento do crescimento das empresas inovadoras.
Quem deve liderar a inovação? O estado ou o mundo empresarial? Os dados de 2021 do Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional indicam um aumento do investimento em inovação e desenvolvimento, em que o setor privado é responsável por 57% do investimento nacional.
É tempo de derrubar barreiras artificiais entre público e privado, entre os deveres do Estado e as iniciativas das empresas. A COTEC procura continuamente ligar as pontas de um já vibrante sistema de inovação e tem demonstrado como é essencial promover mecanismos de convergência e de colaboração em contextos competitivos. As empresas devem definir a sua estratégia de mercado e a ambição de crescimento. A inovação é uma opção de investimento, que exige alocação de recursos e processos de gestão. Ao Estado compete investir para mitigar falhas de mercado, partilhar risco, reduzir barreiras e burocracia desnecessária e criar um contexto de estímulos e apoios que permitam às empresas, a partir de Portugal, apostar em produtos e serviços inovadores e de maior valor acrescentado.
Que impacto teve a Covid-19 nos processos de inovação?
É sabido que esta crise obrigou as empresas a intensificar e consolidar a adoção de tecnologias digitais em alguns processos, como por exemplo o trabalho remoto. Mas é muito importante compreender que respostas táticas não mudam, necessariamente, os modelos de negócio existentes.
Está, ainda por fazer e, compreensivelmente, uma avaliação serena e aprofundada do impacto da pandemia no que designamos por Economia da Inovação. E fazer essa avaliação é algo de muito aconselhável, se queremos levar a sério o que são, cada vez mais, riscos sistémicos globais, de tipo sanitário ou outro.
Qual a importância de iniciativas como o Prémio Nacional de Inovação?
A COTEC saúda esta relevante iniciativa, que agrega atores essenciais do sistema de inovação. Nós próprios temos vindo, desde a fundação em 2003, a dar destaque às empresas que estão a conseguir criar valor através da tecnologia e conhecimento e assim servem como modelo de inspiração e referência para as restantes. Premiar a inovação, dar visibilidade às melhores experiências e ser capaz de aprender em movimento o que de mais avançado se pratica à escala nacional tem um valor muito grande.
Porque resolveram associar-se a este prémio?
É uma honra para a COTEC ter sido convidada para integrar a primeira edição desta iniciativa, nomeadamente na participação no Júri. Trata-se de uma iniciativa que vai, com certeza, contribuir para reforçar a cultura de inovação das empresas