- Partilhar artigo
- ...

A inovação deixou de ser um conceito abstrato para se tornar um motor essencial no crescimento das empresas. No Grupo Brisa, a transformação através da tecnologia e da colaboração está a moldar o futuro da mobilidade.
Ana Almeida Simões, diretora de Inovação do Grupo Brisa, partilhou a sua visão no InovCast, o podcast do Prémio Nacional de Inovação, sobre o ecossistema de inovação em Portugal, os desafios da colaboração com startups e as estratégias para tornar a empresa cada vez mais inovadora.
Para Ana Almeida Simões, um dos grandes trunfos do ecossistema português de inovação é a disponibilidade para a partilha de conhecimento. “É um ecossistema em que as pessoas são muito abertas, tanto a nível das corporates como das startups”, sublinha. Esta abertura tem vindo a ser reforçada por iniciativas como a Unicorn Factory, o Inov Club e os ecossistemas académicos, que promovem a interligação entre diferentes atores do setor.
No entanto, ainda há desafios a ultrapassar. A integração entre a academia, as empresas e as entidades públicas “não é completa”, e a burocracia continua a ser um entrave significativo. “A falta de orientações claras de como navegar essa burocracia é algo que precisamos de resolver”, destaca Ana Almeida Simões, apontando a Google como um exemplo de agilidade a que Portugal ainda está longe de chegar.
Modelo de inovação que transforma conhecimento em soluções
A capacidade de Portugal em transformar conhecimento em soluções comerciais ainda tem margem para crescimento. “Temos algum medo de dizer que as coisas falham e isso faz com que alguns projetos fiquem em banho-maria”, observa a responsável. Na Brisa, a abordagem é pragmática: testar, avaliar e, se necessário, encerrar rapidamente projetos que não demonstrem viabilidade. “Isso permite realocar recursos para ideias que realmente podem ter impacto”, explica a diretora de Inovação da Brisa.
A Direção de Inovação da Brisa está integrada ao centro corporativo e funciona em sinergia com as cinco unidades de negócio do grupo: Via Verde, Manutenção e Operação de Infraestruturas, Áreas de Conforto Colibri, Control Auto e A-to-Be. “O nosso papel é estabelecer parcerias estratégicas e apoiar as unidades de negócio na procura de soluções inovadoras”, detalha Ana Almeida Simões. Esse modelo permite uma abordagem descentralizada, garantindo que a inovação responde diretamente às necessidades de cada unidade.
Colaborar com startups é um processo que exige estruturação. “As startups precisam de um campeão interno para navegar a burocracia das grandes empresas”, explica a responsável. Na Brisa, esse papel é desempenhado pela Direção de Inovação, que assegura que as startups certas sejam emparelhadas com as unidades de negócio adequadas.
A estratégia está a dar frutos. Em 2023 foram realizados sete pilotos, um número que subiu para 22 em 2024. “Acelerámos muito esta parte, mas também temos que garantir que as unidades de negócio conseguem absorver essas inovações”, alerta Ana Simões.
Venture capital, um novo passo na inovação
O conceito de inovação em infraestruturas pode parecer abstrato, mas a Brisa está a investir em vários projetos concretos. Na segurança rodoviária, por exemplo, estão a ser testadas soluções para deteção automática de incidentes e recolha de objetos na estrada. Na mobilidade conectada, a Brisa está a testar tecnologias que permitirão aos veículos receberem informações sobre o trânsito em tempo real. “Atualmente já enviamos dados para o Waze, mas o futuro passa por garantir que os próprios veículos conseguem reagir autonomamente a essas informações”, afirma Ana Almeida Simões.
Recentemente, a Brisa lançou uma nova área de Venture Capital, que lhe permite investir diretamente em startups e projetos estratégicos na área da mobilidade. “Não se trata apenas de obter retorno financeiro, mas sim de apostar em soluções que possam ser vantajosas para o grupo”, esclarece a diretora de Inovação da Brisa.
A mobilidade elétrica é outro desafio. Ainda há algumas inconveniências, relacionadas com postos de carregamento, mas Ana Almeida Simões garante que a Brisa está a expandir a infraestrutura de carregamento nas autoestradas, de forma a garantir que os condutores possam viajar de norte a sul sem preocupações.
Já a Inteligência Artificial está a ser integrada de forma mais estratégica. “Queremos passar de uma fase de experimentação para um rumo definido”, destaca a responsável. A Brisa está a explorar IA em diversas frentes, desde a otimização da manutenção das infraestruturas até à melhoria da segurança rodoviária. Um dos exemplos é a utilização de IA para deteção automática de incidentes na estrada, permitindo intervenções mais rápidas e eficientes. Além disso, estão a ser desenvolvidos modelos preditivos que ajudam a antecipar padrões de tráfego e melhorar a gestão das autoestradas. “A IA tem um potencial enorme, mas o foco tem de estar em soluções bem estruturadas e alinhadas com os nossos objetivos estratégicos”, explica Ana Simões.
O futuro da inovação deve ser intrínseco
A visão de Ana Almeida Simões para a inovação na Brisa é clara: integrar a inovação de tal forma no grupo que a Direção de Inovação deixe de ser necessária. “Esse é o estado último a que queremos chegar”, conclui a responsável. Para os inovadores, este é um lembrete de que o verdadeiro sucesso da inovação acontece quando ela se torna parte natural da cultura da empresa, sem necessidade de departamentos específicos para impulsioná-la.
Para quem está a começar a inovar, Ana Almeida Simões deixa um conselho essencial, “é muito importante um empreendedor saber qual é o problema que se está a resolver e perceber para onde se quer ir.” Muitas startups apresentam soluções interessantes, mas sem um foco claro. “Muitas vezes tentam resolver vários problemas ao mesmo tempo e perdem eficácia”, alerta. O foco e a resiliência são fundamentais. “Uma startup é uma startup, uma corporate é muitas startups juntas. Os processos vão ser mais lentos, mas são necessários. É preciso resiliência para navegar esta parte”, recomenda a diretora de Inovação da Brisa.