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A fábrica de valor da economia digital do futuro

O metaverso, um espaço digital tridimensional habitado por humanos e inteligências artificiais, tem sido apontado como a próxima grande fronteira da tecnologia e da economia digital. Esta esfera virtual oferece um novo palco para a criação de valor, pois as interações, experiências e atividades realizadas dentro do metaverso têm potencial para gerar riqueza real e tangível.

26 de Maio de 2023 às 14:00
O metaverso é o próximo passo na revolução digital, um mundo virtual que nos aproxima cada vez mais de filmes como “Matrix”. Getty Images/iStockphoto
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O conceito de metaverso representa a próxima evolução da interação digital, avançando da navegação na web em 2D para um ambiente virtual tridimensional, imersivo e interativo. As empresas, as startups e consultoras estão a posicionar-se estrategicamente para capitalizar as oportunidades emergentes de criação de valor no metaverso.

A PwC, uma empresa global de consultoria, é uma das organizações que está a explorar este potencial, tirando partido das suas capacidades em várias linhas de serviços para ajudar os clientes a navegar no metaverso. O grupo de Transformação de Operações da PwC, por exemplo, está a utilizar gémeos digitais para criar cadeias de abastecimento virtuais, enquanto a sua prática de Transformação da Força de Trabalho está a oferecer recrutamento, integração e formação baseados no metaverso. A empresa também ajuda os clientes a compreender e a gerir os riscos relacionados com o metaverso, como a privacidade e a segurança dos dados, as transações e a experiência do utilizador. Por exemplo, a consultora desenvolveu controlos para transações metaversais e ativos digitais, bem como abordagens ao risco e à privacidade dos dados.

A PwC está também a trabalhar para garantir que o metaverso tenha um impacto social positivo, estudando as implicações ambientais, sociais e de governação (ESG) do metaverso e das tecnologias conexas.

Várias startups estão também a contribuir para o desenvolvimento e a expansão do metaverso, abrindo novas vias para a criação de valor. O retalho é um claro exemplo: empresas em fase de arranque estão a facilitar o comércio seguro e a melhorar a experiência de compra no mundo virtual. Ao mesmo tempo, a denominada economia dos criadores, em que estão a ser desenvolvidas ferramentas para ajudar os criadores de conteúdos a criar, distribuir e rentabilizar os seus conteúdos, também está a emergir neste espaço, assim como a tecnologia de avatares, em que as startups estão a trabalhar em tecnologias de avatares sofisticadas para melhorar a representação de indivíduos em espaços virtuais.

BPI já está no metaverso

Portugal pode lucrar destas novas realidades, no sentido de potenciar a dimensão da economia nacional. Afonso Eça, diretor executivo do Centro de Excelência para a Inovação e Novos Negócio do BPI, destaca que tudo isto não é propriamente novo. Recente é a perceção do mundo corporativo em relação a estes fenómenos. "Passamos a ver as marcas interessadas em participar. É raro ver marcas de grande consumo que não tenham um qualquer projeto para o metaverso ou Web 3.0", comenta.

Aliás, o BPI garante ter sido o primeiro banco a lançar um balcão em realidade virtual, uma experiência imersiva que constituiu a primeira etapa da entrada desta instituição no metaverso e que faz parte da sua estratégia de inovação. O denominado O BPI VR é uma agência com dois pisos onde é possível encontrar áreas destinadas a particulares, empresas, à sustentabilidade, aos produtos-prestígio e à AGE, a oferta destinada a públicos mais jovens.

O novo serviço está acessível através do sistema Oculus Quest da Meta e foi criado em parceria com a Unity. Na apresentação deste conceito, que ocorreu em outubro do ano passado, Afonso Eça explicou que a escolha recaiu sobre esta plataforma por ser "escalável" e porque pode ser usada para "realidade aumentada", uma tecnologia que o banco pensa adotar.

O BPI VR já está disponível na app store dos headsets da Meta e também em balcões do banco, em todo o País, onde clientes e potenciais clientes podem entrar nesta experiência imersiva.

A moda no metaverso

A moda virtual é outra das áreas em destaque em todo este novo mundo, gerando inovadores fluxos de receitas para as marcas através da venda de vestuário digital. Um exemplo citado pela revista Forbes são as infraestruturas, com as startups a criarem pilhas de tecnologia específicas para a Web3 e o metaverso.

A indústria de jogos também não escapa a esta realidade, estando agora a surgir modelos de "jogar para ganhar", permitindo que os jogadores ganhem criptomoedas à medida que vão avançando e se envolvendo no jogo. Outro exemplo focado num trabalho apresentado pela Forbes é o entretenimento, com as startups a oferecerem experiências imersivas, sociais e ao vivo.

Passamos a ver as marcas interessadas em participar. É raro ver marcas de grande consumo que não tenham um qualquer projeto para o metaverso ou Web 3.0. Afonso Eça
Diretor Executivo do Centro de Excelência para a Inovação e Novos Negócio do BPI
No entanto, os especialistas salientam o facto de o metaverso ser ainda um ‘work in progress’. Muitos dos conceitos-chave, como a interoperabilidade, a governação e a identidade, estão longe de se encontrarem totalmente concretizados. A maioria dos líderes empresariais vê o seu potencial, acreditando que o metaverso irá revolucionar os negócios ou tornar-se a próxima encarnação da Internet.

Os especialistas admitem a existência de riscos associados a todas as tecnologias em rápida mutação, como o metaverso, que têm de ser geridos eficazmente. Mas, se as empresas fixarem resultados claros, incorporarem a confiança desde a conceção e se mantiverem fiéis ao seu objetivo e à sua marca, podem começar a retirar valor das suas iniciativas metaversais, como defende a PwC.

Os grandes investidores

Um relatório da McKinsey de junho do ano passado explica que grandes empresas de tecnologia, capital de risco (VC), private equity (PE), startups e marcas estabelecidas estão a tentar capitalizar a oportunidade do metaverso. "As empresas, o VC e o PE já investiram mais de 120 mil milhões de dólares no metaverso nos primeiros cinco meses de 2022, mais do dobro dos 57 mil milhões de dólares investidos em todo o ano de 2021, em grande parte devido à aquisição da Activision pela Microsoft por 69 mil milhões de dólares", lê-se no relatório.

"As grandes empresas de tecnologia são os maiores investidores - e numa extensão muito maior do que eram para a inteligência artificial (IA) num estágio semelhante da sua evolução, por exemplo. As indústrias que atualmente lideram a adoção do metaverso também planeiam dedicar-lhe uma parte significativa dos seus orçamentos de investimento digital". Para esta consultora, são vários os fatores que estão a impulsionar este entusiasmo dos investidores, incluindo os avanços tecnológicos contínuos em toda a infraestrutura necessária para gerir o metaverso, o marketing e o envolvimento das marcas cada vez mais orientadas para o consumidor. A McKinsey fala ainda na crescente preparação do mercado, à medida que os utilizadores exploram a versão inicial do metaverso de hoje, em grande parte impulsionada pelos jogos (com alguns jogos com dezenas de milhões de jogadores ativos), com aplicações emergentes que abrangem a socialização, o fitness, o comércio, a aprendizagem virtual e outras.

A McKinsey também defende que o metaverso coloca desafios urgentes, transversais às empresas, aos seus funcionários, programadores independentes e criadores de conteúdos, governos e, claro, aos consumidores. "Parte da mão-de-obra terá de ser requalificada para tirar partido deste conceito, em vez de competir com ele, e as cidades e os países que pretendam seriamente estabelecer-se como centros de desenvolvimento terão de se juntar à concorrência global para atrair talentos e investimentos", lê-se no documento.
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