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Tecnologia: A nova revolução industrial

Esta revolução passa pela transformação de toda a esfera de produção industrial através da fusão da tecnologia digital e internet com a indústria convencional.

12 de Maio de 2016 às 10:17
Gonçalo Oliveira
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António Brochado Correia, partner da PwC, recorre a Angela Merkel para definir a quarta revolução industrial que se substancia no acrónimo Indústria 4.0: "em setembro de 2015, a chanceler Angela Merkel definiu este conceito como sendo "a compreensiva transformação de toda a esfera de produção industrial através da fusão da tecnologia digital e internet com a indústria convencional". Por sua vez Gonçalo Fortes, CEO da Prodsmart, "a Quarta Revolução Industrial é o movimento tecnológico que representa a próxima fase da manufactura, que implica uma completa digitalização dos sistemas produtivos, interligando máquinas, pessoas e processos".

Para Américo Azevedo é um modelo que é "technology driven", que adapta as tecnologias da internet, como as virtuais e as digitais, e a sua conectividade e capacidade de geração e gestão de dados à produção de forma a exista comunicação entre os sistemas, as máquinas, os produtos e os operadores, graças à cloud. Esta conversação industrial reúne automação, internet das coisas e inteligência artificial.

O professor de engenharia na Universidade do Porto refere que é a "factory as product" e o objectivo é produção mais variada, diferente, e para cada "tipo de produto ter a fábrica ideal com a máxima produtividade e eficiência". Como explica o objectivo é que se reduza o "time to market" e se acelere a produção mas também que se consiga que a produção seja eficiente desde o primeiro momento. Nesse sentido, a concepção do produto passa a ser feito com técnicas de simulação de produção de forma que se evitem ineficiências e desperdícios.

Não há política industrial

Esta revolução industrial permite conceber projectos como um ecossistema de fábricas inteligentes em toda a cadeia de valor. "Por exemplo, uma fábrica de biscoito poderá entregar os bolos que se partiram mas que não têm qualquer problema a uma fábrica de iogurtes que usa esses biscoitos como recheio. A segunda saberá sempre qual a quantidade de iogurtes que pode produzir com base no "desperdício" da primeira". Queremos acabar com o stock no planeta e transformar a produção numa "barra de download" diz Gonçalo Fortes.

"Estamos no quadrante que hesita" diz Américo Azevedo referindo-se à atitude das empresas em relação a esta revolução digital. Mas não deixa de salientar que há empresas com projectos interessantes que se enquadram neste contexto como alguns processos nas fábricas de calçado da Kyaia. "Temos vários casos de grandes empresas que se estão a preparar para catalisar este fenómeno, com focos muito grandes em automatização. Mas o mesmo não se está a passar com as PME. Modernização tem muitas vezes a ver com dimensão" refere Gonçalo Quadros.

"Não há política industrial em Portugal e com os ciclos políticos ainda se torna mais complicado" refere Américo Azevedo, professor na Faculdade de Engenharia do Porto mas com ligações ao INESC TEC, a EFFRA (European Factories of the Future Research Association) e ao conceito de fábricas do futuro e de reindustrialização da Europa. Grande parte dos países europeus já despertou para este novo paradigma da Indústria 4.0 e incorporam este novo contexto nos seus planos. Cita a Suécia e o plano Sweden 2030, o caso britânico e o Catapult Programme ou a Espanha com a Industria Conectada 4.0.

Os milhões da Indústria 4.0 As empresas industriais globais preparam-se para investir 907 mil milhões de dólares por ano até 2020. O maior foco de investimento está nas tecnologias digitais como sensores e instrumentos de conectividade, software e aplicações, bem como a formação e o treino. Prevêem um retorno do investimento num prazo de dois anos. As empresas esperam um aumento do volume de negócios de 2,9% só até 2020, cerca de 500 mil milhões de dólares e reduções de custos de 3,6% ao ano, cerca de 420 mil milhões. Para 50% dos gestores a falta de cultura digital e de formação são os principais desafios na mudança a realizar pelas empresas. 83% dos gestores considera que dentro de cinco anos os dados e o data analytics são cruciais na tomada de decisões.

PwC Global Industry 4.0 survey 2016. Inquridos 2 mil executivos de empresas industriais em 26 países

Roadmap para o futuro industrial

1 Saber onde estou em termos de maturidade tecnológica, em toda a minha cadeia de valor e definir objectivos.

2 Eventualmente, começar por alguns projectos-piloto onde se pode avaliar melhor os impactos da introdução de mais tecnologia e ganhar a confiança interna (pode ser no serviço ao cliente, na informação de gestão que recebo, na comunicação com as minhas filiais, etc..).

3 Implementar boa tecnologia, com bons parceiros, saiba bem que processos ajustar e que tecnologia aplicar.

4 Criar uma boa base de "data analytics" interna, quais os dados e quem os trabalhará, com que ferramentas.

5 Fazer uma boa gestão transformacional para o digital, com o comprometimento da gestão de topo, que deve saber bem até onde quer ir e quando.

6 Por fim, uma vez assente este processo redefinir a sua matriz de produtos e serviços.


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