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Os dados são o novo recurso natural

Extrair valor dos dados, que se multiplicam exponencialmente no mundo digital, não é fácil. Implica estruturas organizadas onde o conhecimento é rei.

04 de Abril de 2018 às 10:08
DR
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"A disrupção digital está em toda parte e tem, de facto, o potencial de remodelar os mercados mais rapidamente do que talvez qualquer outra força na história" refere Miguel Fernandes, advisory partner da PwC. Licenciado em Economia pelo ISEG, passou pelas consultoras Everis e EY e tem estado ligado ao mundo digital. Acrescenta que "os disruptores digitais inovam rapidamente e usam as suas inovações para ganhar participação de mercado e escalar mais rápido do que os operadores históricos".

Quais são os passos para a transformação digital de uma empresa? Deve aplicar as novas tecnologias digitais (data analytics & big data, cloud computing, impressão 3D, robótica, internet of things, etc…) à redefinição do negócio ou à transformação do negócio?
A transformação digital é um movimento imperioso que ganhou tracção nos últimos anos e é um processo que continuará em alta, já que nenhuma empresa se vai manter competitiva ou sobreviverá se não investir seriamente no seu próprio processo de disrupção.

Desta forma, o nível de transformação digital será o principal qualificador das empresas líderes de mercado nos próximos cinco ou dez anos, o que será sinónimo de melhorias no desempenho no negócio, através de produtos, serviços e experiências aperfeiçoadas digitalmente.

A transformação digital é muito abrangente e envolve uma mudança significativa no modelo mental e nos próprios conceitos da empresa. É basicamente uma questão de liderança, cultura, estratégia e gestão de talentos. Pensar em transformação digital e presumir que todos os colaboradores se vão adaptar às mudanças facilmente e sem impacto em produtividade é um dos maiores erros que as organizações cometem.

Para gerar novas propostas de valor ao cliente ou transformar os respectivos modelos operacionais, as empresas precisam de desenvolver novas capacidades e modelos de negócios inovadores e cross-channel. A capacidade de construir imediatismo e capacidade de resposta em modelos comerciais de maneiras novas e não convencionais devem passar a ser " a forma habitual" de ajudar organizações a reimaginar experiências dos clientes, talvez para sempre.

Isso passa por explorar dados e informações a velocidades mais rápidas do que nunca, através da nuvem e das tecnologias abertas, para lidar com o dinamismo do mercado e com as ameaças competitivas. O novo recurso natural do mundo é o dado, mas extrair valor dele não é fácil pelo que aquelas organizações que melhor estão preparadas para atuir neste mundo digital tipicamente são estruturas onde o conhecimento "é rei".

Quais são os aspectos mais críticos nesta transformação?
A transformação digital é uma espécie de percurso entre o local onde se encontra uma determinada organização e o ponto a que ela aspira situar-se digitalmente.

Como aspectos mais críticos desta transformação estão factores como, por exemplo, a adopção de uma mentalidade exponencial em que os negócios digitais e baseados em rede são estruturados e geridos de forma diferente dos negócios tradicional. Deve, além isso, construir e recrutar capacidades digitais pois são necessários funcionários com novas competências e capacidades, como machine learning e data science. Do mesmo modo, as infraestruturas também têm que ser adaptadas para fornecer as ferramentas que os colaboradores precisam para crescer num mundo digital.

Têm ainda de criar um roteiro digital amplo, inventariar activos e actividades da empresa e aplicar modelos de negócio, design thinking, não apenas para o design de produto ou serviço, mas para criar seu modelo de negócios futuro, e, finalmente, construir activos digitais e ajustar a estrutura da organização, começando "small" e depois "go big". Estas alterações exigirão mudanças na estrutura das organizações.

Os disruptores digitais inovam rapidamente e usam as suas inovações para ganhar participação de mercado e escalar mais rápido do que os operadores históricos.

A transformação digital é uma espécie de percurso entre o local onde se encontra uma determinada organização e o ponto a que ela aspira situar-se digitalmente.
Miguel Fernandes
Advisory partner da PwC

Qual é a importância desta transformação? Há sectores mais vulneráveis à digitalização?
A disrupção digital está em toda parte e tem, de facto, o potencial de remodelar os mercados mais rapidamente do que talvez qualquer outra força na história.

Existe um conjunto de sectores onde se verifica um pendor disruptivo acima dos outros como os produtos e serviços tecnológicos que têm o maior potencial de interrupção digital para os próximos 5 anos, media e entretenimento em que a substituição repentina de media física por digital music players foi apenas o começo e em que a convergência de mobilidade, cloud e vídeo já disrompeu. No retalho nos últimos anos, inovadores disruptores online desafiaram as estratégias tradicionais de retalho. As empresas de serviços financeiros estão a ser disrompidas por concorrentes ágeis e on-line que oferecem serviços convenientes e eficientes.

Os disruptores digitais inovam rapidamente e usam suas inovações para ganhar participação de mercado e escalar mais rápido do que os operadores históricos.

Quais são os principais riscos que as empresas e as organizações correm com esta transformação?
Nos dias que correm, as empresas de todas as dimensões e de todos os sectores, estão a lidar com a transformação digital, um conceito que significa algo completamente diferente para praticamente todas as empresas que passam por ele.

A tecnologia tornou-se tão fácil de utilizar que muitas empresas a vêem como uma "bala de prata" para a transformação digital, no sentido em que bastaria um pouco de tecnologia para obter um novo produto ou uma nova força de trabalho. É esta uma das principais causas de menor sucesso em torno da transformação digital.

Em vez disso, o que as empresas devem fazer é concentrarem-se nas pessoas - clientes, funcionários, executivos - e abordar a tecnologia como um meio de melhorar sua capacidade. Se o mindset for, sobretudo, "a partir da experiência", o olhar é de analytics, de artificial intelligence, de cloud, e de como estas tecnologias podem oferecer aos seus clientes e funcionários algum tipo de superpoder. 


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