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O calçado já não é caso único

A coordenação de políticas públicas com estratégias empresariais pode dar resultados interessantes. Portugal tem vários.

17 de Junho de 2015 às 10:00
Paulo Duarte/ Negócios
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O calçado tem sido o grande exemplo de inserção com sucesso nas cadeias de valor globais. Tem apresentado, desde há seis anos, o segundo preço mais caro do mundo, superados apenas pelos sapatos italianos, e que em 2014 exportou 1,87 mil milhões de euros, num total de 90 milhões de pares de sapatos.


Como salienta Manuel Caldeira Cabral, isto aconteceu porque "houve estratégias individuais de empresas que foram muito bem sucedidas, mas houve também uma cooperação entre as empresas e um papel determinante do centro tecnológico CTPC e da associação do sector, a APPICAPS". Associaram-se às universidades "para melhorar a qualidade dos materiais e o design, e dando formação, souberam trabalhar muito bem com a AICEP, ajudando as empresas a internacionalizarem-se e a inserirem-se melhor nas cadeias de valor entrando por cima, afirmando-se pela qualidade e não pelo preço".


Mas há outros casos de estratégias de eficiência colectiva semelhantes, noutros sectores e noutros países com resultados também animadores. Pedro Deus, advisory partner da PwC, refere, a título de exemplo, "a I&D [investigação e desenvolvimento] da viticultura do Douro que envolve algumas das maiores empresas produtoras de vinho do Porto e do Douro, a academia de formação promovida por algumas das maiores empresas alemãs a operar em Portugal ou o magnífico trabalho desenvolvido pelo sector agro-alimentar na promoção conjunta da produção nacional em mercados externos". Por sua vez Manuel Caldeira Cabral adianta outros como o automóvel e a aeronáutica, em que o CEIIA está também a fazer um trabalho de apoio a empresas de componentes e de desenvolvimento de novos produtos e soluções, nos plásticos através do PIEP ligado à universidade do Minho, que envolve várias dezenas de empresas, a universidade e outras instituições públicas, além de outros casos como o cluster na saúde. O têxtil e vestuário, em que o CITEVE tem ajudado à certificação e à melhoria dos materiais, reforçando o valor das exportações portuguesas, "era necessária, no entanto, maior cooperação entre as associações empresariais".


Para Manuel Caldeira Cabral todos estes casos partiram da reorganização dos sectores com estratégias de eficiência colectiva promovidas pela política de clusters e pólos de competitividade, envolvendo a AICEP, o IAPMEI, universidades, hospitais, no sentido de criar mais valor e melhorar a capacidade das empresas e a sua inserção nas cadeias internacionais.


No entanto, alerta para o facto de as políticas públicas de apoio terem diminuído de intensidade e de os centros tecnológicos e as universidades terem visto baixar os financiamentos.

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