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Notícia

A importância da média empresa

As empresas médias são as grandes esquecidas nos discursos económicos, sociais e políticos, em que se dá grande relevância às grandes empresas e às pequenas empresas/start-ups, que parecem estar na moda. Mas em Portugal as empresas médias são, de uma forma geral, mais produtivas e mais inovadoras.

06 de Maio de 2015 às 10:29
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Entre as médias empresas nacionais existem 3.710 que exportam.

 


As 4500 empresas médias representavam, em 2014, 0,6% das empresas em Portugal enquanto na Alemanha são mais de 57 mil empresas. Mais inquietante é que entre 2008 e 2014 o número de médias empresas caiu 23% enquanto as pequenas e as grandes empresas caíram 19 e 15%, respectivamente. A crise atingiu empresas de todas as dimensões mas afectou mais as empresas médias, segundo um estudo do Centre for Economics and Business Research para a Sage, que analisou as empresas médias em 12 países: Reino Unido, Irlanda, Alemanha, Espanha, França, Portugal, Itália, Holanda, Bélgica, Polónia, Eslováquia e República Checa. A média empresa é a que tem entre 50 e 250 trabalhadores, um volume de negócios superior a 7 milhões, mas inferior a 40 milhões ou um balanço total anual entre 5 milhões de euros e 27 milhões.


Em Portugal, as médias empresas contribuíram em 2014 com 22% do volume de negócios (70 mil milhões de euros), 22% do VAB (14,5 mil milhões de euros) e 16% do emprego ( 467 mil pessoas). Como mostram recentes números da AICEP, têm um grande potencial exportador, com 3.710 empresas, que exportam entre 5 e 50 milhões, o que representa 45% das exportações.


Impacto elevado
O impacto das médias empresas na produtividade é elevado no tecido empresarial português. No período entre 2009 e 2014, a produtividade média por trabalhador nestas empresas foi de 31.500 euros, 90% acima da média nas pequenas empresas, e 37% acima no conjunto de todo o tipo de empresas.


Em termos sectoriais destacam-se as empresas médias do comércio e distribuição e da indústria que em 2014, representavam 8,1 mil milhões de euros em VAB e 271.000 empregos, embora em termos de número pontificassem as empresas de serviços.

 

 

A crise atingiu  empresas de todas as dimensões, mas afectou mais as médias empresas, as quais têm entre 50 e 250 trabalhadores.

 


A crise económica teve efeitos significativos na Inovação e Desenvolvimento (I&D) das médias empresas. Entre 2004 e 2008 as médias empresas tinham aumentado em 300% os investimentos em I&D com o pico a ser atingido em 2009 com 1,3 mil milhões de euros. Em 2013 este investimento foi de 1,1 mil milhões de euros. E as empresas médias portuguesas destacam-se, segundo este estudo, por adoptarem inovações tanto nos produtos, como nos processos, marketing ou organização, de uma forma mais massiva do que as pequenas ou grandes empresas.


No entanto, Luís Filipe Lages, professor de Marketing and International Business da Nova School of Business and Economics, acentua que a " existência de empresas dinâmicas e inovadoras no nosso mercado é essencial para as nossas empresas se tornarem competitivas na arena internacional. Neste sentido, precisamos de grandes empresas que têm a capacidade de beneficiar de economias de escala e investir uma parte dos seus recursos em I&D, mas também precisamos das micro e PME que possuem estruturas leves e ágeis que permitem adaptar-se à envolvente externa e inovar".

 

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A ideologia da pequena empresa

 

A mentalidade de protecção muito forte do emprego e apoio às pequenas empresas está muito enraizada nos governantes portugueses.

 

André Regateiro fez o seu doutoramento em Carnegie Mellon University, onde estudou o impacto das micro e pequenas empresas na economia portuguesa, e considera que estas empresas "não são capazes de tomar partido das economias de escala que caracterizam a economia moderna, têm níveis de produtividade muito reduzidos e mais dificuldades em obter financiamento, não investem em Investigação e Desenvolvimento (I&D), pagam salários mais baixos e investem menos na formação dos seus trabalhadores do que empresas maiores, estão mais vulneráveis às alterações do mercado e por isso os empregos que oferecem desaparecem mais facilmente, têm gestores com níveis de escolaridade mais baixa, fogem mais aos impostos e não exportam".


Para o actual economista da Amazon, que foi consultor de Álvaro Santos Pereira no Ministério da Economia entre 2011 e 2012, há uma política económica muito centrada no apoio às micro e pequenas empresas, em que, por exemplo, a legislação laboral beneficia as micro e pequenas empresas.

 

 

A discussão deve centrar-se no tipo de apoio alocado à empresa e qual o valor acrescentado que esse apoio traz. 

 


André Regateiro acentua que "das descobertas importantes do estudo é que qualquer medida que torne o factor trabalho mais dispendioso leva a um decréscimo esperado do tamanho das empresas. Muito pouco esforço foi feito em Portugal que levasse ao decréscimo do custo do factor trabalho".


Dimensão tem efeitos na gestão
Neste estudo referia-se também que em Portugal em termos legais, administrativos e de impostos se descriminavam as médias e grandes empresas. Segundo André Regateiro, a tendência mantêm-se e há "uma nova lei a reforçar o padrão de apoio às pequenas empresas. Veja-se, por exemplo, as diferenças de tratamento para PME nas últimas alterações ao código do trabalho ou a taxa de segurança alimentar que isenta os estabelecimentos com menos de 2000m2".


André Regateiro acrescenta que "a mentalidade de protecção muito forte do emprego e apoio às pequenas empresas está muito enraizada nos governantes portugueses, a todos os níveis. É necessário passar a mensagem de que protecção laboral excessiva prejudica os trabalhadores e que são as empresas grandes que são responsáveis pelo crescimento económico".


A dimensão das empresas também tem impacto na gestão. Num dos seus "papers", André Regateiro relaciona a falta de produtividade da economia e explica também as deficiências de gestão ao dizer: "A distribuição do tamanho da empresa reflecte uma distribuição subjacente da capacidade de gestão. Melhores gestores, por definição, gerem grandes empresas."


Por sua vez Luís Filipe Lages que há mais de 15 anos estuda os vários tipos de apoio que podem ser dados às empresas refere que é "importante combinar os recursos disponíveis com as competências-chave para se ter vantagem competitiva na arena internacional". Esses apoios podem ir dos fiscais, mas também "podem ser criados apoios para gerar consciência dos riscos e oportunidades, desenvolver a actividade de exportação ou desenvolver a perícia necessária para as empresas se tornarem competitivas numa arena cada vez mais global".


Por isso, o professor da Nova School of Business and Economics defende que "mais do que a quantidade de apoio entregue às empresas, a discussão deve-se centrar no tipo de apoio alocado à empresa e qual o valor acrescentado que esse apoio traz em função das necessidades específicas da empresa".

 

 

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O peso das 100 maiores

 

Entre 2009 e 2013, as 100 maiores empresas em Portugal registaram um crescimento médio anual de 3,2% do volume de negócios.

 

No período 2009-2013, 68 empresas mantiveram-se na lista das 100 maiores empresas em Portugal (Top 100). Das 32 empresas, que constavam do Top 100 em 2009, a maioria pertencia ao Top 200 em 2013, revela a Análise Sectorial das Sociedades Não Financeiras em Portugal 2009-2014 feita pelo Banco de Portugal.


Em 2013, as 100 maiores foram responsáveis por 27% do volume de negócios e por 7% do emprego do total de empresas não financeiras. Face a 2009, a relevância destas empresas aumentou 4 pontos percentuais no volume negócios, tendo mantido o mesmo peso em termos de emprego. Saliente-se que neste período, as 100 maiores empresas em Portugal registaram um crescimento médio anual de 3,2% do volume de negócios, contra uma queda de 2,2% nas restantes empresas. Geraram, em média, cinco vezes mais volume de negócios por empregado do que as restantes empresas. Em 2009, o diferencial era de quatro vezes.


Em termos sectoriais, 37% das maiores empresas em Portugal eram do comércio, da indústria 35% e dos serviços 13%. Nota, ainda, para o facto de a agricultura e pescas não estar representada neste período em análise. Em 2013, o Top 100 era dominado por empresas com mais de 20 anos de actividade, tanto em número (59%), como em volume de negócios (65%). A parcela de empresas com menos de 10 anos ficava-se pelos 15%, justificando 13% do volume de negócios.

  

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