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Público vs. privado? “Todos temos um papel a desempenhar”

A colaboração entre os dois setores é benéfica para o sistema de saúde português.

Negócios 15 de Junho de 2023 às 18:26
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O contributo do setor privado para a saúde dos portugueses é já uma evidência. Face à crescente procura de cuidados de uma população cada vez mais envelhecida, é fundamental tirar partido de toda a capacidade instalada e colocar o doente no centro do sistema. Conversámos com Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) e Eduarda Reis, chief medical officer da Lusíadas Saúde sobre o assunto. Cooperar – e não concorrer – é a palavra de ordem.

Se dúvidas houvesse, os números demonstram a importância crescente do setor privado da saúde. A hospitalização privada representa atualmente cerca de um terço da capacidade/atividade hospitalar do país e mais de metade da população portuguesa já tem uma segunda cobertura em saúde — seguro ou subsistema de saúde.

Para Óscar Gaspar, presidente da APHP, é mais do que evidente que "o setor privado é um pilar essencial do sistema de saúde." "Os hospitais privados são responsáveis por mais de oito milhões de consultas de especialidade, um milhão de episódios de urgência e 280 mil grandes e médias cirurgias por ano. Continuamos a investir, a aumentar a cobertura a nível nacional, a reforçar valências e a dotarmo-nos de recursos humanos", observa o economista e ex-secretário de Estado da Saúde, acrescentando que "esta circunstância traz consigo a responsabilidade de os privados servirem também como referência, como benchmarking, como centro de inovação e fonte de eficiência".

"O setor privado é um pilar essencial do sistema de saúde"

Óscar Gaspar

Enfrentar a inversão das pirâmides demográficas e responder ao aumento da procura de cuidados tem sido um constante desafio do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas, segundo o responsável, "os hospitais privados podem reforçar a oferta de saúde aos portugueses e também aumentar o acesso, estando disponíveis, se o Ministério da Saúde assim o entender, para aumentar a contratualização com o Estado". "Os hospitais privados mantêm abertura absoluta para colaborar e, até mesmo, de forma transparente, estruturada e planeada, assumir novas responsabilidades", revela Óscar Gaspar, exemplificando que "há cada vez mais novas formas de prestação, desde as que recorrem à monitorização e diagnóstico por via remota até à simbiose entre os cuidados primários e hospitalares, passando por uma abordagem mais direcionada à saúde do que à doença e que privilegia a literacia e a prevenção".

"A colaboração entre o setor público e privado pode – e deve – ser benéfica para o sistema de saúde português e, para tal, é necessária a implementação de medidas que visem a construção de um SNS mais robusto, com maior capacidade de resposta e com melhor desempenho em termos de eficácia, eficiência e acessibilidade", salienta por sua vez Eduarda Reis, chief medical officer da Lusíadas Saúde, que à semelhança de Óscar Gaspar, considera que o setor privado está preparado para dar o passo seguinte, de uma maior responsabilidade. "O setor privado pode assegurar o aumento da capacidade de resposta do SNS, especialmente em períodos de elevada procura ou em áreas geográficas cujos recursos médicos sejam mais escassos", exemplifica a responsável da Lusíadas Saúde, recentemente considerado o melhor hospital privado europeu na categoria Inovação em Saúde pelos Prémios Europeus de Hospitais Privados.

"Além de a saúde privada ser cada vez mais procurada pelos portugueses como a primeira escolha, não só pela acessibilidade e rapidez de resposta que assegura, mas também pela garantia da qualidade e da eficiência nos processos e nos serviços de saúde que são prestados", evitando assim, os contratempos das longas listas de espera que são ainda uma realidade no setor público, Eduarda Reis observa que "este é um setor que tem também vindo a conquistar a atenção dos profissionais de saúde". E cuja atratividade "não se prende apenas com a política de remuneração praticada pelos grupos de saúde privados, mas sobretudo com a agilidade organizacional que os caracteriza, com as condições de trabalho que oferecem e com o investimento que o setor faz na inovação científica e tecnológica, fatores de diferenciação para os profissionais de saúde".

A verdade é que "o setor privado está na vanguarda da inovação em saúde e investe em tecnologia avançada que permite aos profissionais de saúde a oportunidade de trabalhar com equipamentos e sistemas de última geração. Por outro lado, as oportunidades de crescimento e de desenvolvimento profissional são maiores e isso pode ajudá-los a melhorar e a enriquecer a sua formação clínica, a adquirir novos conhecimentos e a progredir nas suas carreiras", observa a chief medical officer.

Os portugueses querem ter acesso a cuidados de saúde atempados e de qualidade que só serão possíveis se houver sinergia e complementaridade entre os setores público, privado e social

Eduarda Reis

Por outro lado, "a qualidade dos serviços prestados no setor privado torna cada vez mais incontornável o seu reconhecimento pelas autoridades de saúde, pela grande utilidade e pertinência da sua ativa participação no sistema de saúde português, de forma a tornar possível a resposta às necessidades de saúde dos cidadãos", considera a responsável. Eduarda Reis diz que "independentemente do enquadramento político, os portugueses querem ter acesso a cuidados de saúde atempados e de qualidade que só serão possíveis se houver sinergia e complementaridade entre os setores público, privado e social".

Em suma, hoje, ao falarmos do SNS, falamos naturalmente "do setor privado, pelo que cabe ao Estado garantir o acesso de todos os cidadãos aos cuidados de saúde, independentemente de fazê-lo através de serviços públicos ou de acordos celebrados com entidades privadas", nota Eduarda Reis. E é por esse motivo que "a entrega final em matéria de cuidados de saúde deve acrescentar valor para o doente e ser avaliada pela qualidade dos serviços prestados em termos de atendimento, prestação de serviços e acompanhamento, e não apenas pela quantidade de cuidados de saúde que são entregues". Aliás, como também lembra Óscar Gaspar, "a história recente com a Covid-19 comprova que temos de congregar esforços, energia e investimentos para que cada um, de acordo com as suas especificidades e de forma articulada e transparente, possa fortalecer o sistema como um todo". Parafraseando o célebre estudo da Fundação Calouste Gulbenkian sobre a saúde de 2014, "todos temos um papel a desempenhar", conclui o presidente da APHP.

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