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Na Galp há experiências em áreas semelhantes (resposta aos "tickets" do "helpdesk", por exemplo), mas os responsáveis concordam que é preciso uma abordagem mais global para tirar benefícios da tecnologia e admitem que um dos grandes desafios atuais está em perceber onde vale a pena investir. É preciso experimentar, testar a maturidade das tecnologias num espaço de tempo relativamente curto e não embarcar em modas, como sublinhou Gonçalo Oliveira, CIO da Galp.
Os "bots" são uma das grandes tendências do momento e há projectos em curso.
A quem lidera hoje os departamentos de TI das maiores organizações nacionais coloca-se ainda outra questão. São gestores que não cresceram com as tecnologias que estão a provocar disrupção. "Ainda temos uma noção dentro das empresas muito distante daquilo que se pode fazer", defendeu Nuno Miller, responsável de TI da Worten.
Na sua perspectiva, a solução passa por levar para as empresas, em grande número, pessoas com competências nativas em áreas com a inteligência artificial e outras com o mesmo potencial transformador, que ajudem a alterar mentalidades e reforçar "know-how".
"Estamos no início da viagem", admitiu Gonçalo Vieira e o caminho é longo. Integra várias dimensões, incluindo uma dimensão cultural relacionada com a alteração de processos, mas a mudança é inevitável porque o teor do negócio também mudou, como exemplificou Jorge Simões com o caso concreto da EDP.
"Durante 100 anos olhámos para a energia como uma rua de sentido único. Isso mudou quando cada consumidor se tornou também um potencial produtor de electricidade e essa energia passou a poder ser injectada na rede pública". As tecnologias preditivas tornaram-se indispensáveis para ajudar a empresa a perceber o que vai acontecer amanhã e a preparar-se para isso, uma capacidade que as três empresas estão a aproveitar em várias frentes.
IA: Galp poupa 200 milhões de dólares por cada furo certeiro
A Galp está a fazer da inteligência artificial (IA) um aliado para ganhar vantagem no mercado da exploração petrolífera, onde compete com empresas de dimensão superior. "A tecnologia na exploração de petróleo é uma das poucas ferramentas que nos pode dar oportunidade de equilibrar as coisas no terreno", admitiu Gonçalo Oliveira, CIO da empresa.
A tecnologia é usada para interpretar informação e guiar a companhia na escolha do local para fazer o próximo furo, à procura de petróleo. Tradicionalmente este é um trabalho do geólogo, que identifica padrões e com base nisso define as probabilidades. A empresa ainda mantém a análise humana, mas cruza esses dados com a análise feita pelas máquinas. Aumenta a probabilidade de fazer um furo certeiro e de rentabilizar investimento, já que cada furo representa um investimento de 200 milhões de dólares, revelou Gonçalo Oliveira.
Nas refinarias a acção humana também já se combina com a da tecnologia. A maior fatia do negócio de distribuição da petrolífera depende do aproveitamento do crude no processo de refinação. Centrais como Sines contam com sistemas inteligentes, a analisar informação e fornecer recomendações de decisão "embora o humano ainda não tenha tirado a mão do volante".
EDP deu inteligência à gestão de ativos
A EDP é hoje o quarto maior produtor mundial de energia eólica, com um parque considerável de equipamentos espalhados pelo mundo. A inteligência artificial ("deep" e "machine learning") está a ser usada no apoio à gestão de activos. A tecnologia é usada para interpretar a informação de milhões de sensores instalados nas turbinas, que a cada hora geram mil milhões de "datapoints". Como explicou Jorge Simões, assessor do conselho de administração da EDP Inovação, nem toda a informação gerada é aproveitada, mas muita serve para "aferir a saúde do activo" e perceber "quanto da sua vida útil já foi gasta". É uma forma de poder planear intervenções antecipadamente, evitando paragens ou perdas, afinando as estimativas às condições de funcionamento e ao esforço concreto de cada turbina. É o mesmo tipo de política que o grupo está a aplicar para fazer a manutenção preditiva em centrais de ciclo combinado, calculando e monitorizando a cada momento bandas aceitáveis de variação. Registos fora dos padrões ajudam a detetar problemas com uma antecedência de três a seis meses, explicou Jorge Simões. Na área da cibersegurança a EDP recorre ao "machine learning", para ajudar a processar os 500GB de dados que passam pelo seu Security Information Officer a cada hora.
Worten aposta tudo em vender o produto certo na hora certa
Entregar o produto certo na hora certa é a intenção na base de qualquer investimento da Worten em tecnologia, admitiu Nuno Miller, responsável de TI da empresa do grupo Sonae. "O nosso foco é tentar garantir o produto correcto, com o preço correcto para o consumidor e conseguir espicaçá-lo para outras compras", descreve.
Nesta linha, ganhar eficácia no "cross-selling" é uma das áreas onde a empresa tem investido em força e onde reconhece que continua a ter muito para fazer, um domínio onde também cabe o esforço de promover uma integração cada vez melhor entre canais de vendas.
O marketing direccionado é outra área que tem absorvido os esforços de inovação da Worten. "Investimos há anos em "data mining" e Big Data para conseguir dar o cupão de desconto certo para cada consumidor", concretizou Nuno Miller, que elegeu ainda uma terceira área de intervenção: a gestão de gama e produtos.
Aqui as tecnologias preditivas estão a ajudar a empresa a obter informação cada vez mais apurada sobre os produtos certos para cada loja. "Em vez de criarmos regras determinísticas conseguimos ver, em função da procura, o que faz sentido", um domínio onde a empresa pretende continuar a investir.