- Partilhar artigo
- ...
Na última década "assistiu-se a uma mudança substancial nos sectores que estavam condenados e que se transformaram de facto em sectores estrela, que são dignos de serem estudados, analisados e utilizados como exemplos", referiu Jorge Marques dos Santos, presidente do IAPMEI. Acrescentou que as empresas e os sectores das indústrias têxteis, vestuário e calçado, perceberam que "continuar a insistir na competitividade baseada em preços baixos, mão-de-obra intensiva e tentar combater a China seria um desastre. Em sectores ditos tradicionais introduziram-se factores de modernidade, novas tecnologias, novas organizações de trabalho, design, técnicas de gestão e de produção e tecnologias elevadas que provocaram uma grande mudança", concluiu o presidente do IAPMEI.
Um dos segredos para o renascimento exportador dos têxteis foi a subida na cadeia de valor "com gestão, design e tecnologia", salientou João Costa, vice-presidente da ATP. Depois de as exportações terem descido entre 2001 a 2009, nos sete anos seguintes cresceram mais de 50%, tendo passado de 3,2 mil milhões de euros em 2010 para 5,2 mil milhões de euros em 2017. Os efeitos da crise no sector têxtil reflectiram-se também numa redução substancial de empresas e de postos de trabalho, tendo o emprego caído de 214 mil em 2001 para 140 mil em 2017.
Indústrias como serviço
"Estamos num processo de mudança substancial pelos efeitos da modernização, qualificação, criatividade e passamos do fabrico produto para a venda de soluções para os clientes", salientou João Costa. "Deixámos de receber encomendas e colecções feitas pelos clientes para executar. Hoje são os fornecedores, como a indústria portuguesa, que apresentam soluções aos clientes, a que acresce uma capacidade de resposta rápida e ágil".
Isto permite que os clientes não tenham de fazer stocks e mesmo a preços superiores preferem ter alguém com "capacidade de resposta em qualidade, rapidez e de uma forma ágil, mais criativa e inovadora". Esta capacidade de ajustamento ao mercado permite à indústria estar "em condições ímpares no mercado global". João Costa acrescentou que "nas novas condições de digitalização e de customização torna-se cada vez mais evidente a necessidade de uma sintonia entre o mercado e a produção".
Em sectores muito competitivos, maduros e de uma grande concorrência internacional, a inovação é chave, referiu Leandro de Melo, director-geral do CTCP - Centro Tecnológico do Calçado Portugal. Salientou que o sector do calçado começou a ficar exposto à concorrência internacional feroz mais cedo do que os têxteis e vestuário. E por isso reagiu antes.
Para Leandro de Melo uma empresa bem sucedida não se faz com uma receita culinária, é um conjunto de factores como o produto, os clientes, o design, a sofisticação, a exclusividade e depois o serviço. Salientou que este aspecto é crucial e que há empresas de calçado a fazer reposições de stocks em dois e três dias e até mesmo em 24 horas.
Empresas das mais modernas
Neste percurso Leandro de Melo diz que se chegou a uma altura "em que ninguém põe em dúvida a qualidade do calçado português, tem uma imagem reconhecida". E até no preço se deu uma subida acentuada na escala de valor e isso é tão importante como "o design e a qualidade".
Leandro de Melo alertou para uma forma mais abrangente de como é vista a inovação e falou dos factores de diferenciação positiva e dos produtos ecológicos, sustentáveis, com pegada de carbono zero. "É preciso juntar a sustentabilidade, a eficiência energética, igualdade de género, condições sociais de trabalho. É este conjunto que engloba a inovação". Por isso, é necessário que as indústrias de componentes e de máquinas de calçado também evoluam neste sentido.
Leandro de Melo referiu que Portugal tem das "empresas mais modernas do mundo no calçado de couro" e que se especializou na produção adaptada a pequenas séries sem quebras de produto ou de qualidade e que "qualquer tecnologia que se revele eficaz é logo adoptada pela indústria".
Indústrias estão a investir mais
No actual quadro de apoio, Portugal 2020, as indústrias têxteis, vestuário e calçado têm projectos aprovados que representam cerca de 450 milhões de euros.
No programa Portugal 2020, nas áreas da inovação, da qualidade e da qualificação, aprovou-se projectos que representam um investimento total de 445 milhões de euros para estes dois sectores das indústrias têxteis e vestuário, e calçado, com um total de incentivos aprovados de 231 milhões de euros, e que pode induzir, de acordo com os projectos, impactos nas exportações de 650 milhões de euros, referiu Jorge Marques dos Santos, presidente do IAPMEI.
Afirmou ainda que isto significa que "os sectores não pensam apenas que têm de inovar, de introduzir novos processos de gestão porque a qualificação está muito relacionada com os próprios processos de gestão mas estão a executar". Comparando com os dados do QREN "estes valores do Portugal 2020 são o dobro. Há um movimento de crescimento…", sublinhou.
O futuro de Portugal está nas exportações
As exportações são fundamentais para as empresas conseguirem obter os resultados que só o mercado interno, que é pequeno e que em épocas de crise se reduz ainda mais, não assegura.
O grande desígnio de Portugal é crescer nos mercados externos e as "nossas exportações que hoje representam 42% do PIB deveriam passar para 50 a 60% porque o nosso mercado é exíguo e para conseguir resultados equivalentes aos outros mercados europeus, as empresas têm de exportar mais", disse João Costa, vice-presidente da ATP.
Carlos Oliveira, presidente da InvestBraga, salientou na sua intervenção final que "o futuro de Portugal passa pela exportação de produtos e serviços transaccionáveis e não pela estratégia que propunha Portugal como economia de serviços e turismo". Realçou que o PSI-20 faz um retrato diferente, pois predominam as empresas não transaccionáveis, as utilities, banca e serviços financeiros e que dependem do mercado interno. Mas as exportações são fundamentais para se ir mais além de um mercado pequeno que em épocas de crise se reduz ainda mais.
Como salienta João Costa, os têxteis e vestuário têm conquistado mercados como os EUA, Canadá, China, América Latina, Brasil mas os crescimentos no mercado europeu são importantes. A Europa representa 20% com mercados como a Espanha a consumirem, grosso modo, 1,8 mil milhões de euros de exportações lusas, a França 700 milhões e a Alemanha 500 milhões.
"As próprias empresas têm feito incursões em mercados fora das suas rotas", disse João Costa que tem a expectativa de que em 2018 a dinâmica de crescimento se mantenha com taxas da ordem de 3 a 4% ,depois de em 2017 terem sido de 5%.
Comércio online para gigantes
Leandro Melo referiu que a indústria de calçado exportou mais de 2 mil milhões de euros, cerca de 95% da produção, para 152 países. Se não tem muitos mercados a descobrir, tem de aumentar a intensidade exportadora em alguns mercados. As prioridades são os EUA e mercados como a Coreia do Sul, Singapura, Chile, Colômbia e Canadá, em que os acordos de comércio livre celebrados pela União Europeia criaram um grande potencial. Para uma empresa pequena o mundo deve começar pela Europa, que é um mercado com potencial e de maior proximidade. "Os americanos vêm ver e contactar os fornecedores, mas na Europa tem de se ir ter com os clientes" relembrou Leandro de Melo.
Em relação ao futuro, Leandro Melo considerou que o comércio online vai ser dominado por quem domina a tecnologia e que são as grandes cadeias de distribuição, que têm capacidade de gerar tráfego e fidelizar clientes, por isso na sua opinião as empresas têm de conhecer e dominar o omnicanal.
Um dos segredos para o renascimento exportador dos têxteis foi a subida na cadeia de valor "com gestão, design e tecnologia", salientou João Costa, vice-presidente da ATP. Depois de as exportações terem descido entre 2001 a 2009, nos sete anos seguintes cresceram mais de 50%, tendo passado de 3,2 mil milhões de euros em 2010 para 5,2 mil milhões de euros em 2017. Os efeitos da crise no sector têxtil reflectiram-se também numa redução substancial de empresas e de postos de trabalho, tendo o emprego caído de 214 mil em 2001 para 140 mil em 2017.
Indústrias como serviço
"Estamos num processo de mudança substancial pelos efeitos da modernização, qualificação, criatividade e passamos do fabrico produto para a venda de soluções para os clientes", salientou João Costa. "Deixámos de receber encomendas e colecções feitas pelos clientes para executar. Hoje são os fornecedores, como a indústria portuguesa, que apresentam soluções aos clientes, a que acresce uma capacidade de resposta rápida e ágil".
Isto permite que os clientes não tenham de fazer stocks e mesmo a preços superiores preferem ter alguém com "capacidade de resposta em qualidade, rapidez e de uma forma ágil, mais criativa e inovadora". Esta capacidade de ajustamento ao mercado permite à indústria estar "em condições ímpares no mercado global". João Costa acrescentou que "nas novas condições de digitalização e de customização torna-se cada vez mais evidente a necessidade de uma sintonia entre o mercado e a produção".
Em sectores muito competitivos, maduros e de uma grande concorrência internacional, a inovação é chave, referiu Leandro de Melo, director-geral do CTCP - Centro Tecnológico do Calçado Portugal. Salientou que o sector do calçado começou a ficar exposto à concorrência internacional feroz mais cedo do que os têxteis e vestuário. E por isso reagiu antes.
Para Leandro de Melo uma empresa bem sucedida não se faz com uma receita culinária, é um conjunto de factores como o produto, os clientes, o design, a sofisticação, a exclusividade e depois o serviço. Salientou que este aspecto é crucial e que há empresas de calçado a fazer reposições de stocks em dois e três dias e até mesmo em 24 horas.
Empresas das mais modernas
Neste percurso Leandro de Melo diz que se chegou a uma altura "em que ninguém põe em dúvida a qualidade do calçado português, tem uma imagem reconhecida". E até no preço se deu uma subida acentuada na escala de valor e isso é tão importante como "o design e a qualidade".
A indústria de calçado exportou mais de 2 mil milhões de euros, 95% da produção, para 152 países. Não tem muito mercados para descobrir mas vários para crescer Leandro Melo
Director-geral do Centro Tecnológico do Calçado Portugal
Director-geral do Centro Tecnológico do Calçado Portugal
Leandro de Melo alertou para uma forma mais abrangente de como é vista a inovação e falou dos factores de diferenciação positiva e dos produtos ecológicos, sustentáveis, com pegada de carbono zero. "É preciso juntar a sustentabilidade, a eficiência energética, igualdade de género, condições sociais de trabalho. É este conjunto que engloba a inovação". Por isso, é necessário que as indústrias de componentes e de máquinas de calçado também evoluam neste sentido.
Leandro de Melo referiu que Portugal tem das "empresas mais modernas do mundo no calçado de couro" e que se especializou na produção adaptada a pequenas séries sem quebras de produto ou de qualidade e que "qualquer tecnologia que se revele eficaz é logo adoptada pela indústria".
Indústrias estão a investir mais
No actual quadro de apoio, Portugal 2020, as indústrias têxteis, vestuário e calçado têm projectos aprovados que representam cerca de 450 milhões de euros.
No programa Portugal 2020, nas áreas da inovação, da qualidade e da qualificação, aprovou-se projectos que representam um investimento total de 445 milhões de euros para estes dois sectores das indústrias têxteis e vestuário, e calçado, com um total de incentivos aprovados de 231 milhões de euros, e que pode induzir, de acordo com os projectos, impactos nas exportações de 650 milhões de euros, referiu Jorge Marques dos Santos, presidente do IAPMEI.
Afirmou ainda que isto significa que "os sectores não pensam apenas que têm de inovar, de introduzir novos processos de gestão porque a qualificação está muito relacionada com os próprios processos de gestão mas estão a executar". Comparando com os dados do QREN "estes valores do Portugal 2020 são o dobro. Há um movimento de crescimento…", sublinhou.
O futuro de Portugal está nas exportações
As exportações são fundamentais para as empresas conseguirem obter os resultados que só o mercado interno, que é pequeno e que em épocas de crise se reduz ainda mais, não assegura.
O grande desígnio de Portugal é crescer nos mercados externos e as "nossas exportações que hoje representam 42% do PIB deveriam passar para 50 a 60% porque o nosso mercado é exíguo e para conseguir resultados equivalentes aos outros mercados europeus, as empresas têm de exportar mais", disse João Costa, vice-presidente da ATP.
Carlos Oliveira, presidente da InvestBraga, salientou na sua intervenção final que "o futuro de Portugal passa pela exportação de produtos e serviços transaccionáveis e não pela estratégia que propunha Portugal como economia de serviços e turismo". Realçou que o PSI-20 faz um retrato diferente, pois predominam as empresas não transaccionáveis, as utilities, banca e serviços financeiros e que dependem do mercado interno. Mas as exportações são fundamentais para se ir mais além de um mercado pequeno que em épocas de crise se reduz ainda mais.
Como salienta João Costa, os têxteis e vestuário têm conquistado mercados como os EUA, Canadá, China, América Latina, Brasil mas os crescimentos no mercado europeu são importantes. A Europa representa 20% com mercados como a Espanha a consumirem, grosso modo, 1,8 mil milhões de euros de exportações lusas, a França 700 milhões e a Alemanha 500 milhões.
"As próprias empresas têm feito incursões em mercados fora das suas rotas", disse João Costa que tem a expectativa de que em 2018 a dinâmica de crescimento se mantenha com taxas da ordem de 3 a 4% ,depois de em 2017 terem sido de 5%.
Comércio online para gigantes
Leandro Melo referiu que a indústria de calçado exportou mais de 2 mil milhões de euros, cerca de 95% da produção, para 152 países. Se não tem muitos mercados a descobrir, tem de aumentar a intensidade exportadora em alguns mercados. As prioridades são os EUA e mercados como a Coreia do Sul, Singapura, Chile, Colômbia e Canadá, em que os acordos de comércio livre celebrados pela União Europeia criaram um grande potencial. Para uma empresa pequena o mundo deve começar pela Europa, que é um mercado com potencial e de maior proximidade. "Os americanos vêm ver e contactar os fornecedores, mas na Europa tem de se ir ter com os clientes" relembrou Leandro de Melo.
Em relação ao futuro, Leandro Melo considerou que o comércio online vai ser dominado por quem domina a tecnologia e que são as grandes cadeias de distribuição, que têm capacidade de gerar tráfego e fidelizar clientes, por isso na sua opinião as empresas têm de conhecer e dominar o omnicanal.