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Mix de "papel" vai dar papel a grupo da Lousã

A Trevipapel está a investir 30 milhões de euros na construção de uma fábrica em Vila Velha de Ródão. Com o projecto de verticalização vai dominar a matéria-prima para a produção de papel "tissue".

28 de Abril de 2016 às 11:41
Paulo Duarte
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Obrigada a importar a maior parte da matéria-prima - e com dificuldade em fazê-lo a preços controlados - para produzir os seus guardanapos, rolos de papel higiénico industriais, toalhas de mesa, rolos industriais ou de limpeza de mãos, a Trevipapel está a construir uma fábrica para produzir 32 mil toneladas de papel em bobine por ano. O investimento, avaliado em 30 milhões de euros, estará concluído no final de 2016, arrancando de imediato o fabrico com 50 novos postos de trabalho, somando mais 30 numa segunda fase.

Chama-se Paper Prime este novo projecto do grupo da Lousã, que factura 23 milhões de euros, emprega actualmente 130 pessoas e exporta 50% da produção. Vai ser implementado em Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco, onde encontrou um fornecedor de pasta de papel do grupo Altri, com o qual fechou acordos de fornecimento da pasta de fibra curta por "pipeline" desde a Celtejo.

Na conferência "Competitividade em Portugal", organizada pela EY e pelo Negócios no Porto, o líder da equipa de projecto, Carlos Araújo, explicou que este projecto de verticalização do grupo liderado pelo empresário Paulo Lobo Correia contou com "um mix de financiamento [que foi] essencial para colocá-lo de pé": tem capital dos promotores, capital de risco, crédito bancário e subsídios reembolsáveis através do Portugal 2020. Além disso, apresentou candidatura a benefícios fiscais contratuais e beneficia do estatuto de Projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN), "o que tem permitido agilizar processos de implementação do investimento, nomeadamente ligado com licenciamentos e estudos de impacto ambiental".

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Ganhos de produtividade  a vários níveis Além do ganho financeiro conferido pelo domínio da principal matéria-prima, o grupo da região Centro conta com outras vantagens competitivas neste investimento, que vão dos recursos humanos ao impacto ambiental.

Qualificação de quadros

Uma vantagem que "veio a reboque", embora desde o início soubesse que também seria relevante, é o aumento de competências no grupo com a entrada de diversos quadros especializados. Vão entrar na fábrica que está a ser construída, mas acabarão por se relacionar com a sede, na Lousã, apontou Carlos Araújo.

Via verde para customizar produto
Outra vantagem é poder criar novos produtos customizados. É que a própria matéria-prima pode ser adaptada para surgirem produtos inovadores que se queiram lançar no mercado. Hoje isso é "praticamente impossível", pois dependem da matéria-prima estandardizada que existe no mercado.

Cortes no custo energético e transporte
Com o abastecimento de pasta líquida feito através de "pipeline" deixa de haver um custo de transporte que nas bobines pesadas tem relevância. E há uma racionalização energética: "não temos de fragmentar a pasta, não temos de gastar a mesma energia para a coser e, do outro lado, o fabricante também tem a vantagem de não ter de secar a pasta".

Empregar e exportar
O investimento permite uma substituição directa de importações e um aumento do valor exportado e, a nível macro, traz benefícios à escala sectorial, nacional e regional, pois esta é "uma zona interiorizada onde não é fácil atrair investimento, criando emprego, incluindo qualificado".

No que toca ao capital de risco, a Oxy Capital, através do Fundo Revitalizar Centro, foi o parceiro inicial, entrando depois também o Banif Capital. Carlos Araújo sustentou que "a diversificação de fontes financeiras significa menor risco e mais fácil negociação com todas as partes". Começou, desde logo, por "uma auditoria muito apertada" e seguiu com uma "avaliação rigorosa do investimento" - o plano de negócios já foi actualizado oito vezes -, e facilitou também a candidatura aos fundos comunitários.

O responsável citou também a vantagem do controlo de gestão, que arrancou logo que foram finalizados os acordos com as sociedades de capital de risco. A melhoria da informação interna, melhoria do reporte e entrada de novas competências do grupo foram algumas das mudanças introduzidas, ficando a Oxi com a "prerrogativa da escolha do director financeiro" ao longo do projecto Paper Prime.

"E facilita-nos a tomada de decisões e implementar soluções para investimentos futuros. Agora temos o suporte de uma entidade que tornará mais fácil recorrermos no futuro ao mercado, quando houver essa necessidade", confiou Carlos Araújo.

A fatia de bolo da Oxy e a linha dos clientes "Basicamente a ideia da capital de risco é construir um bolo e ficar com uma fatia. Se o bolo crescer, a minha fatia é muito grande; se o bolo desaparecer eu perco tudo". Luís Quaresma recorreu à metáfora culinária para explicar o trabalho da Oxy Capital, que tem actualmente quatro fundos sob gestão: dois de reestruturação (Fundo de Reestruturação Empresarial e Aquarius) e dois de crescimento (Fundo Revitalizar Centro e Mezzanine).

O partner desta "private equity" aconselha que todas as fontes de financiamento "devem funcionar em conjunto", seja o capital de risco, um empréstimo bancário, o aporte de capital accionista ou os fundos comunitários do Portugal 2020. De resto, "o truque na área de investimento é escolher as boas empresas, as boas equipas de gestão e apoiá-las".

A Oxy Capital já entrou, por exemplo, na start-up Feedzai, numa operação entre accionistas na Palbit ou na reestruturação da Cabelte. Neste caso de empresas viáveis mas muito endividadas, o gestor apontou que "basta resolver o problema do stress financeiro para os resultados operacionais apareceram de forma natural". "Isto acontece porque, em vez de passar tempo a falar com bancos, o empresário passa-o a falar com clientes, que é muito mais útil", frisou Quaresma.

Nova revolução industrial em andamento "Uma nova visão para a indústria, que já esta a acontecer um pouco por todo o mundo, da Alemanha aos EUA". João Vasconcelos, secretário de Estado da Indústria define assim o conceito de indústria 4.0, que se está a transformar numa das bandeiras da sua tutela.

O governante, que encerrou o Observatório organizado pelo Negócios e pela EY sobre a competitividade, acredita que esta "revolução industrial" já começou no país. "De Norte a Sul de Portugal temos ouvido falar de uma quarta revolução industrial caracterizada pela introdução de um conjunto de tecnologias digitais nos processos de produção e de uma relação maior dos intervenientes na cadeia de valor com o cliente ou mesmo com o modelo de negócio", avançou o secretário de Estado.

João Vasconcelos detalhou ainda que "o turismo é um bom exemplo, onde o comércio electrónico revolucionou os modelos de negócios, conferindo muito mais poder de customização e escolha aos clientes, com soluções como o Booking ou o Airbnb", realçou.

Comité e grupos de trabalho

O Governo associou-se a empresas como a Altice, a Bosch, a Google, a Huawei a Siemens e a Volkswagen para a criação de um comité estratégico " em torno do tema indústria 4.0", referiu João Vasconcelos. A primeira reunião teve lugar em Ílhavo.

A estas empresas juntam-se entidades como a Cotec, a CIP, o IAPMEI e o Turismo de Portugal. O governante salientou que "depois de termos aprendido com a análise rigorosa que fizemos ao trabalho que outros países fizeram, agora é hora de perceber as necessidades concretas das empresas portuguesas". E para isso, o Executivo, "está a criar grupos de trabalho para o sector automóvel, moldes, retalho e moda, turismo e agro-indústria. Quatro grupos irão começar a trabalhar sob a coordenação do Ministério da Economia para propor medidas a identificar prioridades no âmbito da indústria 4.0", salientou o governante. João Vasconcelos revelou ainda que estes grupos são "compostos exclusivamente por empresários, desde grandes empresas até start-ups". E recordou que "esta é a primeira revolução industrial em que a nossa localização não importa".

João Vasconcelos elogiou o comportamento das start-ups portuguesas e deu conta da sua capacidade de criar emprego e avançar com a internacionalização. Entre os exemplos que deu, de como as tecnologias estão a mudar o mundo, o secretário de Estado falou da marca de calçado Luís Onofre, que já vende mais na loja online do que na física, em Lisboa. Falou ainda do caso da Autoeuropa, que usa impressoras 3D na sua produção e começou "a testar um carrinho autónomo e inteligente que acompanha o operário com as ferramentas", adiantou João Vasconcelos.

O governante realçou, no entanto, que para que este novo paradigma funcione é preciso que haja uma relação próxima entre as empresas e as instituições de conhecimento tecnológico, como as universidades.
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