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João Alves: Empresários portugueses têm de ser activos na economia digital

Para João Alves, managing partner da EY, a necessidade de proactivdade levou a que muitas das ideias e medidas resultantes do Beyond apontem para a acção, e a urgência de transformar modelos de negócio, de elevar níveis de sofisticação tecnológica e assumir um carácter global na actividade.

02 de Novembro de 2016 às 11:24
Pedro Catarino/Correio da Manhã
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A ideia da EY é acima de tudo propor uma aposta em linhas de acção fulcrais para as pessoas (educação, capacitação, (re)qualificação) e para as organizações (transformação operacional, sofisticação tecnológica, orientação para o cliente) do nosso país" diz João Alves, managing partner da EY, no primeiro balanço do beyond- Portugal Digital Acceleration, que hoje tem a sua grande conferência final em Lisboa no Parque das Nações. "O Beyond pretende despoletar um movimento, e não um simples evento, na área do Digital" acentua o líder da EY em Portugal e Angola, por isso o desafio é continuar a dinamizar esta iniciativa nos próximos anos.

Que balanço faz do movimento Beyond? Foram atingidos os objectivos?
O Beyond é, assumidamente, uma iniciativa disruptiva, que pretende despoletar um movimento de transformação da realidade Digital da economia e sociedade portuguesas. Para a EY foi, desde o primeiro momento, foi fundamental que o Beyond congregasse objectivos muito ambiciosos em torno de criar uma base de reflexão alargada e aprofundada sobre os desafios digitais para Portugal em dois eixos - compreender de forma correcta as principais tendências da era digital, e construir mecanismos de resposta e capacitação futura de Portugal - pessoas, empresas, organismos - para actuarem neste novo ecossistema digital.
Perante este desígnio de elevado espectro, podemos afirmar que o nosso balanço, destes quatro meses, é francamente positivo. Não só pela grande mobilização verificada face aos temas em debate (mais de cem responsáveis de topo envolvidos), mas sobretudo pela participação activa em todos momentos de partilha de ideias e opiniões (doze sessões de aceleração, dois Think Tanks).
Neste ponto quero mesmo destacar a qualidade e pragmatismo dos contributos e intervenções de todos os membros deste Digital Club - champions e participantes. Os champions foram, todos, pessoas de referência e de visão estratégica que ajudaram a impulsionar as reflexões e que assumiram como verdadeiros embaixadores dos seus temas. Os participantes pautaram todas as suas intervenções por um elevado grau de preparação e uma total disponibilidade para partilhar pontos de vista diversos e complementares.
O Beyond pretende despoletar um movimento, e não um simples evento, na área do Digital, pelo que diria que o principal sinal de sucesso, do ponto de vista da EY, prende-se com as solicitações que temos repetidamente recebido para continuarmos a dinamizar esta iniciativa nos próximos anos, prolongando a sua vigência e potenciando as relações e dinâmicas que têm vindo a ser criadas e alargando-as a mais esferas da sociedade e economia portuguesas.

Nesta segunda fase do movimento Beyond, um dos objectivos era identificar e objectivar desafios para Portugal em várias áreas. Como é que essas ideias e medidas se podem transformar em acção?
A EY tem uma prática de referência mundial na área do digital e como tal procurou mobilizar para todas as sessões de aceleração especialistas internacionais que identificassem tendências e, sobretudo, de exemplos relevantes de boas práticas. Assim, as discussões foram sobretudo motivadas mais pelo lado das oportunidades que o mundo digital consubstancia do que pelas ameaças.
As principais conclusões que surgiram do Beyond, têm sobretudo um carácter pragmático que aponta para um enorme sentido de urgência em reforçar capacidades e competências digitais, bem como capacitar as empresas para aproveitaram as oportunidades de competir globalmente. Todas as recomendações e focos de actuação que foram construídas no Beyond tem uma preocupação intrínseca de objectivar medidas e acções, claras e vitais, para Portugal acelerar digitalmente. A ideia da EY é acima de tudo propor uma aposta em linhas de acção fulcrais para as pessoas (educação, capacitação, (re)qualificação) e para as organizações (transformação operacional, sofisticação tecnológica, orientação para o cliente) do nosso país.
Do ponto de vista da EY, fica claro que Portugal, as empresas e os empresários portugueses, não podem ter uma postura passiva na economia digital. Muitas das ideias e medidas resultantes do Beyond apontam precisamente para a acção, para a proactividade, para a necessidade de transformar modelos de negócio, de elevar níveis de sofisticação tecnológica e assumir um carácter global na actividade.

Perfil Tudo começou em Joanesburgo Country Managing Partner da EY em Portugal e Angola, João Alves integra ainda o EY Mediterranean Region Leadership Team, que engloba a Itália, Portugal e Espanha.
Está na EY desde 1990, tendo começado a sua carreira em 1985, como auditor, na Arthur Young em Joanesburgo na África do Sul onde se licenciou em Contabilidade e Gestão pela University of the Witwatersrand.

Neste movimento, como se define o Beyond, a disrupção é um dos conceitos chave. Qual é o seu impacto nos sistemas políticos e sociais tal como nos regimes regulatórios? O que é que ela exige da economia e da sociedade?
A disrupção digital está a mudar o modo como o mundo funciona. Hoje, as empresas, o Estado e os indivíduos estão a responder às mudanças que pareceriam inimagináveis até há poucos anos. Do ponto de vista da EY é possível identificar três forças primárias por trás desta onda de disrupção: tecnologia, globalização e as alterações demográficas. É a partir da interacção destas forças, que é possível identificar megatendências globais que estão a definir o presente e a moldar o futuro nas empresas, economias, indústrias, sociedades e vidas individuais.
Embora o impacto da digitalização não seja novo, a economia digital está a entrar numa nova era. A transformação digital impacta não somente nas estruturas base de cada indústria e do posicionamento estratégico, bem como em todos os níveis de uma organização (cada tarefa, actividade, processo) e de sua cadeia de fornecimento alargada. Os líderes devem desafiar as suas organizações para garantir que essa mudança assente na tecnologia consegue despoletar ganhos de produtividade e significativas vantagens competitivas, e entender onde e como as premissas fundamentais das suas operações atuais podem ser perturbadas por novos operadores ágeis ou por novos modelos de negócio.
A marcha da disrupção digital é, de certo modo, implacável e isso pode deixar decisores e líderes com graus de incerteza elevados e uma ampla gama de desafios. Responder à disrupção tornou-se uma questão central. Por outro lado, este ecossistema digital provoca mudanças significativas na forma de trabalhar, comunicar e vender, o que tem dado origem a novas oportunidades e novos desafios. A transformação digital é, antes de mais, uma transformação do negócio. As pessoas, não a tecnologia, são a peça mais importante deste puzzle.

Os seis vectores escolhidos (talento, comunidades, legal e segurança, cliente, competitividade e estilos de vida) o movimento Beyond são os mais transversais e de maior impacto para Portugal?
Quando concebeu o Beyond, a EY considerou, de facto, uma abordagem por temas (e não por sectores), porque uma das premissas críticas do mundo digital é precisamente o esbatimento de fronteiras entre indústrias e sectores. Para tal seleccionámos temas suficientemente abrangentes e desafiantes, que congregassem diferentes perspectivas e entendemos que estes seis temas eram seguramente estruturantes na era digital.
A EY entende que as respostas a estas questões digitais não são de forma alguma simples ou imediatas mas no mundo global actual podem ser um passo certo em termos de competitividade e de capacitação de Portugal no contexto Digital.
Assim sendo, os primeiros resultados do Beyond dão uma visão clara dos desafios reais que o digital coloca à competitividade de Portugal, e uma orientação clara para um foco urgente de actuação em determinados domínios. Esperamos e acreditamos que o Beyond seja um contributo objectivo e diferencial para a melhoria da qualidade de vida e para o crescimento económico em Portugal.

O Digital é o "novo normal", mas mais veloz Para João Alves as empresas portuguesas têm de compreender esta dinâmica e fazer as suas mudanças tendo como horizonte o mercado global

"A digitalização pode alargar o espectro de actuação das organizações, melhorar decisões de gestão e acelerar o desenvolvimento de novos produtos e serviços. Ao mesmo tempo, a excessivamente rápida adopção de tecnologias pode "disrromper" os modelos de negócios tradicionais. " refere João Alves. É uma oportunidade única para a competitividade e crescimento da economia portuguesa, até porque "a economia digital não necessita necessariamente de escala no sentido tradicional ou industrial. Nivela o campo de jogo. Isto é, é perfeitamente viável para um país mais pequeno ser um player relevante à escala mundial".

Este novo mundo digital de mudança acelerada e inflexível coloca desafios de sobrevivência. "O digital é o "novo normal", em que tudo é pensado e executado a um ritmo cada vez mais veloz, abrangendo todos os aspectos do mundo empresarial da sociedade. Entender essa dinâmica e levar a cabo as mudanças necessárias é o contexto adequado para os processos de transformação digital das empresas portuguesas" prossegue João Alves.

O papel das pessoas na transformação digital é crítico, insubstituível e é condição necessária para o sucesso das empresas portuguesas no mundo digital. Desse ponto de vista, segundo João Alves, "há urgência em reforçar capacidades e competências digitais". O managing partner da EY salienta que, neste contexto, a EY entende que a identificação, retenção e valorização do talento "é crítico em todos os sectores e áreas de actividade para fazer face à mudança e à disrupção que o digital impõe". Por isso as organizações portuguesas também têm que saber encontrar e gerir os seus talentos, porque "a competição por talentos não cessa sejam tempos mais tempos calmos ou de grande desafio".

João Alves salienta que "os modelos de negócio serão diferentes, as profissões serão diferentes e como tal as competências são necessariamente diferentes e mais sofisticadas". Exemplifica com as áreas tecnológicas, em que se verifica "uma tendência forte e evidente para "novas profissões" como os data scientists, os UX designers, os developers, os cloud computing specialists, os robotic engineers, os drone controllers ou ciber security experts". 



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