- Partilhar artigo
- ...
Como é que a crise afectou as vossas operações no exterior?
Prejudicou imenso. Por exemplo, o financiamento começou a ser um problema, que nunca tinha sido. Ninguém queria financiar investidores portugueses. Foi um problema grave. Nessa altura teria sido impossível concretizar uma operação grande, como a Verallia. Ninguém financiaria investimentos portugueses.
Também pela questão da imagem enquanto país?
Tirando esse momento complicado em que os mercados financeiros se fecharam completamente a Portugal, acho que temos pior imagem do nosso país do que os estrangeiros têm dele. É evidente que os países do Norte acham sempre que os do Sul são pouco trabalhadores e gastam mais do que devem, mas isso vai mudar com o tempo, seguramente. Hoje a maioria dos países já começa a olhar para Portugal [de forma diferente], começamos a ter muitos investidores portugueses nos países nórdicos e de Leste. E começam a perceber que os investidores não têm nacionalidade, que a nacionalidade é irrelevante.
Houve impactos do caso BES?
É evidente que alguns escândalos não ajudam. O caso BES foi muito mau para Portugal. Não tem a ver com questões políticas, mas de imagem. Tudo o que ponha em causa a credibilidade, nomeadamente das instituições, põe em causa a credibilidade dos investidores portugueses no estrangeiro.
Teme a instabilidade política nos próximos meses?
É a mesma instabilidade que se vive em Espanha ou na Polónia, onde haverá eleições. É evidente que o desfecho disto pode não ser muito interessante, do ponto de vista outra vez de credibilidade. Vamos ver. Se a Europa passar a imagem de que Portugal pode ter fragilidades, pode complicar a vida de Portugal.
E como aprecia a fiscalidade?
Os impostos em Portugal são altíssimos, não atraem trabalhadores. E também ao nível da sociedade [IRC] é o país em que pagamos mais impostos. Desse ponto de vista é um país que não atrai absolutamente nada.
E na legislação laboral, junta-se ao coro dos que defendem que ainda há muito onde mexer?
Houve algumas evoluções nos últimos anos no que toca à flexibilidade, não muita. Não é a mesma que existe em Espanha ou na Polónia. Ainda é mais rígida. Aqui fala-se muito das 40 horas [semanais], mas a maior parte das indústrias pratica abaixo disso. No Reino Unido são 42h, na Alemanha 44h. Aqui na BA são 36 horas. Em Portugal praticamos tempos de trabalho muito inferiores.