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Salvador Caetano voa mais alto

A Salvador Caetano está em três continentes e 37 países. Faturou 2,3 mil milhões em 2018 (107.286 veículos) e prevê 2,4 mil milhões em 2019. Emprega 7.217 pessoas (2.300 em Gaia).

27 de Novembro de 2019 às 16:00
Paulo Duarte
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Debruçámo-nos no corrimão do varandim metálico de um dos pavilhões da Caetano Bus, detida em 62% pela Salvador Caetano (os restantes 38% são da japonesa Mitsui). Naquele chão frio de fábrica que os olhos dali alcançam, onde, peça a peça, etapa a etapa, qual alfaiataria, dezenas de trabalhadores montam os autocarros da companhia, não há espaço nem para mais um.

A estrutura industrial está repleta de veículos, alinhados em filas e ainda em carcaça. Serão terminados, pintados e selados noutros pavilhões contíguos, prontos para entregar por barco ou em camião aos clientes em todo o mundo.

Entre os veículos em produção está o modelo Cobus, a marca própria de autocarros utilizada nos aeroportos que é a "menina dos olhos" da CaetanoBus e que a companhia já exporta para mais de 90 países.

Com isto assimilamos melhor as palavras do CEO da Toyota Caetano Portugal quando nos diz, minutos depois, que só esta unidade de Gaia faturou "o ano passado 74 milhões de euros" e que este ano "a previsão é de 101 milhões", fruto da venda de 440 veículos em 2018 e das 689 unidades que dali sairão até ao fim de 2019.

Face ao aumento das encomendas de autocarros, vamos usar a fábrica de Ovar para absorver o aumento de produção.

A Caetano Aeronautic (CAER) faz parte do nosso faro. A indústria é importantíssima para o país e estruturante para criar riqueza.
JOSÉ RAMOS
CEO da Toyota Caetano Portugal

"Esta fábrica está a atingir o ponto de saturação e está no nosso horizonte expandir a produção, até porque a fábrica de Ovar tem capacidade neste momento para acomodar também a fabricação de autocarros e estamos a estudar essa ampliação, principalmente agora com o novo modelo de autocarro a hidrogénio que lançámos e que está a ter muito êxito", revela José Ramos.
A estrutura industrial estava repleta de veículos, alinhados em filas e ainda em carcaça. Serão terminados para entregar por barco ou em camião em todo o mundo.
A estrutura industrial estava repleta de veículos, alinhados em filas e ainda em carcaça. Serão terminados para entregar por barco ou em camião em todo o mundo. Paulo Duarte
O CEO fala do H2.City Gold, que estará no mercado em 2020 e que é o novo veículo de transporte coletivo de passageiros (até 87 pessoas) elétrico a hidrogénio, que utiliza a mesma célula de hidrogénio do Toyota Mirai. É amigo do ambiente, está equipado com uma célula de combustível Toyota e é resultado da "elevada capacidade de engenharia da CaetanoBus". Graças ao rápido tempo de carregamento (menos de nove minutos) e à elevada autonomia do veículo, "as operações nas cidades não estão comprometidas", garante a empresa. É que o H2.City Gold tem uma autonomia de 400 quilómetros com um só carregamento.

CAER: mais 2000m2 e dois milhões de investimento

O CEO confirma que, face ao aumento das encomendas de autocarros, vão "usar a fábrica de Ovar para absorver o aumento de produção", embora a vertente de "engenharia" se mantenha "toda aqui" (Gaia). A produção, essa, é que "será dividida entre as duas fábricas". O objetivo é, "em finais de 2020/2021, estarmos já também a produzir em Ovar".


7.217
Pessoas
O grupo tinha 7.217 trabalhadores em 2018. Prevê 7.400 em 2019.

12.480
Unidades
A Toyota Caetano Portugal vendeu 12.480 unidades no ano de 2018.

842
Formandos
Nos seus sete centros de formação agrega 842 formandos em 2019.

689
Autocarros
A CaetanoBus vai fechar 2019 com 689 autocarros vendidos.


Na calha está mesmo "duplicar a capacidade" de montagem e acabamento destes veículos, garante José Ramos, realçando que a previsão é, daqui a 10 anos, atingir as 2.000 unidades. "Na vertente da engenharia não vamos crescer muito mais em recursos humanos, mas na parte da montagem, sim, vamos precisar de mais 400 a 500 pessoas".

De pavilhão em pavilhão, e já depois dos túneis da pintura, abrem-se-nos, a dado momento, as portas da mais recente unidade industrial do grupo no concelho de Gaia: a Caetano Aeronautic (CAER). "Faz parte do nosso faro. É indústria, e a indústria é importantíssima para o país e estruturante para criar riqueza", diz, orgulhoso, o CEO. A sua construção resulta de uma "joint venture" (50%/50%) entre os grupos Salvador Caetano e Aciturri e onde são fabricadas, desde 2015, peças maquinadas em alumínio, titânio e em fibra de carbono para alguns dos principais programas do setor aeronáutico. Os principais clientes são de peso: Airbus ("predominantemente"), Aciturri, Alestis e Ogma.

A CAER emprega 164 colaboradores, faturou 7,4 milhões de euros o ano passado e prevê faturar 8,5 milhões este ano. Exporta 99% da sua produção. Mas, avisa José Ramos, "ainda estamos a começar, estamos em crescendo", revelando que vão "expandir a fábrica". No ano 2020, a unidade vai ter "pelo menos mais 2.000 metros quadrados" para reforçar a componente metálica e dos compósitos. O investimento é de dois milhões de euros e implica a contratação de mais 60 pessoas.


Perguntas a José Ramos
Presidente e CEO da Toyota Caetano Portugal

"Preocupa-me a eficiência e a produtividade"

O Governo acaba de fixar em 635 euros o salário mínimo nacional (SMN) para 2020, mas isso não afeta a Salvador Caetano, que paga "predominantemente acima". Ao presidente executivo do grupo preocupa, sim, "a eficiência e a produtividade".

Dos vossos sete centros de formação saem centenas de jovens. Que percentagem fica convosco?
A taxa de retenção nas empresas do grupo Salvador Caetano só na área abrangida pelo Centro de Formação de Gaia é de 41%. A forma como a formação é dada - a tal cultura a que nós chamamos "ser Caetano" -, mesmo os que não ficam cá, levam-na. São nossos embaixadores. Uma das nossas estratégias é que queremos que os nossos trabalhadores não venham para o emprego, mas gostem de vir trabalhar. Isto é muito fácil de dizer, mas é preciso ter uma estratégia, a começar pelas chefias. Os líderes aqui têm de ser verdadeiramente líderes. Têm de se preocupar com os trabalhadores. Em diversas áreas, desde a ergonomia, o bem-estar, e preocupamo-nos muito com isso. E queremos, portanto, que, quer a produtividade, quer a eficiência venham ao de cima e sejam evidentes.

Da flexibilidade não se fala. Não passa cá para fora. JOSÉ RAMOS
Presidente e CEO da Toyota Caetano Portugal

Quais são os principais constrangimentos que um grupo da vossa dimensão sente na sua atividade?
Deixe-me dizer-lhe: agora, a propósito da concertação social, fala-se muito no salário mínimo. A mim não me preocupa o salário mínimo. A mim preocupa-me a eficiência e a produtividade. E é uma coisa de que não se fala. Pelo menos, não passa cá para fora falar-se da flexibilidade que a indústria precisa.

E não têm flexibilidade?
Nós temos acordos com os nossos trabalhadores. Mas quando se fala em concertação social isto devia ser algo nacional. E não é.

A legislação laboral ainda não é suficientemente flexível?
Não. Não é.

Mas quando diz que não o preocupa o aumento do salário mínimo nacional é porque pagam acima?
Sim, predominantemente. Quando é que o salário mínimo pode ser preocupante? Há certas indústrias em que pode, mas é principalmente nos serviços.

Se não tiverem o tal cuidado de melhorar a produtividade e a eficiência, traduz-se num agravamento de custos para a indústria.
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