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O campus que fica na memória

Quer ser uma referência no tratamento de doenças neurológicas e a procura não pára. De russos a suecos, ninguém pensa duas vezes em viajar até Torres Vedras quando o assunto é saúde.

28 de Agosto de 2018 às 15:13
João Ferreira fundou com o pai e com o irmão o Campus Neurológico Sénior. David C. Santos
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"Vamos lá, senhor João!", incentiva a fisioterapeuta junto de um doente que tenta pedalar numa bicicleta estática mas as pernas não colaboram. "Tem calor? Está bem?" Se as condições essenciais forem cumpridas, o senhor João há-de conseguir pedalar mais um pouco hoje e outro pedacinho amanhã.

Muitas das doenças acompanhadas no Campus Neurológico Sénior (CNS), desde patologias do movimento a demências, não têm cura. O que se consegue é melhorar a mobilidade, a autonomia e o bem-estar dos pacientes, um processo que depende em grande parte da articulação rápida e eficaz entre profissionais de diferentes áreas, de neurologistas a fisioterapeutas. Um lugar que o permitisse era o que faltava construir, na óptica de Joaquim Ferreira, neurologista, co-fundador e director clínico do CNS. "Ele percebeu, de uma forma clara, que não havia nem em Portugal nem na Europa nenhuma unidade altamente especializada em doenças neurológicas e propôs a mim e ao meu pai abrir um centro em que a abordagem fosse multidisciplinar", conta o irmão, João Ferreira, engenheiro civil e sócio do CNS.


O projecto implicou um investimento inicial de 15 milhões de euros.


O trio familiar criou, assim, em 2013, no topo de uma colina de Torres Vedras, um complexo que ocupa cerca de 17 mil metros quadrados. A olhar a cidade do alto, dois edifícios asseguram a componente clínica (com consultas, internamento e uma unidade de reabilitação) e a residencial, que é considerada por João Ferreira "um hotel de quatro ou cinco estrelas", "apenas" com "uma dificuldade acrescida: os turistas são dependentes, alguns muito mesmo".

32 países procuraram o CNS

O objectivo é aproximar o tempo entre os exercícios de reabilitação e as consultas, incluindo planos de nutrição e conversas para estimular a memória, por exemplo, de modo a atingir maior eficácia nos resultados. Mas o centro também aposta na investigação, muitas vezes colaborando em ensaios clínicos. Não havendo muitos lugares que abordem desta forma, multidisciplinar, doenças como a esclerose múltipla, Alzheimer ou Parkinson (a especialidade do director clínico), uma grande parte do público do CNS vem do exterior. "No ano passado, contámos doentes de 32 países", afirma João Ferreira. "As pessoas dão a volta ao mundo se souberem que do outro lado está uma unidade que pode ajudar na melhoria ou no tratamento da sua doença". Por outro lado, não existindo acordos de saúde com seguradoras, é também o poder de compra de pacientes da Suécia, Noruega, Suíça, Reino Unido ou Rússia que permite a sustentabilidade do negócio.

O projecto implicou um investimento inicial de 15 milhões de euros, 90% em infra-estruturas e mobiliário, e emprega cerca de 100 pessoas. A perspectiva de João Ferreira é que no sétimo ano se alcance o equilíbrio de contas. "No ano passado, facturámos perto de 3,5 milhões. Sendo uma entidade privada, sem protocolos, é muito bom".

Tome nota

Empresa investe 4,5 milhões em Lisboa

Com uma unidade em Lisboa desde 2016, o CNS prepara-se para ampliar o negócio na capital e quer, ao mesmo tempo, solidificar Torres Vedras.

Factor "Lisboa"
Em 2016, o CNS abriu um pólo de reabilitação e clínica médica em Lisboa, mas o espaço já não é suficiente para a procura. Vão passar, em breve, de uma unidade de 250 metros quadrados para quase 2000 m2, uma transformação que vai exigir um investimento de 4,5 milhões de euros.

Perspectiva
"Temos andado a crescer 25 a 30% ao ano. Mas vai chegar um momento em que vamos estabilizar, até porque, das 78 camas, numa média anual, 11 estão por preencher", informa João Ferreira.

A valia da arquitectura
Se a ideia é activar a memória de muitos dos doentes no CNS, também se pretende fazê-los esquecer que estão numa unidade de saúde. Para isso servem as janelas amplas, os jardins ou o design do mobiliário nas salas de estar. Em 2014, o complexo foi distinguido com o Prémio SIL de Imobiliário como Melhor Empreendimento Imobiliário de Comércio, Serviços e Logística.

O director clínico
Joaquim Ferreira tem-se dedicado particularmente à doença de Parkinson. Doutorado em Neurologia pela Universidade de Lisboa e professor na área, tem a liderança da Unidade de Farmacologia Clínica do Instituto de Medicina Molecular e da secção europeia da Sociedade Internacional de Doença de Parkinson e outras Doenças do Movimento no currículo.



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