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Presidente da Câmara de Ponta Delgada: "A insularidade pode ser uma vantagem competitiva"

Desonerar os custos suportados pelas empresas para lhes dar competitividade tem sido uma das apostas do executivo da Câmara de Ponta Delgada, que vê na chegada das “low cost” uma oportunidade. O número de pedidos de licenciamento para alojamento local e rural já está a aumentar.

Miguel Baltazar
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Cortes nos custos de contexto tem sido a aposta de José Manuel Bolieiro para reforçar a competitividade das empresas do concelho. É nesse espírito que no próximo ano quer ter a funcionar uma incubadora  de start-ups no centro de Ponta Delgada.

 

Só 0,3% das empresas do concelho são exportadoras. Um valor muito baixo face à média nacional. Como é que se muda esta realidade, se é que acha que é preciso mudá-la?
É mesmo preciso mudar porque nós temos capacidade para sermos competitivos na venda de bens transaccionáveis alimentares. Não pela quantidade, mas pela qualidade, pelo

Devido às ‘low cost’,
já estamos a ter um impulso
de empresários
que tencionam investir. 
José Manuel Bolieiro,
presidente da câmara de ponta delgada

exotismo. Acho que temos capacidade para criar um produto ‘sui generis’, genuíno pela sua ligação à natureza e pela ausência de aditivos químicos. O facto de estarmos em ilhas e muito distantes na sua continuidade territorial tem impedido uma maior afirmação. Temos um problema de sobrecustos de transporte.

 

A insularidade ainda é um grande obstáculo.
A insularidade é um obstáculo. Tentamos contrariar isso, dentro das regras específicas da União Europeia para territórios como os Açores, dando subsídios para o custo de transporte, de forma a assegurar a competitividade do produto. Mas não tem sido suficiente. Há aqui um desafio de política pública de apoio ao combate à insularidade e à descontinuidade territorial.


A insularidade não tem de ser uma maldição, é isso?
Não apoiada é uma maldição. Mas com uma política de apoio ela pode ser uma vantagem competitiva, na medida em que a genuinidade e a excelência do nosso produto, e até o exotismo da sua origem, permitem ter competitividade. Mas precisamos de uma política pública para a desoneração do transporte.

 

As empresas em São Miguel falam em exportar quando vendem para o continente ou até para outras ilhas.  Percebe-se que enviar produtos para o continente exige pôr mercadoria num cargueiro como se fossem exportações. Mas também não há aqui uma questão de mentalidade, de os empresários estarem pouco sensibilizados para a exportação?
Devido ao isolamento durante anos, e sobretudo no período pré-democrático de Portugal em que existia uma política administrativa muito centralista, nós procurámos muito a auto-subsistência. Precisávamos de ter uma economia que fosse sustentável por si para recebermos produtos de fora. Criámos alguns excedentes nos Açores, em particular na época da laranja e durante os períodos das Grandes Guerras. O isolamento treinou-nos no auto-sustento. Agora é preciso inverter essa tendência histórica e mudar de mentalidade, alertando os nossos empresários para as vantagens de produzirmos bens transaccionáveis, de exportarmos.

 

O que está a fazer para ajudar as empresas neste processo?
Alertamos e criamos estímulos. Temos procurado proporcionar às empresas uma actuação desonerada de custos de contexto. Queremos aproveitar o próximo quadro comunitário de apoio para uma ideia de start-ups, que facilite a sedeação de empresas criativas e criadoras no centro histórico de Ponta Delgada, sem os custos para instalação de sede. É algo que consta do nosso plano estratégico. Irá avançar quando o novo quadro de fundos comunitários e o programa operacional regional estiverem em velocidade de cruzeiro, o que só deverá acontecer em 2016. Mas temos sempre esta preocupação de desonerar. Em termos de política fiscal baixámos para o mínimo a taxa de IMI [Imposto Municipal sobre Imóveis]. E reduzimos para metade as taxas e tarifas para os negócios e a ocupação de espaço público. Temos também uma média de pagamento aos fornecedores inferior a 20 dias, o que para mim é um orgulho.


Como avalia a vinda das companhias aéreas de baixo custo?
Muito meritório. Desde sempre fui a favor de uma política de céu aberto para os Açores. Conseguimos reduzir os custos mesmo no âmbito das obrigações de serviço público, que passaram para 134 euros. Antes havia preços de 300 e 400 euros. Só esta componente já foi essencial para tornar os Açores e Ponta Delgada mais competitivos. E já deu resultados. As estatísticas públicas apontam para um aumento de cerca de 30% no número de passageiros e há margem para progredir. A acrescer a esta vantagem da reforma das obrigações de serviço público há ainda a política de céu aberto com a entrada das "low cost".

 

As "low cost" vieram dar um impulso ao turismo...
Além do custo mais baixo, contribuem para uma notoriedade universal do destino, na medida em que como têm uma circulação europeia muito mais alargada do que a SATA e a TAP isso dá-nos outra projecção.

 

Acha que é possível duplicar o número de passageiros?
Tenho essa ambição. O aeroporto tem condições para suportar uma duplicação de serviços. A cidade e a oferta dos diferentes serviços também. Na oferta de camas, com certeza que já estamos a ter um impulso de empresários que tencionam investir.

 

Tem pelo menos duas unidades hoteleiras encerradas em Ponta Delgada...
Isso tem a ver com o histórico. Agora existe a oportunidade de as reabrir, seja com os mesmos donos ou outros. O Hotel Príncipe do Mónaco, mais conhecido como Hotel Casino, estará em obras nos próximos meses para a sua reabertura. E temos recebido no município muitos pedidos de licenciamento para alojamento local e rural.

 

 
Perfil: Um advogado que se fez político
José Manuel Bolieiro nasceu na Povoação em 1965. Só aos 14 anos Ponta Delgada se torna a sua cidade, para onde se muda para estudar. A licenciatura em Direito levou-o a Coimbra, de onde regressou em 1988 para exercer advocacia.

O primeiro cargo político data de 1989, quando é convidado para adjunto do gabinete do subsecretário-geral da Comunicação Social, ainda no tempo de Mota Amaral. Foi deputado na Assembleia Regional pelo PSD durante 11 anos, entre 1998 e 2009. O salto para a Câmara dá-se nesse ano, assumindo a vice-presidência do executivo liderado por Berta Cabral. Passa a presidente em 2012, com a ida desta para o Governo de Passos Coelho. Foi eleito com maioria absoluta nas eleições autárquicas de 2013. Gosta de cultivar o contacto com os munícipes na rua.

 

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