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A vaca dá o leite com calma. A Unileite transforma-o sem (quase) nunca parar

A Unileite reúne cooperativas de São Miguel. Diariamente, o leite vai chegando a esta fábrica. São mais de seis décadas de história no sector.

Miguel Baltazar/Negócios
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Em todo o percurso da fábrica, só há um local onde se vê leite: na cuba do queijo ilha. De resto, tudo corre nas tubagens. Há o barulho habitual dos processos produtivos, o branco pinta todo o edifício.


Esta é a maior cooperativa leiteira dos Açores e está localizada nos Arrifes, uma zona mais rural de Ponta Delgada. À sua volta há pastos, vacas e agricultores que passam nos seus tractores. De algum modo, está criado o ambiente ideal para enquadrar esta fábrica.


O leite entra diariamente através dos camiões que percorrem os postos de recolha e explorações de toda a ilha de São Miguel. Quando o camionista chega, traz uma amostra de leite de cada produtor que visitou. Se as análises determinarem que o leite não está em condições de ser laborado, é possível perceber a origem do dano.


Na Unileite, a produção de leite UHT (ultrapasteurizado) continua a representar a maior fatia: 60%. A restante quota produtiva de 40% é distribuída pelos queijos e manteigas. Há queijo ilha e flamengo. Em fatias, bola ou cunha. Da sua própria marca (a Nova Açores) ou com o carimbo dos retalhistas.


É a transformação dos queijos que ocupa a maior parte dos 250 trabalhadores desta fábrica, cuja média de idades ronda os 40 anos. No fundo, isso garante ao produto uma "aplicação mais cuidadosa" com o trabalho manual em causa, explica Délia Garcia, assistente da direcção, que guia o Negócios nesta visita.


Os procedimentos automáticos asseguram a restante operação. Na plataforma de armazenamento atingem o seu expoente. É uma cidade de pacotes de leite, onde o verde impera. O armazém tem capacidade para 6.630 paletes. Cada palete leva 720 litros. Contas feitas: quase 4,8 milhões de litros aqui guardados.


São três turnos diários a trabalhar. Na Unileite, o leite é transformado de segunda a sábado. Às vezes nem o domingo escapa, perante os picos de produção. O processo começa cedo, pelas cinco da manhã, para que ao meio-dia o queijo esteja a ser posto em formas. Depois há outro lado bastante agitado: o queijo fatiado.


A máquina vai determinando, depois do enchimento, quais as embalagens que reúnem a quantidade de produto definida. No caso de falta ou excesso de queijo, as embalagens ficam paradas na linha para que lhes seja feito um ajuste manual. Aqui segue-se a lógica de Lavoisier de que nada se perde. Tudo se transforma: os pedacinhos de queijo são depois ralados, criando assim uma nova opção.


Por ano, a Unileite recebe mais de 175 milhões de litros, oriundos de 720 produtores da ilha. O presidente Gil Oliveira conta que a fábrica "tem tido um crescimento anual entre 5 e 10%". A vontade é de impulsionar ainda mais esse incremento. "No entanto, há sempre o entrave do mercado a nível global, que está a ser invadido pelos países de maior dimensão", lamenta.


A união de cooperativas tem feito um esforço para se divulgar a uma escala internacional, sobretudo em feiras do sector alimentar.


De portas abertas

O caminho para chegar ainda mais longe pode passar por uma aliança com o turismo. "Os consumidores, nesta altura, têm uma belíssima oportunidade, os transportes baratos [companhias aéreas ‘low cost’], para virem ver os Açores. Se forem ao terreno, em cada ilha, vão perceber que há diferenças. Há diferenças do gado até à fábrica", posiciona Gil Oliveira.


Há muito que as portas da Unileite estão abertas para receber visitantes e mostrar-lhes o processo produtivo. "Já há muita gente que nos pede para visitar as fábricas, queremos aprofundar mais isso", remata.


As sinergias entre a agricultura e o turismo ainda não estão suficientemente desenvolvidas, mas Gil Oliveira acredita que não será difícil oleá-las. "São dois parceiros muito importante. A agricultura é a guardiã das maravilhas dos Açores, [os agricultores] são as pessoas que tratam dos Açores. O turismo vem consumir, provar, ver a beleza. Entre o turismo e a agricultura só pode haver bons resultados", justifica.


Por agora, os indicadores registados pela Unileite são animadores. No ano passado, a união de cooperativas fechou com um volume de negócios na ordem dos 82 milhões de euros. "É uma cooperativa que tem alguma dimensão e ajuda a puxar os preços para cima nos Açores", orgulha-se o presidente. São seis décadas de história a laborar em plenitude. Quase sem parar.

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