- Partilhar artigo
- ...
Foi "quase como desculpa" pelo facto de Álvaro Siza Vieira ser de Matosinhos que a autarquia local decidiu em 2007 criar a Casa da Arquitectura (CdA). Quase uma década depois, o projecto liderado por Nuno Sampaio tem desde Julho uma "configuração nacional de âmbito internacional", acoplando a designação de Centro Português de Arquitectura.
Acolher, tratar e disponibilizar publicamente acervos de arquitectura é o primeiro pilar desta associação cultural sem fins lucrativos, que envolve empresas e particulares na sua estrutura. "No fundo, valorizando a documentação para se perceber a produção do arquitecto e reservar para memória futura as maquetas, esquissos e desenhos de muitos edifícios", aponta o director executivo. É o caso das Piscinas das Marés, da Casa de Chá da Boa Nova ou de casas privadas erguidas por Siza no concelho, já que o acervo que gere inclui o material do Pritzker, herdado do município.
A segunda linha de acção são as visitas que organiza para mostrar ao grande público os "espólios vivos" dos arquitectos. Porque não basta fazer a reflexão disciplinar. Por fim, também celebra a arquitectura através de exposições, seminários e conferências.
Instalada numa casa que pertencia à família de Siza, a CdA vai ocupar na Primavera de 2017 um edifício de 5.000 metros quadrados no quarteirão da Real Vinícola, que vai gerir na totalidade e está a ser reabilitado pela autarquia. Na área de Matosinhos Sul, que está a ganhar grande dinâmica cultural, passará a ter "condições para tratar os espólios".
O que tem Matosinhos?
Matosinhos, Porto e Gaia são um só tecido urbano. Mal se dá pela mudança de concelho na transição da Praia Internacional para a de Matosinhos. E do passado longínquo até à contemporaneidade, há edifícios com "elementos qualitativos" que se foram implantando neste território que é só um e beneficiou da proximidade com a reconhecida Escola de Arquitectura do Porto.
Com uma equipa de sete pessoas, a CdA tem um orçamento de um milhão de euros, suportado pela Câmara e parceiros privados. O gestor fala na "expectativa natural" de que, sendo agora o Centro Português de Arquitectura, "poder, mais cedo ou mais tarde, acolher o Estado", ainda ausente nesta área cultural, ao contrário do que sucede noutras, como teatro, artes plásticas ou música.
Siza Vieira
É na sua terra natal que Álvaro Siza Vieira tem algumas das obras mais icónicas. Nessa lista estão a Casa de Chá da Boa Nova, as Piscinas das Marés, a marginal de Leça da Palmeira ou quatro casas datadas de 1957 que foram as suas primeiras obras privadas.
Alcino Soutinho
O edifício da Câmara é "um caso exemplar de grande concurso de arquitectura" para instalar a sede política de um concelho no pós-25 de Abril. Da autoria de Alcino Soutinho, o projecto – inclui a Biblioteca Florbela Espanca e outro edifício que não foi construído – alavancou a carreira do arquitecto e foi "um marco" que serviu de referência a outras obras.
Souto Moura
A requalificação da marginal de Matosinhos, "uma obra de espaço urbano das melhores feitas em Portugal", foi uma intervenção de Eduardo Souto Moura que tornou aquela a praia urbana com maior utilização em todo o país. E alguns dos maiores equipamentos desenhados, como uma piscina suspensa, nunca saíram do papel. As "Casas Pátio", junto ao Porto de Leixões, são outras obras emblemáticas no concelho.
Fernando Távora
A recuperação e ordenamento da Quinta da Conceição e o Pavilhão de Ténis neste parque público são "uma preciosidade" da autoria de Fernando Távora, um dos pais da Escola do Porto e mentor de alguns dos arquitectos mais consagrados do panorama português.