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Nem o 11 de Setembro fez a cama à Lameirinho

A têxtil de Guimarães, com 700 trabalhadores, continua a ser um colosso industrial da região. E nem o atentado nas Torres Gémeas deitou abaixo o negócio da empresa.

30 de Junho de 2016 às 00:01
Paulo Duarte
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Os 100 quilómetros de lençóis que a Lameirinho tem capacidade para produzir por dia dá quase para cobrir a distância entre o Porto e Coimbra . A fábrica abrange uma área gigantesca à saída de Guimarães e é um colosso industrial da região, com metros sobre metros de fio a sair de bobines gigantes, em direcção aos teares que vão compondo a roupa de cama, vendida em 36 países.

A história desta têxtil acompanha a do país e do mundo. "O meu avô começou com a empresa nos anos 30 e depois, oficialmente nos anos 40, formou o que hoje será a Lameirinho", contou Paulo Coelho Lima, administrador da empresa. Nos anos 70, o grupo virou-se para fora, para o Reino Unido, numa espécie de ensaio para aquele que seria o maior país de destino dos lençóis de Guimarães: os Estados Unidos. "Nos anos 90 o mercado americano estava receptivo a grandes mudanças e a inovações importantes", referiu o gestor.

Em 2001, a queda das torres gémeas, a 11 de Setembro, abanou a Lameirinho. Esse ano foi "para a têxtil e para quem trabalha no mercado americano um reverso em toda a estratégia que estava montada", salientou Paulo Coelho Lima. Os clientes estavam receosos do mundo exterior e nem o facto de Portugal ser um país "amigo" os descansou. Três anos depois o abanão foi outro, com a abertura do mercado à China que levou à falência muitas empresas portuguesas. A Lameirinho resistiu e reinventou-se, sobreviveu ao aumento exponencial dos preços do algodão, à crise financeira, e em 2013 a estratégia deu frutos.

A retoma têxtil
A visita à Lameirinho mostra bem os investimentos que a empresa levou a cabo ao longo das últimas décadas e que só nos anos 90 ascenderam a cerca de 100 milhões de euros, garantiu Paulo Coelho Lima. 700 pessoas trabalham em máquinas modernas que confeccionam, tingem e fazem os acabamentos das peças.

Paulo Coelho Lima explicou que os clientes são cada vez mais "premium" e isso implica lençóis com mais fio: enquanto nos anos 90 se trabalhava com 340 agora há peças com 1.500. Quanto mais fio, mais confortável, referiu o administrador.

E  explicou como a têxtil retomou o crescimento. "Deixámos de ser o patinho feio e passámos a estar na moda e a ser reconhecidos pelo que fizemos. Houve uma retoma que reconheceu em Portugal não só o preço mas um conjunto de outras vantagens". Uma produção mais próxima, mais flexível e com outras condições de pagamento favoreceu a indústria nacional face aos países asiáticos.

"Portugal é uma alternativa mesmo à própria Itália, só nos falta o ‘made in Italy’, porque, de resto, estamos ao nível deles. E fazemos um serviço muito mais rápido; a comunicação é fácil; somos europeus, é perto; e temos o mesmo tipo de discurso", explicou Paulo Coelho Lima.

O principal mercado da Lameirinho mantém-se do outro lado do Atlântico. "Em 2015 os EUA pesaram 40% do que exportámos, mas nós representamos 50% do que Portugal exporta de lençóis" para o país, garantiu Paulo Coelho Lima.

A têxtil facturou, no ano passado, 56,9 milhões de euros. As vendas para fora representam 89% do negócio da Lameirinho, que quer agora avançar para países como a Rússia e a China.

E como o futuro é muitas vezes um regresso ao passado, a têxtil está a trazer de volta os lençóis de linho, só que com uma inovação. "É enrugado e dá um aspecto vintage. Não se pode passar a ferro, senão estraga-se" salientou Paulo Coelho Lima. Este material é conhecido por ser difícil de engomar.

A Lameirinho está ainda a revitalizar materiais considerados menos nobres como o cetim e a flanela. E os mercados internacionais já estão a comprar a nossa roupa de cama.

Como é que uma empresa com 70 anos de história se adapta ao século XXI? "Estamos a dar os primeiros passos em vendas online", explicou o administrador da têxtil de Guimarães. Já a marca Lameirinho é cada vez mais apetecível em mercados como o Irão ou o Qatar, disse Paulo Coelho Lima. Mas, actualmente, entre as principais preocupações do gestor estão os efeitos do Brexit.

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