- Partilhar artigo
- ...
Utilizada para controlar a deformação de grandes estruturas, a fibra óptica também poderá servir para medir com precisão e em tempo real a curvatura da vela de um barco e, logo, a velocidade. A ideia está a ser promovida por Pedro Pinto, treinador de vela, e Hugo Rocha, velejador, ambos do Algarve. O Pedro vive em Lisboa e o Hugo em Barcelona. Trabalharam com a Universidade do Porto mas escolheram Leiria para sediar a empresa, numa decisão que teve em conta o acesso a fundos comunitários.
"Um dos grandes objectivos do velejador é colocar o barco a andar o mais rápido possível. O outro é conseguir fazer o melhor caminho para o destino", explica Pedro Pinto, que estudou informática e gestão que foi treinador da Federação Portuguesa de Vela. "Porque não conseguimos uma tecnologia que nos permita saber a forma da vela, para conseguirmos um melhor trabalho de velocidade?"
É da curvatura da vela que depende, em grande medida, o desempenho. Mas actualmente "em 80% do mercado, o que se faz é tirar fotografias que depois visualizamos em terra, no computador". Segundo explica, há sistemas mais avançados de processamento de imagem em tempo real, mas que continuam a ter fracos resultados à noite ou quando chove.
A ideia de utilizar a fibra óptica sensorizada, ao longo da vela, surgiu a partir de pesquisas no site da NASA e de contactos às empresas do sector, descreve Pedro Pinto. "A fibra óptica tem grande a capacidade de precisão. Basta dobrar um milímetro, e detecta", resume.
Isto porque "pode ter um conjunto grande de sensores ao longo do seu comprimento", acrescenta Elsa Caetano, a engenheira civil da Universidade do Porto que também está a trabalhar no projecto. "Permite medir com precisão a curvatura de qualquer objecto através de um feixe de luz; quanto maior a deformação maior a alteração face a uma linha recta", explica a investigadora. A fibra óptica tem sido utilizada na monitorização de grandes estruturas, como pontes ou edifícios.
No caso da Fibersail, já "está validado o conceito de sermos capazes de reconstituir a forma da vela", diz Elsa Caetano. Em termos práticos, falta agora "melhorar a forma de fixação da fibra óptica à superfície das barras da vela e desenvolver uma aplicação informática" que traduza de forma simples a informação recolhida.
O protótipo do projecto – que também foi feito em colaboração com outra empresa, a Fibersensing – foi testado em laboratório. O pedido provisório de patente está apresentado. Agora, é preciso experimentar num barco, em ambiente real. "Temos tido contacto de barcos que querem experimentar. Mas isso envolve custos, para eles e para nós", diz Pedro Pinto, que contabiliza 50 mil euros já investidos pelos sócios no projecto.
Se inicialmente o objectivo era "revolucionar" a afinação de velas e mastros, os dois sócios pensam agora no mercado de navios de carga. Acreditam que é possível aumentar a segurança se a deformação dos navios – provocada pela carga, por exemplo – puder ser controlada em tempo real.
Se tudo correr bem, "as futuras velas serão construídas com fibra óptica lá dentro" e "os navios equipados com este sistema", diz Pedro Pinto. Se correr mal "iremos encontrar outra tecnologia que funcione. Queremos dar uma solução ao mercado".