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Treat U: As chaves que podem salvar vidas

A Treat U surgiu a partir de um projeto de investigação desenvolvido em Coimbra e pretende reduzir os efeitos secundários da quimioterapia e aumentar a eficácia dos tratamentos.

21 de Maio de 2019 às 13:30
João Nuno Moreira é acionista e supervisor científico da empresa de Coimbra. Ricardo Almeida
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Surgiu de um projeto de investigação e foi constituída como empresa de biotecnologia em 2010, com a missão, bem definida, de ajudar a melhorar a vida das pessoas. A Treat U resultou de um "spin off" da Faculdade de Farmácia e do Centro de Neurociência e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, pela mão da investigadora Vera Moura e pelos seus dois orientadores, João Nuno Moreira e Sérgio Simões. É hoje uma empresa de biotecnologia que faz investigação para melhorar a eficácia terapêutica dos medicamentos oncológicos e reduzir o peso dos efeitos secundários.

"Verificámos que esta investigação tinha muito potencial e que merecia ser explorada", explica João Nuno Moreira, um dos três sócios fundadores, e supervisor científico. A empresa, gerida por Vera Moura e Sérgio Simões, tem hoje mais acionistas, fundamentais para continuar o forte plano de investimentos, como a Bluepharma e a Portugal Ventures. "Esta é uma empresa de investimento intensivo. Precisamos de investigar muito até conseguirmos ir para o mercado e obter receitas", explica João Nuno Moreira.

No arranque da empresa, Sérgio Simões e João Nuno Moreira muniram-se de um conjunto de resultados que consideraram consistentes, reconheceram a sua componente de inovação, e isso foi decisivo para o seu primeiro pedido de patente. "Hoje a tecnologia tem já várias patentes e cobrimos várias áreas,", refere João Nuno Moreira. Estas patentes permitiram a candidatura a vários financiamentos públicos.

O próximo objetivo da Treat U é testar em humanos e chegar à criação do medicamento injetável. 

Sedeada em Coimbra, a Treat U continua a investigar e a procurar dar resposta aos problemas do doente oncológico. "Há muitos tipos de cancro que ainda hoje são tratados com substâncias muito tóxicas e de baixa eficácia, por isso é urgente desenvolver tratamentos mais eficazes", explica o investigador.

A ideia do projeto foi usar estratégias que conseguissem colmatar estes problemas com um único tratamento. João Nuno Moreira conta que "usamos bolas de gordura onde colocamos compostos quimioterapêuticos, desenhadas para que o tratamento seja mais eficaz e que, ao mesmo tempo, diminua os efeitos secundários". Analogicamente, podemos dizer que conseguiu montar um GPS na bola de gordura para esta entrar numa célula, com uma chave que vai reconhecer uma determinada fechadura nas células tumorais. Encontrando a porta certa, entra e rebenta, libertando assim o fármaco.

A Treat U diz já ter conseguido provar que a tecnologia é segura e eficaz em mesoteliomas (tumores provocados pela exposição ao amianto), e a Agência Europeia do Medicamento bem como a norte-americana Food and Drugs Administration (FDA) concederam a esta tecnologia o estatuto de "medicamento órfão" destinado ao tratamento de tumores raros, como é o caso do mesotelioma. O próximo objetivo é transpor a investigação para o ser humano.

Tome nota

Um negócio para maratonistas 

Este não é um negócio para obter lucros imediatos. Trata-se de uma área de atividade de investimento intensivo que demora a ter resultados e receitas.

Montar o primeiro processo industrial
Uma das grande barreiras que a Treat U conseguiu ultrapassar foi implementar um processo industrial de preparação na nanopartícula. "Passámos de produzir uns mililitros em laboratório para produzir lotes de três litros, e este passo foi importante", afirma João Nuno Moreira. Este primeiro passo industrial foi subcontratado numa empresa que reunia as condições necessárias para concretizar a chamada transposição de escala (passar de uma produção ínfima para uma maior quantidade). Paralelamente a este avanço, a empresa conseguiu, entretanto, comprovar a eficácia terapêutica no mesotelioma.

Já três patentes internacionais
A primeira patente conseguida pela Treat U foi sobre a tecnologia propriamente dita. Incide sobretudo sobre a composição. Foi conseguida posteriormente uma segunda patente que cobre, para aquela composição, as diferentes "chaves mestras", que podem abrir a porta de uma célula tumoral. "Na prática, temos um peptídeo, que tem por base aminoácidos, e este interage com uma proteína, a tal chave, que existe à superfície da célula". A chave (um ligando de direcionamento) pode ser constituída por compostos de diversas naturezas, e é sobre isto que incide a patente. A terceira cobre a exploração daquela "fechadura, para que a porta seja aberta pelo nosso sistema", afirma João Nuno Moreira. 

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